Revolução iraniana

Irã: 46 anos da maior revolução operária do Oriente Médio

Em fevereiro de 1979, a classe operária do Irã alcançou um dos feitos mais espetaculares do século XX: derrubou a ditadura imposta pela CIA e fez a Revolução Islâmica ser vitoriosa

Em 11 de fevereiro de 1979, há 46 anos, a classe operária do Irã derrubou a ditadura fascista do rei (Xá) Reza Pahlevi, imposta por um golpe de Estado orquestrado pela CIA em 1953. Após meses de gigantesca mobilização operária, ainda em 1978, o novo ano começou com a desintegração do regime político. O Xá fugiu do país em meados de janeiro, no dia 1º de fevereiro, o aiatolá Khomeini, líder exilado da revolução, voltou ao país. No dia 11, os operários armados sob a liderança do aiatolá tomaram prédios do governo, estações de rádio e TV, os correios e os palácios da dinastia Pahlavi. A Revolução Islâmica venceu o imperialismo.

O evento é muito mal compreendido por grande parte da esquerda internacional, que não compreende o nacionalismo dos aiatolás xiitas que tomaram o poder com a revolução. Essa história, no entanto, não deveria ser nada complexa, sendo, inclusive, muito semelhante à do Brasil.

O golpe de Estado de 1953, assim como o de 1964 no Brasil, não acabou completamente com a indústria nacional, o capitalismo ainda não havia entrado em sua etapa neoliberal. Com isso, milhões de operários se concentraram em Teerã ao longo dos anos, assim como aconteceu em São Paulo.

A crise do capitalismo de 1974, que deu origem ao movimento grevista de São Paulo que acabou derrubando a ditadura militar, também deu origem ao ascenso operário do Irã. Mas a classe operária persa realizou a maior mobilização popular no mundo na segunda metade do século XX, e a burguesia iraniana foi incapaz de manobrar a crise, ao contrário da burguesia brasileira.

A ditadura do Xá perdeu totalmente o controle do país. Os antigos nacionalistas e o Partido Comunista Iraniano foram totalmente incapazes de acompanhar as massas. O único setor realmente revolucionário foram os aiatolás xiitas, que haviam sofrido intensamente com a repressão do Xá.

As mobilizações começaram ainda em janeiro de 1978 com os estudantes, Reza Pahlevi tentou reprimi-los, o que incendiou completamente o país. Entre janeiro e dezembro, o país foi tomado por uma gigantesca mobilização popular que culminou em toda a classe operária em greve, tomando as fábricas e se armando sob a orientação dos aiatolás.

Em dezembro, a maior manifestação da revolução desfilou sobre Teerã. O jornalista do New York Times descreveu que “a mensagem era alta e clara: ‘o governo não tem poder de preservar a lei e a ordem por si só. Ele só pode fazê-lo ficando de lado e deixando que os líderes religiosos assumam’. De certa forma, a oposição já demonstrou que já existe um governo alternativo”. Outro jornalista afirmou: “uma onda gigante de homens atravessou a capital declarando mais alto que qualquer bala ou bomba: fora o Xá!”.

Em janeiro, a revolução era incontrolável. O Xá, aterrorizado, fugiu para a Europa, o país ficou sem governo. Os xiitas que estavam presentes começaram a ampliar sua campanha entre as forças armadas para impedir que os generais tentassem esmagar a revolução. Quando ficou claro que os militares também estavam derrotados, o aiatolá Khomeini, grande líder da revolução no exílio, voltou ao país. Em menos de 10 dias, ele havia se tornado o líder supremo do Irã, entrou no panteão dos maiores revolucionários da segunda metade do século, junto a Fidel Castro e Ho Chi Minh.

A República Islâmica liberta o Oriente Médio

Uma revolução operária dessa proporção, mesmo que não se torne uma revolução socialista e acabe com a burguesia, é um evento de impactos políticos internacionais gigantescos. O imperialismo começou a perder o controle do Oriente Médio em 11 de fevereiro de 1979. O Irã era o seu mais importante lacaio, era o maior produtor de petróleo do mundo, o mais importante país de se controlar, o mais perigoso dos países da região. A aiatolá Khomeni imediatamente iniciou a campanha contra o grande Satã, os EUA, em todo o país.

A polícia secreta, uma sucursal da CIA e do MI-6, foi completamente aniquilada. A Guarda Revolucionária Islâmica foi criada para combater a contra revolução. Os principais setores da economia foram estatizados e colocados a serviço da industrialização do país. O impulso revolucionário era gigantesco e o imperialismo precisava freá-lo. Assim, lançou o Iraque de Sadam Hussein contra o Irã em uma guerra brutal.

Os iranianos venceram Sadam, apoiado por todo o imperialismo, após nove anos de guerra. 1988, portanto, é um ano de gigantesca derrota do imperialismo. A revolução, que foi derrotada em Portugal, na Nicarágua, em El Salvador e na Polônia, foi vitoriosa no Irã. É a única revolução do ciclo de 1974 que foi capaz de derrotar o imperialismo, um feito gigantesco. Khomeini, já com 86 anos, faleceu e deu lugar ao seu seguidor, outro aiatolá revolucionário, Al Khamenei.

Desde então, o Irã se manteve como o pilar da revolução no Oriente Médio. Ele foi a força que auxiliou o Hesbolá a impor a primeira humilhante derrota ao Estado de “Israel” no ano 2000, e novamente em 2006. Desde o princípio da revolução, o Irã também apoiou a luta do povo palestino, ainda sob a direção do Fatá de Iasser Arafat.

A partir de 2008, quando o imperialismo entrou em uma nova etapa de crise, o Irã, passados 20 anos da guerra, criou um dos fenômenos mais revolucionários da atualidade: o Eixo da Resistência. Com a guerra na Síria, a partir de 2011, o lendário General Soleimani, que havia lutado em sua juventude na guerra com o Iraque, formou uma aliança militar com todas as guerrilhas dos países do Oriente Médio. Hesbolá, Ansar Alá do Iêmen, Forças de Mobilização Popular do Iraque, Hamas e toda a resistência Palestina e até o governo de Bashar al-Assad, na Síria.

No momento de grande fraqueza do imperialismo no Oriente Médio, a República Islâmica do Irã estava presente para unificar todos que lutam e golpeiam o opressor de toda a humanidade. A obra de mestre do Eixo foi a guerra de libertação nacional da Palestina após a operação do Hamas, o Dilúvio de al-Aqsa. Uma organização palestina lançou uma operação militar, entretanto, todo o Eixo da Resistência entrou na guerra, “Israel” foi obrigado a lutar em sete frentes. É uma verdadeira organização revolucionária internacional, fruto da luta da classe operária iraniana.

Os iranianos todos os anos comemoram a Revolução Islâmica no início de fevereiro, comemoram a gigantesca conquista que os trabalhadores iranianos obtiveram em 1979. Mas a classe operária não está limitada apenas ao Irã, ela, tal qual seu inimigo mortal, o imperialismo, é internacional.

O dia 11 de fevereiro é um dia de festa para todos os oprimidos. É o dia de uma das maiores derrotas do imperialismo no século XXI, que alçou o Irã ao nível de Cuba e do Vietnã, o panteão das nações que ousaram lutar por sua libertação, e venceram.

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