Europa

França: regime está perseguindo Marine Le Pen

Assim como Bolsonaro no Brasil, extrema direita é perseguida na França por núcleo duro do imperialismo

A condenação de Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Agrupamento Nacional (Rassemblement National) a cinco anos de inelegibilidade por suposto desvio de verbas da União Europeia é uma fraude, mas não é um caso isolado. É mais um capítulo na longa história de manipulação judicial contra figuras políticas que desafiam o establishment pró-imperialista na França e em todo o mundo. O sistema jurídico francês age como um mecanismo de exclusão de rivais políticos que não pertençam ao núcleo duro da cúpula imperialista, especialmente quando estes ameaçam romper com a submissão completa aos interesses do imperialismo e da OTAN.

A acusação contra Le Pen remonta a 2014, mas só agora, quando ela lidera todas as pesquisas para as eleições presidenciais de 2027, a justiça decide agir. Não é difícil enxergar o cálculo político por trás dessa condenação tardia e sem provas. O mesmo roteiro já foi aplicado contra outros adversários do regime macronista: Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda pequeno-burguesa, também está sendo investigado por supostos desvios de fundos europeus. Enquanto isso, figuras como François Bayrou, aliado de Macron e acusado do mesmo tipo de fraude, não só escaparam impunes como foram premiados com cargos no governo.

Essa seletividade judicial não é acidental. Desde 2017, quando o partido de Macron aprovou uma lei que automaticamente impede candidatos condenados por certos crimes de concorrerem,  tal como a Lei da Ficha Limpa no Brasil, ficou claro que o objetivo era eliminar rivais do regime político. A coincidência temporal é gritante: a lei foi criada pouco depois que a UE começou a investigar Le Pen.

A história recente da França está repleta de exemplos de como o sistema elimina figuras incômodas à sua estabilidade. Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI e favorito à presidência em 2011, teve sua carreira destruída por uma acusação de agressão sexual em Nova Iorque, seguida por um processo por proxenetismo na França – do qual foi absolvido, mas já era tarde para sua campanha. François Fillon, líder das primárias de direita em 2017, viu sua candidatura ruir após denúncias de empregos fantasmas para a família, abrindo caminho para a ascensão de Macron, um até então desconhecido.

Até mesmo Jacques Chirac, ex-presidente que resistiu à guerra do Iraque em 2003, foi condenado por corrupção apenas após deixar o poder, quando já não representava ameaça ao projeto imperialista de Nicolas Sarkozy, que reintegrou a França ao comando da OTAN – algo que Charles de Gaulle havia rejeitado em nome da soberania nacional. A condenação de Le Pen gerou reações imediatas de líderes que não se alinham ao núcleo duro do imperialismo na Europa. Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, expressou solidariedade com um simbólico “Je suis Marine”, enquanto Geert Wilders, líder da direita holandesa, classificou a sentença como “incrivelmente dura” e previu sua vitória no recurso. Mas a questão central não é se Le Pen será absolvida ou não – é que o próprio processo já cumpre seu papel de desgastá-la, e se possível, tirá-la da disputa antes mesmo das eleições.

Donald Trump, outro alvo preferencial da perseguição judicial imperialista, reconheceu imediatamente o paralelo com seu próprio caso: “Ela foi banida por cinco anos e era a candidata favorita. Isso soa como este país [os EUA]”. De fato, se Trump fosse francês e condenado sob as mesmas acusações que enfrenta na Geórgia, também estaria inelegível.

O caso de Le Pen escancara a verdade sobre a democracia liberal burguesa: ela só é tolerante com quem não ameaça os pilares do imperialismo. Quando um político – seja de esquerda ou de direita – desafia minimamente a ordem e os interesses da burguesia imperialista, da OTAN e da UE, o sistema reage com processos judiciais, condenações repercutidas em massa pela imprensa e exclusão eleitoral.

A esquerda deve denunciar com veemência a manipulação jurídica que hoje atinge Le Pen, pois o mesmo método será usado amanhã contra líderes populares da esquerda. A luta contra a ditadura judicial é, em sua última instância, uma luta contra o imperialismo.

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