Na última sexta-feira (30), a desaprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atingiu 53,7%, o maior índice desde o início de seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, segundo pesquisa da AtlasIntel. A aprovação caiu para 45,4%, com 0,7% dos entrevistados sem opinião. Realizado entre 19 e 23 de maio, o levantamento aponta o impacto de crises sucessivas, como o escândalo de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e as pressões econômicas decorrentes da política fiscal rapace do ministro da Fazenda Fernando Haddad.
O aumento da desaprovação, em ascensão desde meados de 2024, ganhou força com o caso do INSS, que levou à demissão do ministro da Previdência Social e à saída do PDT da base aliada. Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), composta por parlamentares do PL, intensificou as críticas da oposição, que acusa o governo de negligência. Medidas econômicas, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado na última quinta-feira (22), que elevou alíquotas para empresas e algumas operações, geraram reações negativas crescentes da população e animando a direita a recriar campanhas como a de que este seria um governo corrupto e perdulário.
A trajetória de declínio na popularidade foi registrada por levantamentos anteriores, com destaque para a Genial/Quaest de 27 de janeiro de 2025, que pela primeira vez, registrou uma desaprovação (49%) superior à aprovação (47%). Realizada entre 23 e 26 de janeiro com 4.500 entrevistados, a pesquisa destacou a condução da economia e o não cumprimento de promessas eleitorais como principais fatores de insatisfação.
A desaprovação cresceu entre mulheres (47%, ante 44% em dezembro de 2024) e no Sul (59%, ante 52%). Entre jovens de 16 a 34 anos, 52% desaprovavam o governo, enquanto a aprovação caía para 45%.
Em abril, a Genial/Quaest revelou piora significativa: a desaprovação atingiu 56%, e a aprovação caiu para 41%. Conduzida entre 27 e 31 de março com 2.004 entrevistados, a pesquisa mostrou insatisfação em todas as regiões, especialmente no Nordeste, onde a aprovação caiu de 59% para 52% e a desaprovação subiu de 37% para 46%. Pela primeira vez, a desaprovação superou a aprovação entre mulheres (53% contra 43%) e empatou tecnicamente entre os mais pobres, com renda de até dois salários mínimos. A pesquisa indicou que 53% consideram o atual governo pior que os mandatos de Lula entre 2003 e 2010, enquanto 43% o avaliam como inferior ao de Jair Bolsonaro (PL).
No final de fevereiro, outro levantamento da Genial/Quaest, em oito estados, apontou desaprovação acima de 60% em seis deles: São Paulo (69%), Minas Gerais (63%), Rio de Janeiro (64%), Paraná (68%), Rio Grande do Sul (66%) e Goiás (70%). Mesmo em redutos históricos do PT, como Bahia e Pernambuco, a desaprovação superou a aprovação, com quedas de 19 e 16 pontos na aprovação, respectivamente. Esses dados reforçam a crise de confiança, agravada por escândalos e medidas econômicas impopulares.
O escândalo do INSS, em destaque desde abril, tornou-se um marco no desgaste do governo. Embora o esquema tenha origem no governo anterior, a oposição, liderada pelo PL, responsabiliza Lula por falhas na fiscalização. A demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, além da saída do PDT, evidenciam o impacto político. Há um ano das eleições, a CPMI do INSS se esforça para manter o caso em evidência, com a oposição explorando o episódio nas redes sociais ao máximo.
A crise do INSS, porém, não é um evento isolado. Desde o início de 2025, o governo enfrenta problemas que alimentam a insatisfação. Tendo estourado na esteira da primeira pesquisa a registrar a desaprovação maior do que a aprovação, a crise do pix começou quando uma norma da Receita Federal determinou que movimentações acima de R$5 mil para pessoas físicas deveriam ser informadas ao órgão.
Com o clima propício produzido pela política econômica recessiva, a população foi tomada pelo receio de uma possível taxação do sistema de pagamento pix. Apesar de o governo afirmar que a medida visava apenas monitoramento fiscal, ninguém acreditou, o que levou a uma queda no uso do sistema de pagamentos, uma expressão velada da desmoralização do governo junto ao povo.
Com um prejuízo político imenso, o governo recuou, revogando a norma e anunciando Medida Provisória garantindo que o PIX não seria tributado, mas o estrago já estava feito. Demonstrando que o temor popular tinha base, o ministro Haddad sequer esperou a crise do INSS ser melhor digerida para anunciar aumento do IOF, ampliando o descontentamento. A pesquisa Genial/Quaest de março mostrou que 56% dos brasileiros acreditam que a economia piorou nos últimos 12 meses, refletindo o impacto das decisões de Haddad, cuja política é um dos principais obstáculos ao crescimento econômico.
A pesquisa AtlasIntel de maio destacou a corrupção como principal problema, citada por 60% dos entrevistados, ante 47% em abril. Na avaliação qualitativa, 52,1% classificaram o governo como “ruim ou péssimo”, 41,9% como “ótimo ou bom” e 6% como “regular”. Em abril de 2024, a aprovação (50,3%) superava a desaprovação (43,4%), mas desde novembro de 2024 a desaprovação é majoritária.
O governo Lula enfrenta um momento de crise contínua, caracterizado por uma sequência de problemas que se retroalimentam, minando sua popularidade. O escândalo do INSS, embora não diretamente responsabilidade da atual gestão, caiu no colo do presidente, amplificando a percepção de ineficiência.
Fundamental para o desgaste, porém, a política econômica de Haddad, com aumento de impostos e foco no ajuste fiscal pela via dos cortes nos programas que beneficiam a população pobre, intensifica o impacto negativo dessas crises, gerando insatisfação entre a base lulista. A direita (incluindo os “aliados” da frente ampla), aproveita para manter a pressão, utilizando a CPMI e as redes sociais para desgastar o governo.
Há pouco mais de um ano das eleições presidenciais de 2026, o cenário é alarmante: o tempo curto até o período de campanha torna os resultados negativos ainda mais graves, exigindo do governo uma mudança urgente para recuperar a confiança popular. Sem ações para reverter a narrativa negativa e atender às demandas da população, o governo Lula corre o risco de aprofundar sua crise de popularidade, comprometendo suas chances em 2026 e aumentando as do plano Milei para o Brasil.



