O Brasil 247 publicou um artigo de Ronaldo Lima Lins exaltando o julgamento dos réus do 8 de janeiro como a “maior prova de maturidade democrática” desde o fim da ditadura. Nada poderia ser mais falso. O que o autor chama de “maturidade” não passa da consolidação de uma ditadura de toga, encabeçada por Alexandre de Moraes.
O artigo constrói uma metáfora infantilizante: o Brasil que cresce, amadurece e finalmente aprende a punir seus “culpados”. Mas o que se chama aqui de amadurecimento é, na realidade, o endurecimento da repressão estatal. O processo não tem nada de democrático: prisões preventivas sem fim, inquéritos secretos, delações premiadas arrancadas sob chantagem, condenações já decididas antes mesmo da defesa. O “julgamento do século” é apenas o espetáculo do arbítrio travestido de solenidade.
O autor aplaude a “seriedade” das Cortes em punir exemplarmente os acusados, como se estivéssemos diante de criminosos comuns. O que há, na verdade, é perseguição política aberta. Transformar uma manifestação em “intentona golpista” e aplicar penas draconianas não é defender a democracia, é instaurar o terror jurídico. A ditadura de toga precisa da farsa do “julgamento do século” para legitimar seu próprio poder.
Ao contrário do que o texto sugere, não estamos diante da ruptura com o passado autoritário, mas sim da sua continuidade. O regime militar de 64 usava tanques e tortura física; o STF de hoje usa tornozeleira eletrônica, censura e delação premiada. Ambos têm o mesmo objetivo: esmagar adversários políticos e manter o regime de exploração em pé.
O articulista fala em “certidões de dignidade” e celebra que “ditadores já não se criam neste lado do mundo”. Mas o que se cria, com o beneplácito da imprensa pequeno-burguesa, é uma nova forma de ditadura, mais perigosa porque vem disfarçada de “democracia”. Enquanto se exaltam julgamentos espetaculares, os trabalhadores continuam sem direitos, perseguidos quando se organizam, censurados quando protestam.
A tentativa de transformar a repressão em espetáculo de “maturidade democrática” é uma fraude. O que está em curso não é o fortalecimento da “democracia”, mas a consolidação de um regime de arbítrio judicial que ameaça todo o povo. O verdadeiro julgamento do século não é o que Moraes preside contra alguns réus: é o que a classe trabalhadora ainda fará contra a ditadura de toga, contra o imperialismo e contra o regime que vive de atacar as liberdades democráticas.




