EUA

Imperialismo tenta usar caso Epstein para atacar Trump

Revelação de que não existiria uma “lista de clientes” causou uma onda de revolta entre os trumpistas mais radicais

A recente decisão do Departamento de Justiça dos Estados Unidos de não divulgar mais documentos do caso Epstein reacendeu a indignação entre a base de apoio do ex-presidente Donald Trump e colocou em xeque as promessas de “transparência total” feitas por figuras próximas ao governo. Em 7 de julho, as autoridades norte-americanas publicaram um memorando de duas páginas — sem assinatura de indivíduos e com os logotipos do FBI e do Departamento de Justiça — afirmando que “nenhuma divulgação adicional seria apropriada ou garantida”. A decisão oficial enterra, ao menos por enquanto, a expectativa de publicação de documentos que os apoiadores do movimento Make America Great Again (MAGA) consideravam cruciais.

A decepção rapidamente se espalhou entre influenciadores conservadores. Figuras como a ativista Laura Loomer, o radialista Glenn Beck e a ex-âncora da rede norte-americana Fox News, Megyn Kelly, acusaram o governo de Donald Trump de acobertamento. As críticas mais duras foram direcionadas à procuradora Pam Bondi, que anteriormente havia prometido revelar uma série de documentos secretos — os chamados “Arquivos Epstein” — e que agora virou alvo da própria militância que ajudou a mobilizar.

Segundo os influenciadores revoltados, a falta de transparência é uma traição à base trumpista e à promessa de expor o que chamam de “estado profundo” norte-americano — nome usado para se referir à burocracia que, segundo eles, opera de forma autônoma e conspiratória contra os interesses populares. A crise revela uma divisão interna entre a base de Trump e setores que antes confiavam nas promessas do ex-presidente de desclassificar materiais comprometedores sobre Jeffrey Epstein e sua rede de abusos.

A origem do escândalo

Jeffrey Epstein era um bilionário financista com conexões no alto escalão do imperialismo mundial. Foi preso em 2019 por tráfico sexual de menores e encontrado morto na cela federal em Nova Iorque poucas semanas depois — segundo as autoridades, por suicídio. Sua ex-parceira e cúmplice, Ghislaine Maxwell, foi posteriormente condenada a 20 anos de prisão.

O que transformou o caso em um escândalo mundial não foram apenas os crimes em si, mas os laços de Epstein com figuras poderosas: membros da realeza britânica, ex-presidentes norte-americanos — incluindo o democrata Bill Clinton — e uma vasta gama de bilionários e banqueiros. A suspeita de que Epstein mantinha vídeos e registros comprometedores com clientes de sua rede criminosa alimentou a desconfiança geral e serviu de base para diversas denúncias sobre um possível encobrimento institucional.

Ainda durante seu primeiro mandato, Donald Trump deu combustível à polêmica. Após a morte de Epstein, retuitou uma acusação de que Bill Clinton teria envolvimento com o caso, e pediu uma “investigação completa”. Em 2023, em entrevista a Tucker Carlson, Trump voltou a afirmar que acreditava que Epstein cometeu suicídio, mas deixou em aberto a possibilidade de assassinato, algo que, segundo ele, “muita gente acredita”.

Além disso, o próprio Trump havia prometido, em entrevistas, desclassificar os arquivos relacionados não só ao 11 de setembro e ao assassinato de John F. Kennedy, mas também os ligados a Epstein. “Acho que sim”, disse ele sobre a possível liberação dos chamados “arquivos Epstein”, embora tenha recuado levemente ao dizer que seria necessário cuidado para não “afetar a vida das pessoas” caso houvesse informações falsas nos documentos.

A expectativa em torno dos tais arquivos foi alimentada pelo próprio governo. Em fevereiro deste ano, influenciadores da direita foram convidados à Casa Branca, onde receberam pastas estampadas com os dizeres “The Epstein Files: Phase 1” (“Os arquivos Epistein: fase 1”, em português) e “Declassified” (“Divulgado”, em tradução livre).

A maioria dos documentos, no entanto, já era de domínio público. Ainda assim, a ex-procuradora Pam Bondi declarou em maio que haveria “dezenas de milhares de vídeos de Epstein com crianças ou pornografia infantil” e que tudo viria a público.

A revelação de que não existiria uma “lista de clientes” e de que não haverá divulgação adicional por parte do Departamento de Justiça expôs a fraude dessas declarações e causou uma onda de revolta entre os trumpistas mais radicais. Acusações de “preguiça”, “incompetência” e “traição” pipocaram nas redes sociais. Os críticos dizem que Bondi apenas usou o caso para angariar apoio político e desmobilizar a militância mais combativa do MAGA.

Imperialismo em crise e uso político do caso

O recuo das autoridades em divulgar os documentos sobre o escândalo revela mais do que um simples embate entre setores da direita. Trata-se de uma disputa interna no regime imperialista norte-americano, que se vê pressionado por uma base política instável, em um momento em que as contradições sociais se aprofundam. A tentativa de desmobilizar a militância conservadora ocorre justamente no momento em que Trump lidera a corrida presidencial contra o enfraquecido Joe Biden — cuja presença em eventos públicos revela sinais cada vez mais visíveis de senilidade e fragilidade política.

Ao mesmo tempo, o caso Epstein vem sendo manipulado para desgastar Trump perante sua base. A cobertura dos órgãos de comunicação e o tratamento oficial do caso procuram transferir o foco do envolvimento de figuras democratas — como Bill Clinton — para a suposta omissão do próprio Trump. A estratégia é clara: desgastar o trumpismo ao associá-la ao escândalo e gerar um racha dentro do movimento MAGA.

Na prática, o que está em curso é a tentativa de setores do imperialismo de utilizar o caso Epstein como arma de chantagem política. A chantagem é dupla: por um lado, pressiona Trump a seguir a cartilha do regime e abandonar promessas de “transparência”; por outro, é uma ameaça velada de exposição de material comprometedor contra figuras próximas ao ex-presidente, caso ele insista em romper com o aparato burocrático.

Não por acaso, a maior parte dos arquivos permanece sob sigilo, com a justificativa de “proteger as vítimas”. A medida, aparentemente humanitária, na realidade serve como instrumento para impedir a revelação de informações que comprometam figuras do alto escalão. Afinal, como explicar o silêncio diante de um caso que envolve uma rede internacional de tráfico de menores, filmagens comprometedoras, políticos, banqueiros e até membros da realeza?

Uma arma do imperialismo

O escândalo Epstein é um dos mais sintomáticos exemplos da decadência do regime imperialista. O caso envolve os maiores centros de poder financeiro, político e militar do mundo. E, embora Trump represente um setor da própria burguesia norte-americana, ele encarna uma ala que se choca com o imperialismo.

Ao manter em segredo os documentos mais comprometedores, o Departamento de Justiça protege seus próprios aliados e mantém na manga uma arma para ser usada contra inimigos políticos. O resultado é que a prometida “transparência” não passa de uma ilusão. O único fato concreto é que, sob o pretexto de proteger vítimas e evitar informações falsas, as autoridades norte-americanas estão impedindo que o escândalo chegue aonde realmente importa: nas figuras de peso do imperialismo mundial.

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