Tem um setor da esquerda que parece o personagem do filme O Dorminhoco, de Woody Allen, no qual um sujeito é congelado e acorda no futuro em um mundo completamente mudado e dominado por um governo autoritário. O problema é que essa esquerda que foi “congelada” no governo Biden não percebeu que o mundo não mudou, ou, pelo menos, que o passado não era melhor do que o presente.
A matéria O ultra-direitista Donald Trump está de volta ao poder: é necessário enfrentá-lo nas ruas, publicada no sítio da CST (Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores) neste 23 de janeiro, revela a histeria que se instalou em grande parte da esquerda, um setor que levado pelo desespero, quer enfrentar Donald Trump, mas nada fez contra o governo preferencial do imperialismo, comandado por Joe Biden.
Essa esquerda não combateu Biden porque o apoiou abertamente, porque se rendeu ao imperialismo e se tornou uma linha auxiliar do Partido Democrata americano. Uma prova disso aparece logo no primeiro parágrafo que diz “em meio a uma onda de frio, uma expressão evidente das mudanças climáticas negadas pela extrema direita, Donald Trump tomou posse”.
A ocorrência de ondas de frio não deveriam assustar ninguém, especialmente se considerarmos o fato de os Estados Unidos estarem em pleno inverno. Não é apenas a extrema direita que nega as tais “mudanças climáticas”, muitos cientistas contestam essa propaganda. E, o que mais nos interessa, é que essa questão do clima é utilizada com finalidades políticas.
Aqui no Brasil, por exemplo, temos ONGs e políticos financiados pelo imperialismo que se opõem a exploração do petróleo brasileiro, defendendo o uso de “energia verde” – um conceito falacioso –, e que a queima de combustíveis fósseis vai piorar o clima, destruir nosso planeta, etc.
Enquanto isso, os países ricos perfuram poços de petróleo à vontade, no mundo inteiro e pressionem para deixarmos nosso óleo no subsolo, pois eles mesmos querem abocanhar essa incalculável riqueza.
O Estado não é burguês?
O texto da CST reclama que na posse de Trump estava repleta de bilionários como Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckeberg, o que “demonstra que o governo de Trump será um representante dos CEOs das grandes corporações transnacionais”. Com Joe Biden era diferente? O democrata não representava ninguém? Os interesses de quem estavam sendo defendidos quando no governo Obama (que tinha Biden com vice) se tramou o golpe contra Dilma Rousseff? Quais interesses estão por trás do conflito na Ucrânia, ou da pressão sobre a China?
Também ficaram assustados dizendo que “seu discurso [de Trump] de meia hora foi caracterizado pela arrogância, pela prepotência e pelo ultranacionalismo. ‘A América recuperará seu lugar de direito como a maior, mais poderosa e mais respeitada nação da Terra, inspirando medo e admiração ao redor do mundo’. Referindo-se ao Canal do Panamá, afirmou ameaçadoramente: ‘e nós vamos recuperá-lo’”.
A CST por acaso acha que esse discurso é menos grave daquilo que Joe Biden faz na prática? O avanço da OTAN que obrigou a Rússia a fazer uma operação militar especial na Ucrânia não deve inspirar medo? Que diferença substancial existe entre ameaçar tomar o Canal do Panamá e querer separar Taiuan da China? Se é para ter medo, deveriam ficar apreensivos com a quantidade de vezes que se fala de uma guerra atômica.
Ataque às minorias
Segundo a matéria, Trump “chamou os imigrantes de criminosos: ‘muitos deles vieram de prisões e instituições psiquiátricas, e entraram ilegalmente em nosso país vindos de todas as partes do mundo’”. Biden, porém, não tratou melhor os imigrantes. Na verdade, Biden e sua vice, Kamala Harris, são responsáveis pelo aprisionamento em massa de negros e latinos nos EUA.
O texto diz também que Trump “confirmou seu caráter misógino e antidireitos ao afirmar que ‘será a política oficial do governo dos Estados Unidos que haja apenas dois gêneros, masculino e feminino’”. Sim, isso é reflexo da rejeição que as pessoas têm da política identitária, mas que a esquerda abraçou. Especialmente porque muitas ONGs financiam essa ideologia.
“Trump assinou uma série de decretos, que prenunciam o caráter profundamente antipopular de seu governo e marcam uma ofensiva, com ataques aos direitos do povo estadunidense e dos povos do mundo”. Quando Biden manda dinheiro do contribuinte para uma guerra por procuração na Ucrânia, está atacando violentamente os direitos do povo americano, que chega a pagar US$4 milhões por um único míssil Patriot. Os povos do mundo também vêm sofrendo horrores nas mãos dos “democratas”. Basta ver o que ocorre no Líbano, na Síria, Ucrânia, Palestina, etc.
Os dorminhocos
A CST diz que a nova administração de Trump “não trará nenhum tipo de melhoria para o povo trabalhador, para as mulheres, para a juventude e nem para os imigrantes. Nada pode ser esperado em benefício dos povos do mundo, dos palestinos, do povo ucraniano e de outros povos explorados e oprimidos”. Onde estava essa gente últimos nestes últimos quatro anos?
Quem estava bombardeando mulheres no Afeganistão? Quem armou os sionistas para massacrar mulheres e crianças na Palestina? Quem forçou o conflito na Ucrânia? Quem mandou a polícia espancar jovens norte-americanos que protestavam contra o genocídio na Faixa de Gaza?
Essa gente parece que estava em estado de suspensão e acaba de acordar. De repente, um mundo que era bom pode entrar em colapso.
O pior é que eles sequer leem aquilo que escrevem, pois afirmam que “Trump continuará a exploração do povo trabalhador estadunidense e a pilhagem dos povos do mundo”. Ora, se vai continuar, é porque isso já vinha acontecendo. E se é assim, por qual motivo não pensaram em sair às ruas contra Joe Biden?
A esquerda identitária, democrata, está se levantando contra Trump porque ele também está sendo atacado pelo imperialismo. E não se levantou contra Biden porque este é o representante do grande capital.
Estamos diante de uma esquerda dominada pelo imperialismo e que reage a todos os seus comandos, seja para levar adiante a política identitária, para atacar governos que estejam enfrentando o imperialismo, para militar em favor das “mudanças climáticas”, ou esbravejar contra um presidente sob pressão dos monopólios.
O ataque histérico dessa esquerda filoimperialista tem um propósito inconfessável, que é o de ocultar os crimes de Joe Biden que, além de todos os crimes que praticou, colocou o mundo à beira de outra guerra mundial.
