Sayid Tenório

Historiador, especialista em Relações Internacionais e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (Anita Garibaldi/Ibraspal). Twitter/X: @soupalestina

Coluna

Hasbara: a fábrica de mentiras do sionismo

A Hasbara é a continuação da ocupação por outros meios, uma ocupação da mente e da palavra, com farto apoio das big techs.

Por décadas, “Israel” tem utilizado a Hasbara, um termo hebraico que significa “explicação”, como escudo ideológico e arma psicológica em sua guerra permanente contra a verdade.

Por trás desse nome inofensivo esconde-se uma das mais sofisticadas máquinas de propaganda já criadas: um sistema global de manipulação, censura e desinformação, estruturado para justificar a ocupação da Palestina, apagar crimes de guerra e calar quem ousa denunciar o apartheid israelense.

Durante anos, a Hasbara dominou a narrativa internacional, transformando vítimas em agressores e ocupantes em defensores. Mas a guerra em Gaza, deflagrada em 7 de outubro de 2023, rasgou o véu dessa farsa.

Nenhum algoritmo, nenhuma campanha de relações públicas e nenhum exército digital conseguiu apagar as imagens de genocídio: bairros inteiros arrasados, crianças mutiladas, hospitais reduzidos a escombros. Diante dessa brutalidade, o discurso de “autodefesa” desmoronou. A máquina da mentira sionista começou a expor suas rachaduras.

A Hasbara nasceu junto com o próprio sionismo político. No início do século XX, o líder sionista judeu-polonês, Nahum Sokolow, cunhou o termo para substituir “propaganda” com o objetivo de contar a história do colonialismo judaico na Palestina como um “retorno à terra prometida”, e não como uma ocupação violenta sobre um povo originário que já vivia ali há milênios.

Desde então, a Hasbara tornou-se o centro ideológico do projeto sionista. Seu papel é transformar o opressor em vítima e o oprimido em terrorista. Assim, qualquer denúncia de massacre é “antissemitismo”, qualquer solidariedade à Palestina é “terrorismo”. O código da Hasbara é inverter a realidade, criminalizar a empatia e justificar o injustificável.

O salto da Hasbara de uma narrativa defensiva para uma ofensiva global ocorreu após a invasão israelense do Líbano, em 1982, e os massacres de Sabra e Chatila, onde cerca de 3.500 civis palestinos foram assassinados.

A partir dali, a Hasbara foi institucionalizada com ministérios, orçamentos milionários e redes de lobby integradas a governos, universidades, meios de comunicação do Ocidente.

O objetivo era claro: moldar a percepção global. Já não importava o que “Israel” fazia, mas o que o mundo via e ouvia sobre o que “Israel” fazia. A ocupação foi transformada em “segurança”, o apartheid em “autodefesa”, o genocídio em “conflito”. A verdade foi sequestrada pela retórica sionista.

Com o avanço das redes sociais, o regime israelense investiu milhões na criação de unidades digitais compostas por militares, especialistas em mídia e voluntários organizados como “soldados digitais”. O objetivo era inundar a internet com conteúdo pró-“Israel”, manipular algoritmos, atacar jornalistas e silenciar vozes palestinas.

Essas operações são conduzidas em parceria com empresas de tecnologia e redes de lobby. Há treinamento, financiamento e até bolsas de estudo para estrangeiros que promovam a narrativa israelense online. Manuais ensinam como desqualificar críticos, inclusive judeus antissionistas, com o rótulo de “antissemitas” ou “simpatizantes dos terroristas”.

Em síntese, a Hasbara é a continuação da ocupação por outros meios, uma ocupação da mente e da palavra, com farto apoio das big techs.

Mas a guerra em Gaza revelou os limites da mentira. Apesar da censura e das campanhas orquestradas, a verdade rompeu o bloqueio. As imagens de destruição e mortes e testemunhos diretos vindos de Gaza circularam por milhões de telas e corações. A retórica de “combate ao terrorismo” já não convence. A Hasbara foi desmascarada: o mundo viu o genocídio em tempo real.

A repercussão é incontestável. Pesquisa do Pew Research Center (2025) mostrou que, em 20 dos 24 países analisados, a maioria da população vê “Israel” de forma negativa. 93% na Turquia, 80% na Indonésia, 78% na Holanda, 75% na Espanha e na Suécia. Até nos EUA, a desaprovação cresceu de 42% em 2022 para 53% em 2025, atingindo 69% entre democratas e 71% entre jovens.

A Hasbara perdeu o monopólio da narrativa. As redes sociais, que antes eram seu campo de batalha controlado, tornaram-se trincheiras da verdade, espaços onde palestinos, jornalistas independentes e movimentos de solidariedade global desafiam o império da manipulação.

A Hasbara nasceu para justificar o injustificável: a limpeza étnica de 1948, o apartheid, os bloqueios, os assassinatos e a colonização contínua. Mas nenhuma máquina de propaganda é eterna. Quando a verdade se torna visível, a mentira implode.

Hoje, diante do genocídio em Gaza, o mundo desperta. A Hasbara ainda opera com seus exércitos de robôs, seus porta-vozes e seus aliados na mídia ocidental, mas sua credibilidade sangra. Quanto mais “Israel” tenta controlar a narrativa, mais evidente se torna sua hipocrisia.

A propaganda pode manipular manchetes, mas não pode apagar sonhos.

E a Hasbara, outrora o escudo do sionismo, tornou-se o espelho que reflete a falência moral e histórica de um regime que se sustenta no engano e no sangue dos palestinos que, apesar disso, a Resistência palestina seguirá o caminho traçado pelos mártires, até que a Palestina seja libertada, do Rio ao Mar.

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