A prisão de Serhii K (identificado também como Serguei Kuznetsov em veículos internacionais), acusado de liderar um grupo responsável pela explosão dos gasodutos Nord Stream 1 e 2 em setembro de 2022, voltou a colocar o caso em evidência. Segundo a promotoria alemã, o suspeito faria parte de uma equipe de seis pessoas que alugou o veleiro Andromeda em Rostock, usou documentos falsos e, sem ser detectada, navegou pelo Mar Báltico para instalar explosivos a 70-80 metros de profundidade.
A versão soa como uma piada. Especialistas em segurança e mergulho apontam que o transporte de explosivos de alta potência (RDX-HMX), pesando até 27 quilos cada, seria logisticamente impossível em um barco de 15 metros sem porões reforçados. Além disso, um mergulho técnico a tal profundidade exigiria sistemas de mistura de gases, longos períodos de descompressão e, em alguns casos, câmaras hiperbáricas — nada compatível com o espaço reduzido do veleiro.
A tese dos ucranianos “movidos a álcool e patriotismo”, divulgada pelo Wall Street Journal e repetida agora pelas autoridades alemãs, serve menos como explicação plausível e mais como cortina de fumaça. O enredo, ridicularizado inclusive pelo chanceler russo, Serguei Lavrov — que ironizou a versão de “cinco pessoas bebendo e decidindo explodir o gasoduto” —, tem como objetivo deslocar a atenção da hipótese mais provável: o envolvimento direto de um Estado, em particular dos Estados Unidos e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Não se pode ignorar que, em junho de 2022, a OTAN realizou exercícios navais (BALTOPS 22) exatamente na região da explosão, com operações subaquáticas. O jornalista Seymour Hersh já revelou que o ataque teria sido planejado pelos EUA, com apoio da Noruega, usando esses exercícios como cobertura. Segundo sua investigação, os explosivos foram plantados naquela ocasião e detonados meses depois por controle remoto.
Na análise política, a pergunta central continua sendo: quem lucrou com o ataque? Os Estados Unidos, que forçaram a Europa a romper de vez a dependência do gás russo, expandindo suas exportações de gás natural liquefeito para o continente; a Noruega, que tornou-se o principal fornecedor de gás para a Alemanha e a OTAN, que consolidou o afastamento da Alemanha de qualquer possibilidade de entendimento energético com a Rússia.
A prisão de um cidadão ucraniano, apresentado como cérebro de uma operação “artesanal”, cumpre uma função política: oferecer uma explicação simplista ao público europeu, ao mesmo tempo em que desvia a atenção da responsabilidade de grandes potências. Trata-se de uma estratégia típica em casos de crimes de Estado: criar culpados de conveniência.
A prisão do suposto responsável pela explosão ocorre em um momento no qual as forças ucranianas se aproximam do colapso. EM vazamento recente, foi divulgado que o exército do país já teve 1,7 milhão de baixas desde 2022.





