Polêmica

Identitários pedem aumento de penas, mas ‘feminicídio’ só aumenta

O assassinato de mulheres aumentou, o que significa que a política identitária de pedir aumentos de penas para coibir crimes falhou miseravelmente

Abaixo o Patriarcado

No artigo Violência, lawfare e soberania ferida: o fio que conecta feminicídios, Lava Jato e bolsonarismo, de Larissa Ramina e Carol Proner, publicado no Brasil 247 neste domingo (7), lê-se que “os números recentes de feminicídio no Brasil revelam uma emergência nacional: são, em média, quase quatro mulheres assassinadas por dia por razões de gênero, com mais de mil vítimas somente em 2025 e recordes sucessivos desde 2015”.

A primeira autocrítica, que os identitários não farão, seria a de constatar que a política de aumento de penas, bem como a criação da categoria “feminicídio” (como agravante de pena) fracassaram miseravelmente.

Durante anos a esquerda, especialmente a identitária, vem travando uma briga pelo endurecimento da lei. Criaram crimes novos, fobias disso, fobias daquilo, e o resultado é que os crimes continuam aumentando e o Estado está cada vez mais repressor.

O fracasso é tão retumbante que o artigo é obrigado a reconhecer que em diversas capitais, 2025 já superou todos os anos anteriores em casos de feminicídio”.

Ao mesmo tempo, temos que “movimentos como o Levante Mulheres Vivas convocam atos nacionais para dizer ‘basta’ à violência patriarcal”. O recrudescimento das penas não resolveu nada e dizer “basta” não será suficiente, pois a questão não está sendo atacada no seu ponto essencial: o caráter social do aumento da violência.

Em vez disso, a “luta” gira em torno de questões morais e abstratas, como um pretenso “patriarcado”. Todos os homens, do morador de rua ao banqueiro, estão todos reunidos dentro uma única categoria, o patriarcado, que está aí para oprimir as mulheres. Toda a questão se resume a uma luta de homens contra mulheres, a luta de classes, o marxismo, tudo isso é deixado de lado. E o resultado está aí.

Tentando demonstrar que a violência é generalizada, não restringindo a camadas mais pobres da sociedade, Ramina e Proner escrevem que “é nesse contexto que ganha relevo a denúncia da ex-juíza federal Luciana Bauer, que afirma ter sido agredida por Sergio Moro dentro de um elevador da Justiça Federal em Curitiba, à época em que ele comandava a 13ª Vara e a Operação Lava Jato. Ela relata um comportamento ‘extremamente agressivo’ e descreve a existência de uma verdadeira ‘entidade mafiosa’ instalada na vara e no TRF-4, que perseguia quem ousasse apontar irregularidades”.

Não ficou claro, no entanto, se essa máfia se especializou em atacar mulheres. É bem provável que não; pois no âmbito da Lava Jato, na 13ª Vara de Curitiba, a juíza Gabriela Hardt (aquela do “copia e cola”) parecia estar muito bem integrada.

Recentemente, a juíza Anita Villani negou duas vezes a liminar que tentava conseguir judicialmente um remédio fundamental para Natália Pimenta, outra mulher, de apenas 40 anos e mãe de dois filhos que veio a falecer. Esses dois exemplos, existem outros, desmontam a tese do “patriarcado”. O que está em jogo são interesses conduzidos pela luta de classes.

É bobagem dizer que “quando uma mulher magistrada — situada em posição de aparente ‘prestígio’ dentro da hierarquia jurídica — relata ter sido alvo de agressão e intimidação por um juiz estrela de uma operação midiática, vemos o patriarcado operando não só na esfera doméstica, mas também nos corredores do poder”. Moro ameaçou muita gente, inclusive juízes e desembargadores.

Ficar repetindo que “a violência de gênero, aqui, assume forma institucional: silenciamento, gaslighting, desqualificação e retaliação contra quem ousa romper o pacto de impunidade. O corpo da mulher, mesmo togado, continua sendo um corpo ‘disciplinável’, passível de ameaça e controle”, além de enfadonho, é inútil e contraproducente.

É óbvio que as mulheres estão entre os setores mais oprimidos da sociedade, que atualmente vêm sendo tratadas como “corpos”, ou confundidas com “pessoas que engravidam”, “pessoas que menstruam”. O “apagamento” das mulheres também é obra do identitarismo, que tem invadido até mesmo os banheiros femininos.

Salada de frutas

O artigo em questão tenta juntar opressão da mulher, Lava Jato e bolsonarismo como se fossem uma única coisa. Sustenta que “a recente operação da Polícia Federal na 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizada pelo ministro Dias Toffoli, aprofunda essa percepção de que algo estruturalmente podre se escondia sob o verniz moralista da Lava Jato. Os agentes foram à antiga sede da operação para apreender documentos e dispositivos eletrônicos, após reiterados pedidos do STF que não teriam sido atendidos integralmente pela Justiça Federal”.

Fica a pergunta: qual foram os papéis do STF e da Polícia Federal na Lava Jato? Eram parte integrante.

É insuficiente dizer que Jair Bolsonaro “atacou abertamente a democracia, promoveu o desmonte ambiental, a necropolítica na pandemia e o discurso de ódio contra mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTI+”. E que “sua ascensão ao poder foi viabilizada, em grande medida, pelo ambiente político-jurídico produzido pela Lava Jato, que criminalizou seletivamente um campo político e foi decisiva para a prisão e impedimento eleitoral de Lula em 2018” sem apontar a responsabilidade do STF e da PF.

Ninguém deve acreditar que um juiz de primeira instância, que mal sabe falar o português, seria capaz de criar um “ambiente político-jurídico”. Foi uma grande operação comanda pelo imperialismo, que contou com a participação da grande imprensa, do Supremo e da Polícia Federal. Infelizmente, esses dois últimos são tratados como se estivessem combatendo os crimes da Lava Jato.

As autoras sustentam que “a reconstrução democrática exige que se rompa tanto com o autoritarismo militarizado das ruas quanto com o autoritarismo togado de gabinetes que se julgaram autorizados a reescrever a política brasileira em nome de uma moral seletiva”. E como isso vai ser feito se as instituições que sustentam operações como a Lava Jato são apoiadas pela esquerda?

Ramina e Proner se lembraram apenas no apagar das luzes de falar em desemprego e destruição industrial. Mas não desenvolveram essas questões, que deveriam ter sido o ponto principal.

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