Mais de um quinto da população da República Democrática do Congo (RDC) — cerca de 25 milhões de pessoas — está passando fome. A informação foi divulgada na última quarta-feira (12), em Genebra, pelo porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU), Stephane Dujarric, que atribuiu o agravamento da situação ao aumento da violência no leste do país e ao deslocamento em massa da população.
Segundo Dujarric, os territórios de Kivu do Norte e Kivu do Sul estão entre os mais atingidos. Desde janeiro, confrontos entre o grupo M23 e as forças do governo se intensificaram, com os primeiros tomando cidades estratégicas e rotas de abastecimento próximas a Goma, capital de Kivu do Norte, e Bukavu, capital de Kivu do Sul. Organizações internacionais estimam que milhares de pessoas morreram desde o início dos combates. Apenas nos territórios de Beni e Lubero, mais de 1.000 civis foram assassinados neste ano, e pelo menos 400 mil pessoas tiveram de abandonar suas casas.
A atuação de grupos armados — mais de cem apenas na região leste — está impedindo atividades agrícolas e bloqueando vias de transporte. Como resultado, mercados locais estão desabastecidos e a fome avança de maneira acelerada.
Dujarric também advertiu para a destruição da infraestrutura de saúde. Desde janeiro de 2025, seis unidades médicas foram atacadas; desde o início de 2024, o número chega a 28 instalações atingidas. Mais da metade dos centros de atendimento deixou de funcionar, deixando cerca de 150 mil pessoas sem acesso a cuidados básicos.
A insegurança generalizada dificulta igualmente a atuação das organizações humanitárias, que relatam não conseguir chegar às comunidades isoladas devido aos confrontos constantes e à presença de explosivos.
A Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês) projeta que, no primeiro semestre de 2026, o número de pessoas passando fome pode chegar a 27 milhões, com várias áreas se aproximando do nível quatro da escala, indicado por escassez extrema de alimentos e desnutrição em massa.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) pediu que todos os grupos armados respeitem o direito internacional e garantam a proteção da população civil e das estruturas essenciais para sua sobrevivência.




