Há um ano, em 8 dezembro de 2024, o então presidente sírio legítimo Bashar al-Assad e sua família receberam asilo político em Moscou, na Rússia, e declarou sua renúncia. O governo de 53 anos da família Assad chegou a um fim abrupto após uma ofensiva de 11 dias liderada pelo Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), um braço da Al-Qaeda. Hoje, a Síria pós-Assad enfrenta uma onda de violência contínua, com assassinatos que continuam e com a justiça de transição lenta e reformas pró-imperialistas não concluídas.
“Sabemos quem cometeu massacres contra nós, eles ainda estão presentes em nossas casas. Mas para apresentar uma queixa, você precisa de provas, e quem as tem? ”, afirmou Ali, um profissional de imprensa digital, ao The Guardian.
No final de outubro passado, Riham Hamouyeh, uma professora alauíta de 32 anos em Homs, foi morta quando atacantes lançaram uma granada em sua casa, na frente de seus dois filhos pequenos. Seu marido, um ex-mecânico do exército, havia sido preso dois meses antes, e a família sofria assédio há muito tempo.
“Ninguém está confortável; estamos todos exaustos. Minha esposa desmaiou, ela não abre mais a porta”, relatou o sogro de Hamouyeh, Mohammed Issa Hameidoosh, de 63 anos.
A morte dela faz parte de uma série de assassinatos seletivos que ocorrem quase diariamente na cidade multiconfessional de Homs, apesar de uma suposta anistia geral concedida pelas novas autoridades àqueles que não são acusados de crimes diretos.
A nova liderança da Síria reintegrou o país alinhando aos interesses imperialistas, rechaçando a articulação da Síria junto ao Eixo da Resistência.
O presidente Ahmad al-Sharaa atraiu a atenção da imprensa por sua atuação diplomática pró-imperialista, estreitando laços com o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, e participando de conferências internacionais. As imagens de al-Sharaa no Salão Oval despertaram admiração na burguesia síria.
Para a comunidade internacional liderada pelos Estados Unidos, al-Sharaa representava uma oportunidade de atender as exigências dos interesses imperialistas depois de 14 anos de guerra, aprofundando a instabilidade na região, da qual a Síria continua sendo vítima.
Embora a Síria tenha feito acelerado os esforços no cenário internacional sob a presidência de Ahmad al-Sharaa, as tensões sectárias profundas continuam a desafiar a frágil recuperação do país, impedindo a sua soberania com as ações do novo “governo” ilegitimo. Quatro dias de massacres em março, perpetrados por forças governamentais e a elas ligadas, bem como por outras facções armadas, contra civis predominantemente alauítas ao longo da costa síria, seguidos por assassinatos contínuos, deixaram a comunidade minoritária com a sensação de estar sitiada, demonstrando haver repressão a minoria, revelaram a instabilidade e monstruosidade do novo regime.
Em julho, o alarme aumentou ainda mais quando forças de segurança do governo e elementos tribais aliados mataram os civis drusos na província de Sweida, no sul do país, intensificando os temores entre as minorias religiosas e étnicas. Desde os massacres, Sweida está praticamente isolada do resto do país, e os moradores locais se uniram em torno do líder druso linha-dura Hikmat al-Hijri, que exige maior autonomia como uma forma de fragmentar a unidade nacional síria.
Radwan Ziadeh, um escritor sírio próximo ao presidente Sharaa, alertou: “Há algumas instituições que dão indícios de que estão tentando construir um sistema mais autoritário. Elas não permitem que partidos políticos funcionem. Ninguém pode organizar reuniões políticas sem a permissão do gabinete [de assuntos políticos]”.





