O artigo No Brasil e no mundo, Trump sai derrotado, de Emanuel Assim, publicado no portal Poder360 chama a atenção porque se confunde com o que é dito e publicado pela maioria da esquerda pequeno-burguesa.
Atacar Donald Trump se tornou um verdadeiro esporte. O que a maioria da esquerda não percebe, e não compreende, é o fato desses ataques surgirem dentro de canais de comunicação ligados ao imperialismo. Isso jamais aconteceria se Trump fosse mesmo um representante legítimo dos interesses do grande capital.
Ataques ao Brasil
Assis utiliza o início de seu texto para listar agressões de Trump contra o Brasil. Diz que “em julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, direcionou uma carta ao governo do Brasil na qual sinalizava um aumento de 40% nas taxações de produtos importados brasileiros, totalizando uma tarifa de 50% nas nossas importações para o norte”. Até aqui, nada de novo, guerras tarifarias são a norma no capitalismo, especialmente nesta fase, a do imperialismo, o que evidencia que a “livre concorrência” não passa de uma lenda.
Em seguida, o autor escreve que “na carta, o governo estadunidense justificava esse aumento sob o pretexto de que ‘as políticas e ações incomuns e extraordinárias do Governo do Brasil […] prejudicam empresas americanas, os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos, a política externa dos EUA e a economia americana’, e que ‘a perseguição política, intimidação, assédio, censura e processos judiciais contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores constituem graves abusos de direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil’”.
Como este Diário já deixou claro em todas as oportunidades, a tentativa de interferir na política brasileira por parte de outro país é completamente inadmissível. Por outro lado, não podemos deixar de denunciar os métodos lavajatistas empregados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento de Jair Bolsonaro.
Segundo o texto, “alguns dias antes dessa decisão, Trump também teria autorizado uma investigação comercial dos Estados Unidos contra o Brasil, colocando o Pix em xeque e declarando que o sistema de pagamentos criado pelo governo brasileiro seria uma prática desleal de concorrência com outras operadoras norte-americanas”. Isso já era de se esperar, pois o Trump está defendendo os interesses de empresas americanas.
Empresas como Mastercard e Visa são afetadas por esse tipo de pagamento digital, por se tratar de um pagamento instantâneo e gratuito.
Outras empresas, como PayPal, Stripe, Western Union, serviços de remessa, também perdem espaço no mercado doméstico. Por outros motivos, Uber, Aibnb, Apple, também são impactadas por terem que se adaptar ao Pix. O que está em jogo, portanto, é a hegemonia dos modelos de pagamento.
Assis, tentando demonstrar que Trump falhou, pontua que “no dia 20 de novembro, o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada das tarifas de 40% sobre vários produtos brasileiros, como café, carnes e frutas, produtos de consumo centrais no país. Dias depois, Jair Bolsonaro tem sua prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes”.
Quanto às tarifas, essa é uma tática que o presidente americano adota no mundo inteiro. É sua forma de negociar, pressiona pelo máximo para conseguir algum acordo intermediário.
Sobre a prisão de Bolsonaro, seria muito difícil Trump conseguir alguma coisa, pois se trata de uma política do imperialismo, que visa afastar do poder tanto Lula quanto o ex-presidente para coloca no lugar um candidato seu.
Promessas
Emanuel Assis diz que “Donald Trump foi eleito para um 2º mandato com o mesmo slogan do 1º “ Make America Great Again” (Faça a América Grande Novamente), com promessas firmes de trazer as indústrias norte-americanas de volta ao país e fortalecer a presença e a influência dos interesses dos Estados Unidos no mundo”.
E também que “no entanto, o mundo já não é mais o mesmo – e o equilíbrio de poder que em algum momento favorecia a hegemonia norte-americana nas principais decisões internacionais agora já coloca outros atores nesse jogo, forçando um compartilhamento maior dessa balança”.
É verdade. Faltou dizer que Trump também prometeu acabar com as guerras infinitas, o que o colocou em choque com o imperialismo, que o fez o possível para evitar sua reeleição por meio de perseguição judicial; e tentando, inclusive, a eliminação física.
No que diz respeito aos “outros atores” no jogo, foi Joe Biden quem iniciou a ofensiva contra a Rússia e a China. A guerra na Ucrânia e o assédio a Taiuan são obra desse “democrata”, tratado como “mal menor” em relação a Trump. Apesar de encaminhar o mundo para uma guerra mundial.
Soberania
A suposta defesa da soberania, citada por Assis, e a afirmação de que Lula teria dito que “nossa soberania não pode ser negociada, assim como o funcionamento democráticos das instituições que julgaram e condenaram Jair Bolsonaro”, não aconteceram dessa maneira. A primeira coisa que o governo tentou fazer foi negociar. Segundo, o envio de tropas americanas para agredir a Venezuela ameaçam diretamente a nossa soberania, mas o governo se disse “neutro”; e Lula chegou a elogiar a falsa política trumpista de “combate ao crime”.
Chamar o funcionamento das instituições que “julgaram” Bolsonaro de democráticas chega a ser bizarro. Foi um verdadeiro espetáculo, mais um, de irregularidades e cassação de direitos mais elementares, como o da defesa ampla.
Crise
O desmonte causado pelo neoliberalismo, o endividamento estatal (que superou 123% do PIB), além do “aumento nos preços [que] vem acompanhado de uma das maiores taxas de desemprego dos últimos quatro anos, torna a situação ainda mais desagradável para o atual governo”.
Apesar de ser desagradável, foi isso que elegeu Donald Trump, a promessa de acabar com as práticas que levaram a maior economia do mundo a esta situação. O fato é o presidente americano pode fazer muito pouco, é incapaz de enfrentar o grande capital financeiro, apesar de ser apoiado pelos setores produtivos dos EUA, que a cada dia vê a economia ruindo.
Para Assis, “a derrota no episódio com o Brasil não é apenas um tropeço isolado, é mais um sinal de que os Estados Unidos estão perdendo parte da influência que exerceram por décadas e, no ímpeto de recuperá-la, Donald Trump acaba acelerando ainda mais esse processo”.
É difícil dizer que Trump esteja piorando as coisas. A pergunta seria: o que pode ser feito? O imperialismo já decidiu que a única saída é a guerra.





