América Latina

Hondurenhos protestam em frente ao TSE contra golpe eleitoral

Protesto em Tegucigalpa exige recontagem “voto por voto” e denuncia ingerência norte-americana após proclamação de Nasry Asfura

Milhares de hondurenhos protestaram na noite de sexta-feira (26), em Tegucigalpa, diante da sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE, equivalente ao TSE) contra a proclamação de Nasry Asfura como presidente eleito. O ato exigiu a recontagem integral das atas e denunciou que, sem a conferência completa do material eleitoral, o resultado anunciado não corresponde ao voto apurado nas urnas em 30 de novembro.

A mobilização reuniu moradores de Tegucigalpa e de Comayagüela, convocados para um plantão pacífico em frente ao órgão eleitoral. O chamado partiu do prefeito da capital e candidato à reeleição, Jorge Aldana, do Partido Liberdade e Refundação (Libre). Segundo os participantes, há centenas de atas com inconsistências apenas na cidade — mais de 400, e, em algumas declarações, 492 — e a verificação “voto por voto” seria necessária para impedir a alteração do resultado municipal, que, de acordo com o Libre, dá vitória a Aldana.

Além das denúncias de fraude, manifestantes também apontaram ingerência norte-americana no processo eleitoral e afirmaram que, a partir de Washington, estaria sendo imposto o nome de Asfura. Em fala durante o protesto, o militante do Libre Rafael Alegría declarou que Aldana venceu a disputa em Tegucigalpa, mas que haveria uma operação para retirar sua vitória: “Jorge Aldana ganhou a prefeitura de Tegucigalpa, mas, como há uma fraude montada, escandalosa, também aqui querem tirar dele o triunfo. Por isso existe mobilização permanente dos simpatizantes do Libre, exigindo que contem as atas — 492 — mas o CNE resiste, porque sabe que, se elas forem contadas, Jorge Aldana ganha a prefeitura”.

Uma das participantes do ato, Alba Rosa Mesa, afirmou que a reivindicação é pela conferência dos votos e contra interferência externa: “já basta de estarem nos roubando, já basta. Queremos liberdade, queremos paz em Honduras. Basta de roubarem nossa dignidade. Somos nós que escolhemos quem vamos colocar; não têm que vir outras nações. Nós, hondurenhos, é que escolhemos em quem votar e em quem não votar”.

O CNE tem prazo até 30 de dezembro para divulgar os resultados completos. A crise em torno da apuração ocorre em meio a relatos de problemas técnicos e denúncias de sabotagem do escrutínio. Neste sábado (28), o órgão eleitoral realizou sessão em formato virtual para definir o mecanismo de “contagem especial” nos níveis de deputações e corporações municipais, a poucos dias da data prevista para a declaração oficial.

Na sessão, o conselheiro Marlon Ochoa afirmou que ainda existem milhares de atas com inconsistências e que seria ilegal declarar resultado sem concluir o escrutínio geral, previsto no artigo 283 da Lei Eleitoral. “Persistem 7.901 atas com inconsistências no nível de deputados e 2.413 no nível municipal; é ilegal fazer uma declaração sem ter finalizado o escrutínio geral”, declarou, pedindo que o plenário discuta uma saída que cumpra a lei sem se basear em processamento parcial.

Do outro lado, a presidente do CNE, Ana Paola Hall, disse que o processo ocorreu em “ambiente hostil”, com ameaças, problemas administrativos e falta de apoio institucional, e defendeu que as condições operacionais atrasaram o trabalho por quase um mês. Ainda assim, afirmou que o órgão fará a declaração no prazo. A conselheira Cossette López também relatou limitações operacionais e “abandono técnico” em áreas centrais do escrutínio e apontou falhas no trabalho de validação de atas.

Hall e López informaram que, na noite anterior, o CNE realizou correções manuais em 4.084 atas em diferentes departamentos do país, como Atlántida, Colón, Comayagua, Copán, Choluteca, El Paraíso, Gracias a Dios e Islas de la Bahía, afirmando que o ajuste ajudou a avançar no fechamento da apuração. Ochoa, no entanto, criticou o procedimento e alertou que autorizações para correções em larga escala, citando a possibilidade de corrigir 7.697 atas de deputações e 5.581 municipais, abrem margem para alterações em bases de dados sem garantias suficientes, o que comprometeria a rastreabilidade do sistema.

Ochoa também afirmou que, 26 dias após as eleições, o CNE ainda não teria uma base consolidada com todos os resultados, mantendo pendentes 7.901 atas de deputações e 2.413 municipais. Disse ainda que o envio massivo de atas “corrigidas” poderia afetar 3.168 atas já validadas, com impacto na composição do Congresso e nas administrações municipais. Por isso, exigiu que a comissão de acompanhamento do TREP detalhe antecipadamente quais atas serão modificadas, quais urnas serão ajustadas e com quais critérios técnicos.

Em meio à disputa, o ex-presidente Manuel Zelaya Rosales, coordenador do Libre, convocou nova mobilização e acusou manobras no CNE para reverter resultados municipais e legislativos, sobretudo em Tegucigalpa. Segundo ele, há uma trama para impor um resultado conveniente ao bipartidarismo e ao lobby norte-americano. “As manobras do bipartidarismo no CNE são evidentes, e continua a trama da fraude dos 26 áudios para desconhecer a vitória incontestável de Jorge Aldana, que está de guarda com suas atas na mão exigindo voto por voto. As mais de 9.000 atas contestadas também não serão escrutinadas, do jeito que as coisas vão”, afirmou.

Zelaya chamou a militância a se concentrar presencialmente na capital e marcou um ato para segunda-feira (29), às 16h, no INFOP, em resistência pacífica, exigindo contagem voto por voto e a preservação do resultado. A declaração oficial do CNE está prevista para terça-feira, 30 de dezembro, em meio às denúncias de que a proclamação de Asfura estaria sendo levada adiante sem a conclusão do escrutínio especial e sem o encerramento da apuração geral.

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