O portal Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), publicou uma matéria, publicada no último dia 6 e intitulada Trump proíbe mulheres trans em esportes femininos em novo ataque transfóbico, criticando o presidente norte-americano Donald Trump por uma medida no mínimo sensata: que as competições esportivas femininas sejam disputadas por mulheres apenas, e não por homens biológicos. Diz o artigo do órgão esquerdista:
“No ato da assinatura do decreto, o transfóbico presidente dos EUA declarou que ‘de agora em diante, os esportes femininos serão apenas para mulheres’. Essa declaração desprezível tem como intuito realizar um aceno à base conservadora de extrema-direita trumpista e de avançar contra os direitos das pessoas LGBTQIA+, em especial das pessoas trans.”
Em primeiro lugar, Esquerda Diário não explica porque a declaração seria “desprezível”. Dado que as diferenças biológicas entre homens e mulheres que favorecem os primeiros em competições esportivas são reais, o normal seria o órgão do MRT explicar suas posições. Fosse o decreto de Trump um banimento das mulheres trans de competições esportivas, a acusação de “ataque” faria sentido, uma vez que a exclusão estaria demonstrada e seria, em si, anti-democrática.
Não é, porém, o que líder da extrema direita norte-americana fez. O decreto, como o artigo reconhece, limita-se a “impedir que mulheres trans possam participar de competições esportivas femininas em escolas e universidades”, sendo bastante razoável. Trump sequer estabelece a proibição de que eventuais competições esportivas entre homens e mulheres possam ser organizadas.
Apenas proíbe a prática em escolas e universidades. A decisão de Trump foi preservar as mulheres de uma competição reconhecidamente desleal para elas, onde a diferença na compleição física das mulheres trans faz uma diferença decisiva no resultado e prejudica as mulheres, um dado da realidade comprovada pelo fato de a gritaria se dar especificamente na questão das mulheres trans e não em relação a homens trans querendo participar de competições esportivas masculinas.
Longe de explicar suas posições e tentar ganhar a posição de trabalhadores e estudantes para uma causa por meio de argumentos que apelem à inteligência, o que o artigo de Esquerda Diário faz é apelar para a truculência, fugindo do debate sobre homens biológicos (mulheres trans) participando de competições esportivas com mulheres, para simplesmente acusar uma suposta “transfobia” de Trump, recorrendo a palavras acusatórias como “ódio às minorias”, “discursos de extrema direita”, “ataque brutal”. As colocações do artigo da MRT são úteis para perseguir os opiniões que apoiem a medida trumpista, mas não convencem ninguém sobre qual seria o “ataque transfóbico”.
O MRT demonstra, por esse artigo, ter menos sensibilidade com as dificuldades enfrentadas pelas mulheres do que Trump, porém evidencia a mesma disposição à truculência do governante norte-americano ao apelar para frases e palavras que se por um lado não explicam nada, por outro, são úteis para intimidar opiniões similares. Estas, por sinal, coincidem com a da maioria da sociedade. Talvez cientes da debilidade de sua posição e da dificuldade de explicar o inexplicável, o artigo que não debate a posição trumpista apela:
“Isso por si só já é um ataque brutal aos direitos das pessoas trans, e tem como objetivo aumentar a opressão contra essa população que já é marginalizada e relegada a postos de trabalho precários, assim como o povo negro e os imigrantes. Não à toa Trump iniciou também uma campanha contra imigrantes com deportações daqueles que estivessem em território estadunidense sem documentos legais.”
Nesse parágrafo, o MRT faz uma verdadeira maçaroca ao misturar competições esportivas femininas reservadas às mulheres com a opressão da comunidade trans pobre, negros e imigrantes. Qual a relação entre fenômenos tão distintos? Como uma lei voltada a competições esportivas e destinada a preservar os direitos das mulheres impacta no aumento da opressão contra pessoas trans? Como isso se relaciona com as deportações de imigrantes? O artigo simplesmente joga os argumentos, sem se dar ao trabalho de responder.
Além de ser um eloquente demonstrativo da fragilidade da política defendida pelo MRT, que não pode ser defendida concretamente, o artigo expõe também a natureza reacionária do identitarismo, que não busca o esclarecimento de ninguém. Chantagens e ameaças para defender as mais insanas posições são as únicas coisas que os adeptos da ideologia imperialista têm a oferecer à população, sem oferecer nada real nem mesmo aos que diz apoiar, como as mulheres.