Ahmad Paxá al-Jazar, mais conhecido como Jazzar Pasha, foi um dos governadores mais temidos e influentes do Império Otomano no final do século XVIII e início do século XIX. Nascido por volta de 1720-1730 na Bósnia, ele começou sua vida como mercenário antes de ascender a um dos postos mais poderosos do Levante. Seu nome, al-Jazzar, que significa “o Açougueiro”, reflete a reputação brutal que construiu ao longo de sua carreira.
Jazar Pasha iniciou sua trajetória militar servindo no Egito sob o comando do governador otomano Ali Bei al-Cabir. Durante esse período, ele aprendeu táticas de guerra e administração, mas também se envolveu em conspirações e traições, comuns na política otomana da época. Eventualmente, devido a desavenças políticas e temendo por sua vida, ele fugiu para Damasco e, posteriormente, para Acre.
Em Acre, ele se estabeleceu como um líder implacável, tornando-se governador da província otomana de Sidon em 1775. Esse cargo lhe dava controle sobre uma vasta região que incluía partes do atual Líbano, Síria, além da Palestina. Durante seu governo, Jazzar Pasha eliminou rivais políticos, fortaleceu sua posição e governou com total independência do poder central otomano, desafiando até mesmo o sultão em algumas ocasiões.
Jazar Paxá é lembrado por sua brutalidade. Ele frequentemente torturava e executava opositores, suspeitos de traição e até aliados que despertavam sua desconfiança. Mas ele também é lembrado por ter levado progresso à Palestina. Ele conseguiu manter a ordem e garantir a estabilidade da região, ao mesmo tempo em que promovia o comércio e fortalecia Acre como um centro comercial e militar.
Um de seus conselheiros mais próximos era um escravo convertido ao Islã chamado Sulaiman Pasha, que mais tarde se tornaria seu sucessor. Além disso, Jazar cercava-se de assessores europeus e especialistas militares, o que o ajudou a modernizar suas forças armadas e a fortalecer suas fortificações.
Ele incentivou o comércio, construiu estradas, fortaleceu fortificações e promoveu o desenvolvimento urbano em Acre. Um de seus legados mais duradouros é a Mesquita de Jazar Paxá, um magnífico exemplo da arquitetura otomana, que ainda hoje é um dos marcos históricos mais importantes de Acre.
Ele também manteve uma política de equilíbrio entre as diversas comunidades religiosas da região, garantindo proteção para muçulmanos, cristãos e judeus, desde que se submetessem à sua autoridade. Seu domínio garantiu estabilidade em uma região frequentemente marcada por conflitos internos.
O episódio mais famoso de sua vida foi a defesa da cidade de Acre contra Napoleão Bonaparte em 1799. Durante sua campanha no Egito e na Síria, Napoleão pretendia conquistar Acre para consolidar seu domínio na região. No entanto, ele encontrou uma resistência inesperadamente feroz.
Jazar Paxá, com a ajuda do engenheiro militar francês Antoine de Phélippeaux (um inimigo de Napoleão), reforçou as defesas da cidade. O almirante britânico William Sidney Smith também ofereceu apoio naval, bloqueando os suprimentos franceses e bombardeando suas forças.
O cerco de Acre durou mais de dois meses, e as tropas francesas sofreram grandes baixas devido a surtos de doenças e à resistência obstinada dos defensores da cidade. Napoleão foi forçado a recuar para o Egito, sofrendo uma de suas primeiras derrotas significativas. A vitória de Jazar Paxá foi um marco importante na resistência contra a expansão francesa no Oriente Médio.
Nos últimos anos de sua vida, Jazzar Pasha começou a perder o controle total sobre sua província devido ao envelhecimento e a problemas internos. Embora ainda mantivesse uma autoridade forte, a pressão do Império Otomano e de potências locais começou a aumentar.
Ele morreu em 1804, deixando um legado de temor e respeito. Seu sucessor, Suleiman Paxá, tentou manter seu estilo de governo, mas a influência de Acre começou a declinar após sua morte. Algumas décadas depois, Muhamad Ali do Egito conquistou a região, reduzindo ainda mais a influência otomana.