Na manhã de terça-feira (8), o Brasil foi novamente sacudido por uma tragédia em uma escola pública. Um adolescente de 16 anos, ex-aluno da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Nascimento Giacomazzi, em Estação, interior do Rio Grande do Sul, invadiu o local portando uma faca. O jovem, que alegou estar ali para entregar um currículo, pediu para usar o banheiro e, em seguida, dirigiu-se a uma sala do terceiro ano do Ensino Fundamental. Ali, atacou com golpes de faca crianças e uma professora.
O saldo brutal: uma criança de 9 anos, Vitor André Kungel Gambirazi, morta; duas outras crianças e uma professora feridas. O agressor foi contido por funcionários e apreendido pela polícia. O município, pequeno, foi tomado pelo luto. As aulas foram suspensas em toda a rede municipal, e a prefeitura mobilizou equipes de apoio psicológico para familiares e estudantes.
No dia seguinte ao ataque, o jornal Correio Braziliense publicou a matéria Ataque no RS expõe preocupação com a violência extrema nas escolas. O texto, como tantos outros da imprensa burguesa, aproveitou-se do choque e da comoção causados pelo crime para defender medidas de endurecimento penal e justificar o avanço da repressão estatal.
Logo no início, a reportagem faz referência à recente sanção de uma lei que aumenta as punições para crimes cometidos em escolas, celebrando a resposta do Estado com mais repressão. O artigo destaca dados sobre o aumento de ataques e, sem questionar as causas profundas do fenômeno, repete a ladainha de que “discursos de ódio nas redes sociais” seriam o principal vetor desses crimes.
A matéria termina defendendo a responsabilização das plataformas digitais e o endurecimento da legislação, repetindo o discurso oficial da burguesia — e calhordamente de setores da esquerda — de que a repressão é o único caminho possível diante da “barbárie”. Não é de hoje que a imprensa, em conluio com o aparato repressivo do Estado, tenta associar tragédias como essa a uma suposta epidemia de ódio nas redes sociais.
Trata-se de uma explicação conveniente, que desvia o foco das causas reais da violência e serve de pretexto para ampliar o controle sobre a população. O discurso de que “as redes sociais estimulam o extremismo” é, na verdade, uma cortina de fumaça: o objetivo é justificar a censura, a vigilância e a repressão de qualquer manifestação que fuja ao controle do regime. O endurecimento da lei, como mostra a própria matéria, não resolve o problema — apenas amplia o alcance do Estado policial, atingindo principalmente os setores mais pobres e politicamente ativos da sociedade.
A experiência recente mostra que, quanto mais se endurecem as leis, mais cresce a repressão e menos se atacam as raízes do problema. A repressão das opiniões políticas, a perseguição a militantes e a censura prévia são expedientes típicos de regimes autoritários. O chamado “ódio nas redes” é apenas o bode expiatório da vez, útil para justificar a escalada repressiva que já está em curso no País.
O aumento dos ataques em escolas não é um fenômeno isolado, tampouco resultado de uma suposta “degeneração moral” das novas gerações ou do avanço das redes sociais. O que está por trás dessas tragédias é a profunda crise do imperialismo, que se reflete em todos os aspectos da vida social brasileira.
O golpe de 2016, articulado pelos interesses do grande capital internacional, mergulhou o País em uma espiral de desemprego, precarização, destruição dos serviços públicos e desagregação social. A juventude, especialmente nas periferias, é a principal vítima desse processo: sem perspectivas, sem acesso a direitos básicos, submetida a uma rotina de violência e abandono, acaba sendo empurrada para situações-limite.
A repressão, longe de ser solução, é parte do problema. O Estado, em vez de garantir educação, saúde, emprego e dignidade para a população, opta por responder com bala, cadeia e censura.
A imprensa, por sua vez, cumpre seu papel de porta-voz dos interesses burgueses, clamando por mais repressão sempre que uma tragédia acontece. O resultado é a perpetuação do ciclo de violência, exclusão e autoritarismo, enquanto as verdadeiras causas da crise seguem intocadas.
Enquanto a burguesia aproveita cada tragédia para reforçar o aparato repressivo, cabe à esquerda desmascarar essa farsa e organizar a resistência. Não é com mais repressão, censura e leis autoritárias que se resolverá o problema da violência — é com a derrota do imperialismo, a superação do golpe e a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática.




