Palestina

Ícone da Segunda Intifada, líder do Fatá é liberto pelo Hamas

"A liberdade não tem preço. Mas o mundo que negou minha liberdade - especialmente a Grã-Bretanha, a França e os Estados Unidos" disse Zubeidi, enfim livre

Magro e abatido, com a cabeça raspada, vestindo ainda o uniforme da prisão, Zakaria Zubeidi levanta desafiadoramente dois dedos em sinal de vitória enquanto é carregado nos ombros da eufórica multidão que grita seu nome na cidade de Ramalá ocupada. Aos 49 anos, considerado o ícone da Segunda Intifada, o ex-líder das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa da Fatá, foi liberto com outras 109 pessoas na madrugada do dia 30 de janeiro, na terceira rodada do acordo de troca de prisioneiros “Dilúvio da Liberdade”, ou Toufan al-Ahrar, em árabe.

Resultado do acordo de cessar-fogo alcançado em 15 de janeiro entre o Hamas e o regime de apartheid sionista, a libertação dos prisioneiros é a maior evidência da vitória da Resistência ao final dos 15 meses da guerra genocida de “Israel” em Gaza que causou a morte de pelo menos 47 mil palestinos. Mais de mil prisioneiros, entre eles, 110 condenados à prisão perpétua, prisioneiros de longo prazo, e centenas de mulheres e crianças devem ser libertos na primeira fase do cessar-fogo.

A cada rodada de triunfantes imagens da libertação dos palestinos mantidos ilegalmente em prisões israelenses, fica claro que é a resistência armada que traz a libertação aos prisioneiros, à terra e ao povo da Palestina. Zubeidi, é um dos mais proeminentes dos 583 palestinos libertados pelo Hamas até agora.

Zakaria Mohammed Abdelrahman Zubeidi nasceu em 1976 e, grande parte de sua vida, passou na prisão ou fugindo dela. É o nome mais conhecido da Operação Túnel da Liberdade, de 2021, quando ele e outros cinco prisioneiros fugiram do centro de detenção de segurança máxima sionista de Gilboa, cavando um túnel de mais 30 metros com uma colher. Todos foram recapturados depois de cinco dias.

Enviado de volta à prisão, Zubeide sofreu torturas brutais que exigiram hospitalização. A fuga espetacular, no entanto, despertou simpatia pela causa palestina e a Resistência, e o lendário líder do Hamas, Iahia Sinuar, prometeu a Zubeidi que o tiraria da prisão. Agora, após seu martírio, Sinuar cumpriu essa promessa.

Um dos oito filhos de Mohammed e Samira Zubeidi, Zakaria cresceu no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, um dos mais importantes centros da resistência. Sua família foi expulsa à força de sua aldeia perto de Cesareia em 1948, quando o regime israelense ocupou pela primeira vez os territórios palestinos.

O pai de Zubeidi foi detido na década de 1960 por ser membro do movimento Fatá, fundado por Yasser Arafat. Zakaria frequentou a escola da ONU (UNRWA), e após a primeira intifada em 1987, aos 12 anos, junto de seu irmão Daoud e mais quatro crianças, formou o núcleo da trupe do Stone Theater (também conhecido como Teatro da Liberdade), quando sua mãe ofereceu o último andar da casa da família para ensaios à fundadora do grupo Arna Mer-Khamis, uma judia comunista e ativista dos direitos humanos, casada com Saliba Khamis, árabe israelense, líder do Partido Comunista de “Israel”.

Em 1989, aos 13 anos, atirava pedras em soldados israelenses que respondiam com balas reais. Um ferimento grave na perna o deixou hospitalizado por seis meses, e resultou em dificuldades de locomoção permanentes. Aos 14 anos, ele foi preso pela primeira vez, também por atirar pedras.

Durante a pena de seis meses, ele se tornou o representante das crianças na instituição onde foi preso. No ano seguinte, supostamente por atirar coquetéis molotov, voltou à prisão por quatro anos e meio, onde aprendeu hebraico e se tornou politicamente ativo.

Sua libertação coincidiu com a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993. Ele passou o restante da década de 1990 trabalhando, tanto em “Israel” quanto em Jenin, às vezes legalmente e outras vezes sem permissão. Quando não tinha emprego, ele roubava carros, o que o levou a ser preso pelas autoridades palestinas.

Com o início da Segunda Intifada (2000-2005), Zubeidi perdeu seu emprego legítimo como motorista de caminhão e foi atraído para atividades militantes, inclusive aprendendo a construir bombas. Em 2001, tornou-se comandante militar das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, liderando a resistência armada. 

Durante um ataque militar israelense em Jenin, em 3 de março de 2002, sua mãe, Samira, foi baleada por um franco-atirador enquanto estava perto de uma janela, e sangrou até a morte. O irmão de Zubeidi, Taha, também foi morto por soldados logo depois.

No mês seguinte, durante o feriado de Páscoa judeu, um atentado suicida do Hamas no hotel Netanya matou 29 israelenses. O exército sionista lançou a Operação Escudo Defensivo na Cisjordânia, que tinha o campo de Jenin como um dos principais alvos.

Centenas de casas foram demolidas, deixando duas mil pessoas desabrigadas e inúmeros palestinos assassinados pelo exército de ocupação. Seu amigo Jamal Hawil, disse à Agência Anadolu, que em um momento durante a Batalha de Jenin eles ficaram sem munição: “Eu disse a Zakaria: ‘A luta acabou’. Ele respondeu: ‘Não acabou – somos nós que decidimos quando termina’. Ele se recusou a se render e escondeu entre os escombros até que o exército israelense se retirou, sobrevivendo. 

“Desde crianças, sonhamos o tempo todo com o direito de retorno, mas a ocupação nunca nos deixou sequer sonhar. Desde nossa infância até hoje, vivemos o sofrimento diário, nossa casa foi destruída, anos depois o exército israelense matou minha mãe e meu irmão e nos prendeu, os cinco irmãos”, disse o jovem Zubeidi.

Após inúmeras operações de resistência bem-sucedidas contra o regime israelense, como o ataque em novembro de 2002 ao escritório do Likud em Bet She’an, pelo qual foi acusado pelos sionistas como organizador, e o bombardeio em Telavive em 30 junho de 2004, pelo qual assumiu responsabilidade, Zubeidi foi listado como um dos homens mais procurados por “Israel” na Cisjordânia ocupada e a figura mais poderosa em Jenin. Ele sobreviveu a quatro tentativas de assassinato de “Israel”. 

Em 2007, ele e um grupo de combatentes palestinos entregaram suas armas à Autoridade Palestina como parte de um acordo com “Israel”, que anunciou que Zubeidi seria incluído em uma anistia oferecida aos combatentes das Brigadas al-Aqsa, do Fatá. “Os israelenses sabem que parei a resistência armada para dar uma chance às negociações políticas. É por isso que me foi concedida anistia”, disse ele.

Em 2008, ele foi contratado pelo filho de Arna, Juliano Mer-Khamis, como diretor do Teatro da Liberdade no campo de refugiados de Jenin e usou a arte como método para denunciar a ocupação israelense e a opressão aos palestinos.

Em 28 de dezembro de 2011, Israel revogou sem motivos a anistia de Zubeidi, que foi detido sem acusação pela Autoridade Palestina por seis meses e mais tarde mantido em uma prisão da AP na chamada “custódia protetora”. Em 2017, em liberdade, retomou os estudos e escreveu a tese para seu mestrado na Universidade de Birzeit, intitulada “O caçador e o Dragão: Fugitivo na condição de palestino 1968-2018”, que lhe rendeu o apelido de Dragão.

A tese foi defendida na prisão, já que em 2019, foi preso pela Shin Bet, a agência de segurança da Inteligência de “Israel”, por “suspeita de envolvimento em atividades terroristas”, e permaneceu sem direitos e sem julgamento até se tornar um dos heróis da Operação Túnel da Liberdade da Prisão de Gilboa em setembro de 2021.

A vida de Zubeidi foi marcada por perdas e sacrifícios pela causa palestina. Ele soube da morte de seu pai pelo alto-falante de uma mesquita enquanto estava preso em Jenin e a prisão o impediu de comparecer aos funerais de qualquer membro de sua família.

Seu irmão Daoud sucumbiu aos ferimentos após ser baleado por forças israelenses há três anos. Seu filho Mohammed, de 21 anos, um jovem líder da Brigada de Jenin, foi martirizado quando um drone israelense atingiu o carro em que ele viajava em setembro do ano passado.

Antes da sua libertação, os militares israelenses invadiram e destruíram sua casa em Jenin, e assediaram sua família, algemando-os e vendando-os, incluindo seu filho de 14 anos. Na tentativa de sufocar os ânimos revolucionários, os soldados alertaram a família para não comemorar a libertação de Zakaria.

Depois de libertado pelo Hamas, Zubeidi clamou diante da multidão: “O dragão é o dono da terra, e o caçador é um invasor que deve partir”. A euforia das comemorações evidencia que o apoio à Resistência se estende do coração de Gaza, por toda a Palestina, ao Iêmen, Líbano, Iraque, Irã, e a todos os povos do mundo.  

À Sky News declarou que ainda acredita “em uma resistência que nos levará à liberdade” e culpou o imperialismo por todo o sofrimento do povo palestino: “Minha vida não tem valor sem liberdade. A liberdade não tem preço. Mas o mundo que negou minha liberdade – especialmente a Grã-Bretanha, a França e os Estados Unidos – deve devolver o que tiraram de mim e de meus filhos. São eles que precisam reconsiderar seus erros, não eu. Foram eles que nos prejudicaram e deveriam pensar em retificar os danos que causaram a mim e aos meus filhos.”

A Comissão de Assuntos de Prisioneiros da Autoridade Palestina e o grupo de defesa de direitos humanos Clube de Prisioneiros Palestinos afirmaram que até janeiro, mais de 10.400 prisioneiros eram mantidos em 23 prisões, centros de detenção e investigação israelenses, entre eles, centenas de mulheres e crianças. A Resistência, através do Escritório de Imprensa de Prisioneiros do Hamas, reafirmou seu compromisso de continuar a luta até que todos os prisioneiros palestinos sejam libertos, enfatizando que essa troca “não é o fim, mas uma etapa no caminho para a libertação total”.

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