Terminou, no último dia 18, o prazo prorrogado para que as forças de ocupação de “Israel” deixassem o Líbano, conforme os termos do acordo de cessar-fogo entre o governo sionista e o partido revolucionário libanês Hesbolá, firmado em 27 de novembro. Inicialmente, a retirada das tropas estava prevista 27 de janeiro, mas o prazo foi prorrogado após concessão dos libaneses. A situação, porém, se encaminha para uma retomada das agressões devido à decisão da ditadura sionista, que não se retirou completamente do território libanês, como acordado.
“Com base na situação atual, deixaremos pequenas quantidades de tropas posicionadas temporariamente em cinco pontos estratégicos ao longo da fronteira com o Líbano para que possamos continuar a defender nossos residentes e garantir que não haja ameaça imediata”, antecipou o porta-voz militar israelense tenente-coronel Nadav Shoshani a jornalistas na segunda-feira (17).
Apesar de o cessar-fogo ter entrado em vigor em novembro, “Israel” continuou realizando ataques aéreos e bombardeios contra casas em vilarejos da fronteira, matando mais de 60 pessoas. Cerca de 24 pessoas foram mortas em 26 de janeiro – o prazo inicial do cessar-fogo – enquanto tentavam retornar às suas cidades.
Conforme o sítio libanês al-Akhbar, até o dia 18, as forças de ocupação já estavam deixando cidades como Yaroun, Maroun al-Ras e Bledaa, mas mantiveram posições em cinco localidades. Segundo Al Akbar, fontes israelenses confirmaram que essas áreas não possuem valor militar ou de segurança vital, mas sim simbólico. “A presença do Exército israelense neles oferece segurança aos habitantes dos assentamentos do norte para que retornem a partir de março próximo”, disseram os oficiais.
A permanência de “Israel” nessas áreas não é só uma violação do cessar-fogo, mas também uma política arriscada, como bem destacou o correspondente militar Avi Ashkenazi, do jornal israelense Maariv. Em sua análise, Ashkenazi alertou para o fato de que a presença prolongada de forças israelenses no Líbano pode ser um grande erro, comparável às falhas militares do passado. “’Israel’ está a caminho de se afundar novamente no pântano libanês, após 25 anos de tentativas de se salvar dessa situação”, afirmou o jornalista.
Ashkenazi fez referência aos inúmeros incidentes históricos, como o desastre de Safari, onde 12 soldados israelenses foram mortos por uma emboscada, como exemplo de como essas áreas podem se tornar armadilhas mortais para os soldados. Em outras palavras, a presença militar prolongada em áreas como essas, onde o Hesbolá tem uma forte presença, é mais um convite ao desastre do que uma solução de segurança.
O Líbano, por meio de sua presidência e do Exército libanês, expressou claramente que a ocupação israelense das cinco localidades não será tolerada. O presidente Joseph Aoun se reuniu com a comissão internacional para discutir as medidas a serem tomadas para garantir a retirada completa de “Israel” do território libanês.
Durante o encontro, Aoun ressaltou que o Líbano cumpriu com suas obrigações no cessar-fogo, mas que a permanência israelense em território libanês “é inaceitável”. Ele foi enfático ao afirmar que a resposta libanesa à violação será dada de forma unificada e mediante meios diplomáticos, embora tenha alertado para a possibilidade de que a resistência militar do Hesbolá possa retomar suas operações caso a violação se perpetue.
Por outro lado, fontes israelenses já anteciparam o medo crescente entre os colonos que habitam os assentamentos ao norte da fronteira, com muitos temendo o retorno das forças libanesas e a eventual recuperação do território perdido. O presidente do Conselho da colônia de Mottala, David Azoulay, não hesitou em chamar o acordo de cessar-fogo de “catastrófico”, acreditando que a retirada israelense daria uma “vitória ao Hesbolá”, permitindo que seus militantes retornassem às cidades libanesas que haviam sido abandonadas pelos moradores durante os ataques. Azoulay expressou preocupação com a retomada das atividades de reconstrução e com a possível expansão da influência do Hesbolá na região.
Enquanto as forças israelenses seguem em sua retirada parcial, a situação humanitária no sul do Líbano continua a ser grave. Muitas cidades, como Mays al-Jabal, Hula e Markaba, continuam sem condições para o retorno de seus habitantes. Barricadas de terra e minas colocadas pelo Exército israelense tornam o processo de reconstrução e a normalização da vida nessas áreas um desafio imenso. De acordo com fontes locais, a Prefeitura de Kafr Kila pediu aos moradores que aguardassem mais tempo antes de retornarem à cidade, devido aos perigos ainda presentes nas ruas.
A destruição em larga escala das infraestruturas vitais, como moradias, estradas, e instalações de saúde, é um reflexo da brutalidade da ofensiva israelense, que não hesitou em destruir tudo o que encontrava pela frente. Ações como essas, além de violar o direito internacional, tornam ainda mais difícil a vida para os civis libaneses, que não apenas enfrentam a ameaça de ataques, mas agora também lidam com a falta de recursos essenciais para uma recuperação rápida.