HISTÓRIA DA PALESTINA

Hiba Abu Nada: a jovem escritora assassinada pelo sionismo

Morta aos 32 anos, Nada era reconhecida como uma das mais talentosas escritoras contemporâneas de Gaza

Hiba Kamal Abu Nada, nascida em 24 de junho de 1991 em Meca, na Arábia Saudita, foi uma poetisa, romancista e nutricionista palestina assassinada aos 32 anos pelo regime genocida de “Israel” em 20 de outubro de 2023, num bombardeio covarde que destruiu sua casa em Khan Yunis, na Faixa de Gaza. Filha de uma família de refugiados da Nakba – a catástrofe de 1948, quando o movimento sionista, apoiado pelas potências imperialistas, expulsou mais de 700 mil palestinos de suas terras –, Nada cresceu em Gaza após um periodo com a família vivendo em Meca, onde buscavam escapar da penúria provocada pela ditadura sionista.
Formou-se em bioquímica pela Universidade Islâmica de Gaza e conquistou um mestrado em nutrição clínica na Universidade Al-Azhar. Não satisfeita em apenas sobreviver às condições impostas pela ocupação, ela trabalhou no Centro Rusul para a Criatividade, ligado ao Instituto al-Amal para Órfãos, em Beit Hanoun, dedicando-se a crianças que perderam tudo para os ataques sionistas.
Estreou na literatura em 2017, com o aclamado romance Oxygen is Not for the Dead (“O Oxigênio Não é para os Mortos”, em tradução livre, inédito para o português), obra que lhe valeu o segundo lugar no 20º Prêmio Sharjah de Criatividade Árabe. Escrita em uma prosa cortante e poética, Oxygen is Not for the Dead mergulha no cotidiano de Gaza sob o jugo sionista: os cortes de energia, os bombardeios que zumbem dia e noite, os corpos que se acumulam nas ruas. Nada não romantizava a tragédia; ela a desnudava, mostrando como a resistência palestina brota das cinzas da destruição. O livro, que mistura ficção e testemunho, é um soco no estômago do ocupante e de seus cúmplices ocidentais, que fingem não ver o genocídio em curso.
A trama se desenrola em Gaza, convertida em uma prisão a céu aberto onde os personagens enfrentam a morte iminente e a escassez de recursos básicos, onde a vida é sufocada pela ocupação. Sem uma narrativa linear, o livro usa uma estrutura fragmentada para refletir a desorientação de um povo sob ataque constante. Nada, que viveu essa realidade, dá voz às angústias de Gaza: filas por água, hospitais lotados, o som dos caças que anunciam mais destruição. Um dos eixos centrais é a denúncia da política nazista de “Israel”, que usa a morte e o terror como ferramenta de controle, asfixiando os palestinos física e espiritualmente.
Mesmo assim, Oxygen is Not for the Dead exalta a luta palestina. Seus personagens – o jovem que sonha com liberdade, a mãe que enterra filhos, o idoso marcado pela Nakba – são arquétipos de uma sociedade que resiste. A linguagem poética contrasta com a brutalidade do cenário, criando um retrato de Gaza: um lugar de beleza e sofrimento. Para a jovem autora, escrever era lutar contra a máquina de guerra de “Israel” e seus aliados imperialistas, conectando a tragédia individual à luta coletiva.
Ativista, Nada também advogou pelos direitos das mulheres palestinas, em uma conjuntura na qual a ocupação as atinge duplamente: como mães, esposas e irmãs de mártires, e também como alvos diretos da violência sionista. Em 2021, ela se voluntariou como revisora linguística no programa WikiWrites, contribuindo para a Wikipedia árabe com artigos que resgatavam a história e a cultura de seu povo. Era uma forma de combater a censura imperialista, que tenta apagar a história palestina enquanto “Israel” bombardeia escolas e bibliotecas.
No dia 20 de outubro de 2023, após a histórica operação Dilúvio de Al Aqsa ser desatada, aviões israelenses financiados pelos bilhões de dólares do imperialismo norte-americano, arrasaram um bairro residencial em Khan Yunis, como parte da campanha genocida que já até o momento, já assassinou quase 50 mil pessoas, oficialmente. Nada e sua família estava em um dos imóveis alvejados. Dias antes, no dia 8, escrevera “a noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios, assustadora, exceto pela garantia das súplicas”. Poucos dias antes de falecer, dedicou as seguintes linhas de enaltecimento da resistência palestina: “se morrermos, saibam que estamos fartos / de tendas, de ruínas, de humilhações”.
Carregadas de dignidade, essas linhas são um chamado à luta e um lembrete de que a Palestina não pode mais se curvar diante do terror sionista. Ela se junta a outros mártires da cultura, como o poeta Refaat Alareer, também assassinado por “Israel” em dezembro de 2023, numa linhagem de intelectuais mortos por “Israel”.
Nada não viveu o bastante para ver a histórica vitória conquistada por seu povo. Apesar disso, o desenrolar do conflito deixou claro que a história da Palestina, escrita com sangue e tinta, não será calada, mas conquistará muito mais, até a vitória final, com a libertação da nação ocupada, que será cantada por outras vozes.

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