O escândalo sobre a relação do ministro Alexandre de Moraes com o Banco Master revela uma mudança significativa na política nacional. Pelo volume do dinheiro envolvido, pelo tipo de acusação e, sobretudo, pela origem do ataque — o núcleo duro da imprensa burguesa —, trata-se de um sinal de que a figura-chave de toda uma política criminosa e ilegal pode estar entrando na fase em que deixa de ser útil e passa a ser um problema.
Alexandre de Moraes não se tornou, de maneira espontânea, o ministro “todo-poderoso” do Supremo Tribunal Federal (STF). O poder extraordinário que acumulou nos últimos anos foi uma delegação política. Em momentos de crise do regime, quando a burguesia e suas instituições não conseguem estabilizar o país pelo funcionamento “normal”, recorre-se a figuras de exceção: personagens capazes de impor medidas arbitrárias, acelerar decisões e aplicar repressão política com o selo de “legalidade”.
Nesse sentido, Moraes se converteu em um instrumento central de um tipo de regime governado cada vez mais pelo judiciário, no qual decisões fundamentais do país passam por cima do voto popular, do debate público e até das regras mínimas do próprio Estado de direito.
O problema é que instrumentos desse tipo, quando ganham vida própria, viram risco. Um ministro com poderes excepcionais, que opera como polícia, juiz e legislador ao mesmo tempo, não serve apenas para perseguir inimigos da burguesia ou conter crises pontuais: ele também cria atritos dentro da própria classe dominante. E, quando esses atritos se combinam com negócios milionários, relações suspeitas com banqueiros e indícios de lobby dentro do coração do Estado, o “operador” pode virar um passivo político.
É nesse ponto que a história se repete.
O Brasil já viu esse filme com Joaquim Barbosa, celebrado como “justiceiro” do Mensalão e depois “aposentado”; e com Sérgio Moro, alçado a salvador nacional na Lava Jato e, mais tarde, descartado quando a operação começou a produzir instabilidade demais. Em ambos os casos, não se tratou de um julgamento moral posterior: tratou-se de um cálculo da classe dominante. Enquanto cumpriram uma função, foram protegidos e promovidos. Quando deixaram de cumprir, foram isolados.
A crise foi iniciada pela própria burguesia, que planeja uma operação política controlada: abre-se uma crise, mede-se a reação, coloca-se o alvo na defensiva e prepara-se o terreno para uma solução dentro dos limites do regime. A própria timidez inicial da cobertura e o cuidado de não manter o assunto em destaque mostram esse controle.
A questão central, para o povo trabalhador, não é se Moraes vai cair por impeachment, renúncia ou irá se isolar devido à desmoralização progressiva. O mais importante é aquilo que o episódio revela: o Judiciário, que se vende como instância “técnica” e “imparcial”, opera como parte integrante da política da burguesia.
Para os aspirantes a “juiz todo-poderoso”, fica, mais uma vez, a lição de como a burguesia trata os seus “heróis”.





