Ric Jones

Médico homeopata e obstetra. Escritor, palestrante da temática da Humanização do Nascimento no Brasil e no exterior.

Coluna

Humor

"O humor é algo que nos humaniza. Ele mostra nossas falhas e erros; nossa pequenez e nossas incompetências"

Entre as minhas mais antigas manias está tentar descobrir a origem das coisas. Sim, teorias sexuais infantis levadas às últimas consequências. De onde vem os bebês, como chegam lá, mas também porque eles existem? Qual o sentido último de existir? Para quê? Meus colegas do Grupo Vocal DaBocaPraFora ficam bravos quando insisto em perguntar porque cantamos, qual o sentido da harmonia, quem inventou a música e com qual objetivo. Por qual razão os grupos mais primitivos já se reuniam e buscavam o ritmo e a sonoridade, primeiro pela boca e depois por meio dos objetos? Por que arrepiamos os pelos quando reproduzimos, pela voz, notas distintas que, juntas e em sintonia, produzem harmonias? O que esta conexão pelas vozes representa e onde ela nos leva a ponto de nos emocionar pelo som?

A propósito, lembro da conversa com um famoso psicanalista e nossa viagem épica de Santa Catarina até Porto Alegre. Entre xícaras de café, fiz a ele uma pergunta que misturava antropologia com psicanálise: “Qual a origem do inconsciente?” perguntei. Ele deu uma risada e respondeu: “Foi um dia em que dois pré-humanos caminhavam pela floresta e encontraram duas mulheres lavando pedaços de carne à beira do rio. Os dois se entreolharam e um deles perguntou ao seu parceiro (provavelmente com sussurros guturais e gestos) qual delas lhe interessava. O outro apontou para a de cabelos compridos e nádegas amplas. O primeiro, abrindo as mãos espalmadas e encolhendo os ombros, perguntou a razão de sua escolha, ao que o outro, sem o saber, ofereceu a resposta que inauguraria o inconsciente: “Eu não sei”, disse ele, fixando o olhar em seu objeto de desejo”. Claro, meu amigo psicanalista disse isso com a liberdade para, também ele, contar piadas de tiozão do pavê enquanto tentava desvendar o mistério do surgimento do calabouço escuro e úmido dos nossos desejos.

Há alguns dias, li uma pesquisa que apontava a qualidade que mais atrai as mulheres quando se aproximam de um homem: a capacidade de fazê-las rir. Acho curioso, pois o humor refinado das mulheres não é um fator que possa, mesmo que minimamente, competir com peitos e bundas na perspectiva masculina. Mas, por que haveria de ser o humor masculino tão atraente? Por que até o cinema explora esta qualidade dos homens, colocando-a como um elemento a mais no charme dos galãs? Por certo que devem existir estudos e ensaios sobre o humor como elemento constitutivo do “sex appeal” dos machos, mas estou com preguiça de investigar, e por isso vou me limitar a dar minha opinião.

O humor é algo que nos humaniza. Ele mostra nossas falhas e erros; nossa pequenez e nossas incompetências. Ele tira a capa de idealização que criamos sobre pessoas e personalidades – e sobre nós mesmos. Mostra os pés sujos dos políticos, o dente torto da modelo, a tolice do astro do futebol. Também mostra a fragilidade da vida, da beleza, da juventude e do poder. Os tombos, as quedas, a torta na cara, nada mais são do que a exposição de nossos egos frágeis. As piadas mostram nossa face menos bela, desengonçada, falível e delicada. O humor, imagino, pode ter sido criado por aqueles dois amigos, os mesmos que inventaram o inconsciente, quando, depois da escolha pela parceira preferida, um disse ao outro: “é muita areia para seu caminhãozinho”, e riram, mesmo sem saber que os caminhões só seriam criados mais de 1 milhão de anos depois.

Talvez as mulheres se atraiam por homens que não apenas façam gracejos, mas que sejam capazes de fazer piadas sobre si. É possível que o autoesculachamento seja visto inconscientemente por elas como um elemento claro de humanização, que retira do macho a imagem ancestralmente construída do sujeito poderoso, duro, tirano e violento, de cuja fúria ela precisaria proteger até os próprios filhos. Quem sabe esse seja um dos mais potentes elementos de atração, exatamente porque oferece às mulheres uma promessa de suavidade, de cuidado e de respeito mediante uma visão crítica de si.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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