Editorial

Haddad e Galípolo, a dupla que não liga para o sofrimento do povo

Ministro da Fazenda saiu em defesa da picaretagem do presidente do Banco Central

O recente aumento da taxa de juros para 14,25%, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), é mais um exemplo do fracasso da política de adaptação do governo Lula frente aos interesses do grande capital. Sob a direção de Gabriel Galípolo, o presidente do Banco Central não apenas aceitou as imposições dos bancos, mas também consolidou uma política econômica anti-trabalhador que vai na contramão do que foi prometido na campanha eleitoral pelo presidente Lula.

Nada de diferente poderia ser esperado. Galípolo é um funcionário dos bancos e homem de confiança do presidente anterior da instituição, o bolsonarista Roberto Campos Neto. O grotesco é que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), saiu em defesa do Galípolo, dizendo que não seria possível dar um “cavalo de pau” na política estabelecida por Campos Neto.

Não há desculpa que justifique a manutenção dessa política econômico assassina, que penaliza a classe trabalhadora para garantir o pagamento de juros exorbitantes aos banqueiros. A escolha de Gabriel Galípolo para o Banco Central expressou uma capitulação de Lula diante do capital financeiro. Ao contrário do que Haddad quer fazer parecer, ninguém está “obrigado” a manter a política criminosa de Campos Neto. Trata-se de uma escolha política.

Haddad segue a cartilha neoliberal ao justificar o aumento da Selic como algo “contratado” pela gestão anterior, como se não houvesse alternativa. A verdade é que o ministro está mais preocupado em garantir o “equilíbrio fiscal” — ou seja, o pagamento trilionário da dívida pública — do que com o bem-estar do povo. A criação de um teto para o aumento do salário mínimo e a restrição do abono salarial são ataques diretos aos trabalhadores mais pobres, que já sofrem com salários miseráveis e condições precárias, e mostram de que lado está Haddad.

O ataque não para por aí. O Plano Haddad, pacote fiscal anunciado no ano passado, prevê, ainda, uma série de cortes nos programas sociais e na renda da população mais vulnerável. O Bolsa Família, que deveria ser um instrumento de assistência social, está sendo transformado em um mecanismo de controle e humilhação, com exigências absurdas de recadastramento e até vistorias domiciliares.

O governo Lula foi eleito com a promessa de colocar o povo no orçamento, mas está indo na contramão: o pacote de medidas neoliberais de Haddad, reforçado pela política monetária de Galípolo, serve apenas aos interesses dos banqueiros. Ao permitir que a política de Campos Neto siga inalterada, o governo Lula se confunde com os governos anteriores, como o de Jair Bolsonaro e Fernando Henrique Cardoso. Essa política não só desmoraliza o próprio governo, mas também coloca em risco a mobilização popular que foi fundamental para derrotar a direita nas urnas.

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