Na próxima sexta-feira (18), a Universidade Marxista retoma o curso Brasil: 500 anos de história – Uma Interpretação Marxista, com o segundo módulo, O Império Tropical, que será realizado até a segunda-feira (21) no Centro Cultural Benjamin Péret, na Rua Conselheiro Crispiniano, 73, República, São Paulo. As aulas, ministradas pelo presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, também terão transmissão ao vivo e gravações disponíveis na plataforma Universidade Marxista, onde é possível se inscrever.
A primeira parte do curso, interrompida em 2023, cobriu desde a colonização até o Primeiro Reinado e o Período Regencial, oferecendo uma análise marxista inédita da formação nacional. Para preparar os interessados no novo módulo, esta matéria recapitula os pontos centrais abordados, destacando a consolidação do Brasil como nação colossal apesar de crises intensas.
Iniciado em 2022 em homenagem aos 200 anos da Independência, o curso surpreendeu pela riqueza de informações, levando à ampliação da carga horária do segundo módulo. A primeira parte, concluída no mesmo ano, analisou o período colonial e os eventos que culminaram na Independência do Brasil, em 1822, enfatizando as forças econômicas e sociais que atuaram nesse momento histórico.
O presidente do PCO destacou que a Independência foi muito mais do que uma simples ruptura com Portugal, sendo, em sua avaliação, “um processo complexo de constituição da nação brasileira”. O Brasil, então, era fragmentado: o Sudeste, com a economia do café, tornava-se o centro político; o Nordeste sofria com a decadência do açúcar; o Sul baseava-se na pecuária e o Norte vivia do extrativismo. Essas diferenças geravam tensões que ameaçavam a unidade do País.
O Primeiro Reinado (1822-1831), liderado pelo imperador Dom Pedro I, foi marcado por esforços para consolidar o Estado nacional. Pimenta explicou: “surge uma nação que, na realidade, do ponto de vista administrativo, político e econômico, não era real, não existia”. A vinda da família real em 1808 fortaleceu o Rio de Janeiro, mas a Guerra da Cisplatina (1825-1828) contra a Argentina esgotou o Tesouro.
Mediado pela Inglaterra, o conflito resultou na independência do Uruguai, porém arruinou a economia brasileira, gerando inflação e instabilidade. Dom Pedro I, liberal em um cenário internacional reacionário após a derrota de Napoleão em 1814, enfrentou resistências internas. Ele abdicou em 1831, deixando o trono para seu filho, Dom Pedro II, de apenas cinco anos, e voltou a Portugal, onde derrotou o absolutismo de seu irmão Dom Miguel em 1834.
O Período Regencial (1831-1840), abordado no curso como um momento de crises constantes, testou a unidade nacional. Com Dom Pedro II menor de idade, o Brasil foi governado por regentes em um sistema parlamentarista, próximo de uma República. Sobre essa etapa, Pimenta destacou: “O Sudeste era a força centrípeta que disputava com as demais regiões, que exerciam uma força centrifuga”, diz, acrescentando: “tendia à desunificação do País”.
Rebeliões eclodiram por todo o território, como a Cabanada (1832-1835, Pernambuco), a Revolta dos Malês (1835, Bahia), a Cabanagem (1835-1840, Pará), a Sabinada (1837-1838, Bahia) e a Balaiada (1838-1841, Maranhão). A mais duradoura foi a Guerra dos Farrapos (1835-1845), no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que matou mais de três mil pessoas. Apesar da derrota, apoiada pela Argentina, o conflito fortaleceu a coesão nacional.
Essas crises, longe de serem apenas episódios de menor relevância, como a historiografia tradicional sugere, foram testes de fogo para a jovem nação. O Brasil, ao contrário dos países da América Espanhola, que se fragmentaram, manteve seu território continental de 8,5 milhões de km² praticamente intacto, exceto pela Cisplatina (atual Uruguai). Pimenta comparou:
“Na África, não houve um polo de unificação, nos países árabes, também não. É preciso ter uma força econômica que forma a classe social dominante”.
O sudeste, com a economia cafeeira em desenvolvimento, foi esse polo, unindo o País apesar das forças regionais. O Golpe da Maioridade, em 1841, coroou Dom Pedro II aos 14 anos, encerrando o período regencial e estabilizando o governo, embora novos desafios, como a Guerra do Paraguai, testassem a soberania no Segundo Reinado, que serão estudados no novo curso, marcado para o próximo dia 18.
Ainda, o curso também abordou o pensamento político da época, entre eles, o liberalismo. Pimenta esclareceu: “a burguesia não defende a democracia, defende o liberalismo. Este é um conjunto de conceitos e instituições cujo objetivo não é dar todo o poder para o povo, é, pelo contrário, evitar que o povo use esse poder”. Ele explicou que Dom Pedro I, apesar de príncipe, era progressista para sua época, mas o liberalismo limitava a soberania popular, diferentemente do jacobinismo.
Os alunos do curso que acompanharam essa primeira parte, elogiaram a abordagem marxista. O professor Felipe Rodrigues declarou: “é sempre uma perspectiva interessante que o Rui traz para a gente, que é muito difícil de você ver em outros lugares, que é a perspectiva marxista”. O estudante Calebe Henrique, de Sorocaba, apreciou “estudar a história do Brasil por meio de um critério rigoroso, científico, ao contrário da direita tradicional e da esquerda identitária”. Já o carioca Eduardo Lopes elogiou “o método que usa as forças materiais, em vez da ideologia, como base para a análise. O companheiro Rui desenvolveu bastante isso na primeira aula”.
Abordando agora o Segundo Reinado até a proclamação da República em 1889, o curso que se inicia nessa sexta-feira é fundamental para quem precisa conhecer a história brasileira de um ponto de vista materialista, para assim compreender melhor esse complexo empreendimento político chamado Brasil, e assim, intervir na luta política que aqui se trava. Se você ainda não está inscrito, inscreva-se já!