Política internacional

Irã anuncia que dará ‘chance genuína’ para negociação

Último mês foi marcado por sequência de ameaças de bombardeios dos EUA, mas a principal exigência era a abertura de negociações

Nesta sexta-feira (11), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Esmaeil Baqaei, afirmou em seu perfil da rede social X, que o Irã está dando uma “chance genuína” de negociação. A declaração ocorreu durante um processo de intensa pressão do governo de Donald Trump para estabelecer negociações e um acordo sobre política nuclear com o Irã.

“Os EUA deveriam valorizar essa decisão tomada apesar do rebuliço de confronto que prevalece”, escreveu Baqaei em seu perfil no X. “Não prejulgamos… Não prevemos… Pretendemos avaliar a intenção do outro lado e resolver isso neste sábado”, acrescentou o porta-voz iraniano. A publicação ocorreu um dias antes das aguardadas negociações em Omã, sobre o programa nuclear iraniano, com representantes dos governos dos Estados Unidos da América (EUA) e do Irã.

No dia 6 de março, Trump declarou ter enviado uma carta endereçada ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Na correspondência, expressou seu desejo por negociar um acordo nuclear com o Irã.

“Eu disse: espero que vocês negociem, porque será muito melhor para o Irã”, declarou Trump em entrevista à Fox Business Network transmitida no dia 7 de março. “Eles querem receber essa carta. A alternativa é que temos que fazer alguma coisa, porque não podemos permitir outra arma nuclear”, afirmou Trump.

Segundo a agência de comunicação estatal iraniana, as negociações serão encabeçadas pelo Ministro das Relações Exteriores Abbas Araqchi e pelo enviado especial dos EUA Steve Witkoff, tendo como intermediário o Ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr al-Busaidi.

Um ponto de discordância inicial seria quanto a modalidade da reunião, se direta ou indireta. O Irã declara que as negociações em Omã serão indiretas, enquanto os EUA afirmam que serão diretas.

Negociações indiretas entre Irã e EUA ocorreriam com as partes em salas distintas se comunicando mediante diplomatas omanenses. Enquanto reuniões diretas ocorreriam com os representantes na mesma sala em comunicação direta, um risco considerável a estes.

Khamenei há muito proibiu pública e reiteradamente qualquer tipo de interação com Washington, classificando-as como imprudentes e idiotas, uma medida acertada, tendo em vista o assassinato do general Qassem Soleimani pelo próprio presidente Trump. Nesse caso específico, porém, ele autorizou negociações, primeiro indiretas, mediante intermediário, e depois, se as coisas corressem bem, diretas entre negociadores americanos e iranianos.

Segundo o jornal norte-americano The New York Times, com base em uma fonte do alto escalão do governo iraniano, a mudança de orientação teria ocorrido em uma reunião no mês passado com o presidente do país, os chefes do Judiciário e do Parlamento, e o aiatolá Khamenei.

O Irã enfrenta uma destruição econômica promovida pelo imperialismo, com desvalorização da moeda e escassez de recursos como gás, eletricidade e água. Conflitos abertos com EUA e “Israel” acarretaria significativo desgaste do país, podendo desencadear distúrbios internos, incluindo protestos e greves, pondo em risco a continuidade do regime revolucionário.

O momento, porém, é de grande polarização no Oriente Médio. A região passa pelo enfraquecimento de “Israel” e o fortalecimento do Eixo da Resistência, rede de alianças políticas que inclue os partidos revolucionários como o palestino Hamas, o libanês Hesbolá e o Ansar Alá no Iêmen. A possibilidade de evolução do programa nuclear iraniano para produção de armas colocaria em xeque a existência do enclave sionista.

Nas palavras de Trump: “Não estou pedindo muito, eles não podem ter uma arma nuclear”. Acrescentando: “Quero que eles prosperem. Quero que o Irã seja grandioso.”

Segundo a agência de notícias iraniana ISNA, o vice-ministro das Relações Exteriores iraniano Majid Takht-e Ravanchi declarou: “sem ameaças e intimidações do lado americano, há uma boa possibilidade de se chegar a um acordo.” “Rejeitamos qualquer intimidação e coerção.” Acrescentou Ravanchi.

Já para o diretor do Crisis Group Ali Vaez, essa seria uma oportunidade única para um acordo duradouro entre os EUA e Irã: “o tempo é muito curto, os riscos são muito altos e as questões são muito complicadas para que a diplomacia tenha chance sem que os dois principais protagonistas conversem um com o outro”.

Finalmente, o último mês foi marcado pela sequência de ameaças de bombardeios dos EUA, mas a principal exigência das ameaças era de abertura de negociações acerca do programa nuclear iraniano. Em outras palavras, o que os EUA buscam a todo custo é evitar que o Irã, potência no Oriente Médio, domine essa tecnologia bélica, desequilibrando ainda mais a correlação de poder na região.

O enclave imperialista já sofre perante a supremacia demográfica da população local, tendo a tecnologia bélica como principal trunfo. Já se encontra, porém, desmoralizado pela ação da resistência árabe armada. Se um Estado alinhado com a resistência tivesse acesso efetivamente a tecnologia bélica nuclear, isso penderia ainda mais a balança contra o imperialismo e seus lacaios.

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