Palestina

Jornal ‘de esquerda’ compra ideias do imperialismo sobre ‘Israel’

The Militant, jornal norte-americano do SWP, partido que já foi trotskista, ataca cessar-fogo e diz que "Israel" surgiu para proteger os judeus

O jornal americano The Militant, pertencente ao conhecido partido que já foi trotskista, Socialist Workers Party (SWP), publicou no dia 17 de fevereiro mais uma matéria contra a Resistência Palestina e a favor do genocídio israelense na Faixa de Gaza.

A matéria, intitulada Defeat of Hamas is key to road forward in Mideast (“A derrota do Hamas é fundamental para o avanço no Médio Oriente”, em tradução livre), não passa de uma cópia malfeita da propaganda imperialista sobre o Hamas e toda a Resistência Palestina e do Oriente Médio. Os argumentos são os de sempre: que o ocorrido em 7 de outubro de 2023 teria sido um pogrom contra judeus promovido pelo Hamas, que, segundo o SWP, seria apenas um grupo dedicado a matar judeus sem motivo aparente.

Trata-se de uma completa incompreensão do problema do imperialismo, que sustenta “Israel”, da luta de libertação nacional dos povos oprimidos e até mesmo do que aconteceu durante o Holocausto na Segunda Guerra Mundial. Para não falar da incompreensão do que seja uma revolução, como a que ocorre na Palestina — algo impensável para um partido que já teve contato direto com Trótski.

Segundo o texto, o cessar-fogo seria um empecilho para que “Israel” cumprisse seu objetivo principal: criar um “lugar seguro” para que os judeus pudessem viver em paz. Só essa afirmação já bastaria para desmascarar a posição do SWP. O partido realmente acredita que o imperialismo, junto da União Soviética de Stálin, criou “Israel” para proteger os judeus. Não seria necessário nem mesmo ser trotskista para perceber a falsidade dessa tese.

A própria crítica ao cessar-fogo leva The Militant a uma colocação completamente fascista, ao defender que o bombardeio indiscriminado contra civis deve continuar até que os objetivos de “Israel” sejam cumpridos. É a mesma posição do imperialismo.

O problema central é que o SWP e seu jornal não observam os fatos históricos para tirar conclusões sobre a luta política. O grupo ignora completamente que “Israel” foi criado pelo imperialismo e chega ao absurdo de dizer que o fim do Estado sionista ocorreria caso “Israel” se aliasse a Trump, o novo representante do imperialismo norte-americano.

Fica a dúvida: onde estava o SWP nos últimos anos e durante o genocídio? Porque não só o apoio, mas a organização de todo o massacre por parte dos Estados Unidos de Biden foi evidente. Bastaria assistir à coletiva de imprensa de Blinken no final de mandato, com a expulsão de jornalistas que o questionaram sobre o genocídio.

A matéria chega a afirmar que Trump forçou Netaniahu a fechar um acordo com o Hamas, ao mesmo tempo que teria liberado armas que Biden havia impedido de chegar a “Israel” como compensação. É possível que tenha sido assim, no que diz respeito ao envio de armas, mas o SWP ignora completamente as informações vindas do próprio regime israelense, que indicam a destruição de seu exército pela Resistência Palestina. As armas podem chegar, mas faltam mãos para operá-las.

Além disso, o SWP continua a repetir notícias falsas plantadas pelo sionismo ainda em outubro de 2023, como a de que o Hamas teria assassinado 1.200 pessoas, mesmo com os números oficiais de mortos em 7 de outubro e nos dias seguintes tendo sido reduzidos drasticamente. Recentemente, Yoav Gallant, ex-ministro da Defesa de “Israel”, confirmou o que muitos já haviam noticiado: que “Israel” matou deliberadamente sua própria população no dia 7 de outubro, utilizando o chamado “Protocolo Aníbal”. Segundo essa diretriz, “Israel” prefere assassinar seus próprios cidadãos a permitir que sejam capturados, já que isso daria aos palestinos uma moeda de troca para libertação de seus prisioneiros nos cárceres israelenses.

No que diz respeito aos reféns israelenses, a matéria de The Militant ignora o que eles próprios têm relatado sobre seu período como cativos: que foram bem tratados e que seu maior medo era o de serem bombardeados por “Israel” junto da população palestina. O jornal também omite o tratamento dado aos prisioneiros palestinos, que saem das prisões israelenses cadavéricos, enquanto os israelenses são libertados em boas condições.

Como se não bastasse, a matéria calunia os palestinos, afirmando que os libertados recentemente eram acusados ou condenados por assassinato de judeus, o que é uma mentira. Para The Militant, os palestinos teriam um ódio irracional contra os judeus e, por isso, mereceriam o tratamento nazista que lhes é dado. Não há outra maneira de interpretar a posição do SWP senão como um alinhamento completo com o imperialismo, e não em sua forma pseudodemocrática, mas com sua face abertamente fascista.

A matéria chega ao ponto de criar uma situação completamente surreal para sustentar a tese de que a ideologia do Hamas seria antissemita — ignorando o fato de que o Hamas é um partido árabe, ou seja, semita. A conclusão absurda da matéria é que o Hamas impõe uma ditadura contra os palestinos com o único objetivo de, através dela, assassinar judeus em “Israel”. Mas por que alguém faria isso?

Por que milhares de pessoas sacrificariam a própria vida para simplesmente assassinar judeus? O SWP se diz marxista, portanto, deveria se guiar pelos interesses das classes sociais. Qual seria o interesse de uma classe social, ou de um conjunto de classes sociais, em um país extremamente pobre, em simplesmente matar outro grupo de pessoas aleatoriamente? Pior ainda, acreditam que a resistência palestina tomaria o poder para, então, invadir “Israel” — como se os sionistas fossem os donos legítimos da terra que ocupam — e assassinar judeus de graça.

Mesmo que fosse verdade que o Hamas nutre ódio pelos judeus — o que não é o caso —, não seria uma reação completamente sem sentido. Afinal, quem tomou as terras dos palestinos? Quem impôs um regime de apartheid? Quem assassina indiscriminadamente palestinos com bombas de última geração? Quem realizou a Nakba? Quem promoveu os massacres de Sabra e Chatila? Quem transformou a Palestina em um arquipélago de territórios desconectados? Quem impõe um bloqueio total à Faixa de Gaza desde 2006? Todos esses crimes foram cometidos por um regime que se apresenta como “judeu”.

No entanto, o Hamas e o restante da Resistência Palestina não odeiam os judeus. E nem os judeus, de forma geral, odeiam a Resistência. Pelo contrário, foram inúmeras as manifestações de judeus — principalmente nos EUA, país do SWP — contra o genocídio israelense. Caso o SWP resolvesse ouvir esses judeus, veria que muitos deles acreditam que a pior coisa que poderia acontecer aos judeus é a existência de “Israel”, pois o Estado de ocupação da Palestina pode, sim, gerar ressentimento contra os judeus em geral, devido aos crimes cometidos em seu nome.

Por fim, a matéria chega ao cúmulo de afirmar que o fim de “Israel” seria uma derrota para os trabalhadores do mundo todo. Ou seja, defendem que um Estado sustentado pelo imperialismo protegeria os trabalhadores.

Como explicam, então, que o fim de um Estado que treina polícias de todo o mundo em métodos de tortura, espionagem e repressão de manifestações — incluindo o famoso tiro de bala de borracha nos olhos de manifestantes — seria uma “derrota” para os trabalhadores? Como justificam que um Estado que influencia diretamente a política e o judiciário de países como o Brasil, via Mossad, seja um aliado dos trabalhadores?

O SWP, com sua guinada pró-imperialista, não apenas traiu sua história, mas demonstra um compromisso total com as posições mais reacionárias possíveis.

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