Nesta sexta-feira (15), Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, se reuniram no Alasca, para tratar sobre a Guerra na Ucrânia, bem como sobre o possível restabelecimento de relações entre a Federação Russa e os EUA. Foi a primeira visita de Putin ao país em 10 anos.
Embora ainda não haja detalhes sobre o que foi discutido na reunião a portas fechadas entre Putin e Trump, e entre as delegações de ambos os países, tanto os órgãos de imprensa da Rússia quanto os órgãos de imprensa do imperialismo estão avaliando que Putin e a Rússia saíram vitoriosos da reunião.
No que diz respeito à imprensa russa, a agência estatal de notícias TASS apontou o contraste entre a recepção de Trump a Putin e a recepção a Zelenski, presidente da Ucrânia (ocorrida em 28 de fevereiro).
Agência também noticiou sobre a avaliação de Putin sobre a reunião: o presidente russo avaliou-a como “oportuna e muito útil”, afirmando que “discutimos praticamente todas as vertentes da nossa cooperação, mas antes de mais nada, é claro, falamos sobre uma possível resolução da crise ucraniana numa base justa”. A avaliação foi feita durante reunião com a liderança da equipe presidencial.
Artigo de opinião publicado na emissora Russia Today (RT) também avalia o sucesso da reunião. O articulista do artigo afirma que “não há dúvida de que a cúpula do Alasca entre os presidentes russo e americano foi um sucesso. Não foi um avanço, mas claramente foi mais do que um evento do tipo “é bom que eles estejam pelo menos conversando“, apontando que “a Rússia demonstrou que pode negociar enquanto os combates continuam e que não tem nenhuma obrigação legal ou moral – ou qualquer pressão prática – para interromper os combates antes que as negociações mostrem resultados que considere satisfatórios.
Após a reunião, Trump foi entrevistado pela emissora norte-americana Fox News. O articulista da RT aponta três coisas importantes que foram ditas por Trump durante essa entrevista: “ele [Trump] confirmou que houve ‘muito progresso’, reconheceu que o presidente russo quer a paz e disse a Zelensky para ‘fechar um acordo’”. O articulista destaca que “quando Putin, em uma curta entrevista coletiva, alertou Bruxelas e Kiev para não tentarem sabotar as negociações , Trump não contradisse o líder russo”.
Fyodor Lukyanov, editor-chefe da Rússia em Assuntos Globais afirmou que “Trump não obteve a ofensiva diplomática que esperava. Mas a reunião também não terminou em ruptura” e que “os críticos tentarão apresentar a reunião no Alasca como uma derrota para Trump, argumentando que Putin ditou o ritmo e estabeleceu os termos. Há alguma verdade nisso. Mas se o objetivo é um resultado sustentável, não há alternativa a não ser enfrentar de frente toda a gama de questões”.
Quanto à reação da imprensa norte-americana, o jornal The Washington Post (Wapo)afirmou que “Rússia vê vitória com Trump adotando a abordagem de Putin para acabar com a guerra na Ucrânia”, acrescentando que “na calorosa saudação do presidente Donald Trump no tapete vermelho na cúpula do Alasca, os russos viram uma oportunidade para afastar os Estados Unidos de seus aliados tradicionais na Europa”.
Em outra publicação, Wapo também afirmou que “o presidente Donald Trump abandonou sua exigência de cessar-fogo na Ucrânia e disse ao presidente no sábado que o presidente russo Vladimir Putin quer a área de Donbass, na Ucrânia, em troca da interrupção dos ataques russos” e que o presidente norte-americano “disse que a Ucrânia e a Rússia deveriam ir direto às negociações para um acordo, uma ruptura com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e aliados europeus que alinha os Estados Unidos com Putin”.
Em tom crítico, o Wall Street Journal afirmou que “o presidente Trump tentou dar o melhor de si na sexta-feira, quando se encontrou com Vladimir Putin no Alasca, e as gentilezas mútuas foram efusivas. Mas a notícia substancial da reunião parece ser que Putin se recusa a encerrar a guerra na Ucrânia e nem sequer concorda com um cessar-fogo temporário”.
Criticando de forma mais abertamente a reunião, e reconhecendo o resultado positivo para a Rússia, o jornal britânico The Economist publica matéria com o título “O pesadelo do pacto Trump-Putin não acabou”, e afirma, na publicação, “a cúpula deu a Putin o que ele queria : um tapete vermelho e a chance de se gabar de que o isolamento da Rússia acabou, mesmo com a pressão crescente no campo de batalha. Em troca, Putin não ofereceu nada: nenhum cessar-fogo, nenhum roteiro, nem mesmo uma concessão simbólica.
O jornal The New York Times noticiou que Putin obteve como resultado atrasar o estabelecimento de novas sanções. Nesse sentido são as informações dadas pelo vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev.
Em uma publicação em seu canal do Telegram, ele afirmou que “um mecanismo completo para reuniões de alto nível entre a Rússia e os EUA foi restabelecido”, acrescentando que este mecanismo “é pacífico, livre de ultimatos ou ameaças. Medvedev também informou que Putin “apresentou pessoalmente e detalhadamente ao líder americano nossas condições para o fim do conflito na Ucrânia”, acrescentando que após quase três horas de conversas, o anfitrião da Casa Branca se recusou a aumentar a pressão sobre a Rússia. Pelo menos por enquanto“.
Após a reunião no Alasca, Trump ligou para Vladimir Zelensky e para líderes da OTAN, conforme informado pela assessoria de imprensa de Trump. Não foram divulgados detalhes sobre o que foi conversado.
Quanto à reação da União Europeia, seus países membros não conseguiram adotar prontamente uma declaração conjunta sobre a reunião no Alasca, informou TASS. A agência acrescentando que a liderança da UE, chefes de Estado de cinco dos 27 Estados-membros do bloco, e Reino Unido assinaram declaração conjunta, que foi publicada por Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da UE).
Os cinco países europeus que assinaram a declaração foram França, Itália, Alemanha, Finlândia e Polônia. Publicada no portal da Comissão Europeia, a declaração afirma, dentre outras posições, que “não devem ser impostas limitações às Forças Armadas da Ucrânia ou à sua cooperação com terceiros países” bem como que “caberá à Ucrânia tomar decisões sobre seu território”, que “nosso apoio à Ucrânia continuará” e que os signatários estão “determinados a fazer mais para manter a Ucrânia forte”. A declaração dos representantes europeus do imperialismo finaliza com a afirmação de que “a Ucrânia pode contar com nossa solidariedade inabalável enquanto trabalhamos por uma paz que proteja os interesses vitais de segurança da Ucrânia e da Europa”.
Em outro sentido foi a declaração de Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, um dos países que não assinaram a declaração conjunta da UE. Fico, quem o imperialismo vem tentando derrubar há alguns anos, afirmou que um tratado de paz deve oferecer garantias tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia, bem como que “os próximos dias mostrarão se os principais atores da União Europeia apoiarão o processo de paz e irão por fim ao conflito ucraniano. Ou se a estratégia europeia malsucedida de tentar enfraquecer a Rússia por meio deste conflito com uma ajuda financeira, política ou militar inacreditável a Kiev continuará“.



