O Líbano formou seu primeiro governo completo desde 2022 enquanto o país trabalha para reconstruir a região sul e garantir a segurança após os combates entre “Israel” e o Hesbolá.
O presidente Jospeh Aoun anunciou neste sábado (8) que havia aceitado a renúncia do antigo governo provisório e assinado um decreto convidando formalmente o novo primeiro-ministro, Nawaf Salam, para formar o governo. O novo governo libanês não terá um longo mandato pela frente, visto que as eleições estão marcadas para maio de 2026.
Salam, diplomata e é ex-presidente da Corte Internacional de Justiça, prometeu reformar o judiciário libanês, implementar reformas econômicas e trazer estabilidade ao país. Em uma coletiva no palácio presidencial, disse que o Líbano implementará a resolução 1701 da ONU, que pôs fim a uma guerra anterior entre o Hesbolá e “Israel” em 2006 e exige a retirada do Hesbolá e de outros atores armados não estatais da área ao Sul do Rio Litani, na fronteira com “Israel”.
“A reforma é a única maneira de alcançar a verdadeira salvação [para o Líbano]”, disse Salam durante a coletiva.
“Israel” ainda ocupa cerca de uma dúzia de cidades e vilarejos fronteiriços no lado leste do sul do Líbano. O prazo inicial para a retirada era 26 de janeiro, mas foi prorrogado até 18 de fevereiro depois que Tel Aviv se recusou a sair.
Os cargos de governo no Líbano são alocados com base nas afiliações sectárias, dividindo o governo entre as três religiões principais do país. O presidente deve ser um cristão maronita, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e o presidente do parlamento deve ser um muçulmano xiita.
Salam formou um novo gabinete de governo de 24 ministros, sendo cinco mulheres, menos de um mês depois de ter sido eleito.
O novo gabinete será responsável por elaborar uma declaração política – um rascunho sobre a abordagem e as prioridades do novo governo. Além disto, precisará passar por um crivo do parlamento libanês e receber de um voto de confiança para ser empossado com plenos poderes.
A formação do governo se dá após mais de três semanas de impasse político, especialmente na seleção dos ministros xiitas, tradicionalmente escolhidos pelo Hesbolá e seu aliado, o partido Amal.
Desde 2008, Hesbolá e Amal mantiveram um terço dos cargos do gabinete. Isto possibilitou que o grupo tivesse poder de veto em decisões e que dissolvesse o governo. De acordo com a mídia libanesa, Salam se recusou a atender as demandas do ala xiita.
Apesar de o Hesbolá não ter endossado Salam como primeiro-ministro, o grupo libanês entrou em negociações com ele sobre os assentos muçulmanos xiitas no governo, de acordo com o sistema sectário de compartilhamento de poder do Líbano.
O novo governo libanês marca um afastamento dos líderes próximos ao grupo de resistência. Beirute espera que ter acesso a fundos de reconstrução e investimentos após a devastadora guerra do ano passado com “Israel” e se recuperar de uma crise econômica debilitante que atinge o país desde 2019.
Este afastamento vem ao encontro da tentativa de aproximação do novo governo libanês com a Arábia Saudita e outras nações do Golfo mais próximas ao imperialismo. A redução do Hesbolá no governo apresenta-se como uma tentativa de desestabilização do grupo e do povo libanês perante os interesses imperialistas.
O Líbano vem lutando contra uma crise econômica intensa desde 2019, exacerbada pela explosão do porto de Beirute em 2020, na qual mais de 200 pessoas foram mortas e boa parte da cidade foi destruída. Somado pandemia e a agitação popular sobre alegações de corrupção no governo, a nação tem lutado para resolver uma série de problemas que prejudicaram sua economia.
O anúncio do novo gabinete se deu um dia depois que a vice-enviada dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Morgan Ortagus, insistir que o Hesbolá fosse excluído do novo gabinete. Em sua visita ao Líbano, Ortagus agradeceu a “Israel” por ter deferido um grande ataque ao Hesbolá.
A embaixada norte-americana no Líbano publicou uma declaração no sábado (8) dando boas-vindas ao novo governo e dizendo que esperava que ele implementasse reformas e reconstruísse as instituições estatais.
A coordenadora especial da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, também saudou o anúncio dizendo que o fim do impasse político “anuncia um capítulo novo e mais brilhante para o Líbano”.