Documentos recentemente divulgados esclarecem o funcionamento interno do Comitê Consultivo de Mídia de Defesa e Segurança (DSMA), do Reino Unido, revelando como o órgão molda, influência e, por vezes censura a cobertura jornalística sobre diversos assuntos. Um conjunto de arquivos do comitê, publicado pelo veículo investigativo The Grayzone, descreve como o comitê, que inclui figuras importantes das forças armadas, serviços de inteligência e grandes organizações de notícias, orienta diariamente a imprensa britânica sobre questões classificadas como “sensíveis”.
Essas questões incluem operações de inteligência, mobilização de forças especiais e investigações criminais de grande destaque. O comitê alega se vangloria de ter uma “taxa de sucesso superior a 90%” em desencorajar a publicação de certas informações. Ele também revela casos em que os veículos independentes ou não convencionais foram rotulados de “extremistas” por publicarem matérias consideradas “constrangedoras” ou insuficientemente respeitosas às diretrizes do comitê.
Nos registros referentes ao período entre 2011 a 2014, foram listados dezenas de pedidos de informações da redação sobre tópicos como a morte de Gareth Williams, funcionário do Government Communitations Headquarters, GCHQ, a cooperação do Reino Unido com agências de inteligência estrangeiras e supostos casos de abuso sexual infantil envolvendo funcionários públicos. Os arquivos não indicam se os jornalistas entraram em contato com o comitê proativamente ou se funcionários da Defence and Security Media Advisory Committe, DSMA intervieram antes da publicação.
De acordo com o The Grayzone, o volume de consultas aponta para uma influência editorial considerável, particularmente em reportagens relacionadas a programas de extradição e à atividade das forças especiais britânicas na Líbia e na Síria. Os documentos também detalham o envolvimento da DSMA na gestão da cobertura de assuntos delicados e de longa duração, incluindo o massacre de Dunblane, a Operação Ore e a morte da Princesa Diana. Em alguns casos, jornalistas teriam pedido desculpas por publicar material que o comitê considerou problemático.
Com as plataformas digitais a erodir a influência tradicional da DSMA sobre a imprensa, o comitê tem procurado expandir a sua atuação. Nas análises internas, os integrantes do comitê alertaram que as redes sociais comprometem a sua capacidade de conter divulgações sensíveis. As atas das reuniões revelam discussões sobre o envolvimento de grandes empresas de tecnologia nos esforços para limitar a disseminação de informações restritas em plataformas como a Meta e a rede social X. Embora as empresas aleguem que tenham resistido até agora à cooperação formal, a DSMA expressou que possíveis regulações futuras possam obriga-las a participar do sistema de censura do imperialismo inglês.




