Durante participação no programa Brasil Agora, transmitido pela TV 247, o historiador Fernando Horta afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria tentando transformar o Brasil “num campo de guerra” com sua postura diante das instituições. Disse ele:
“Ele [Jairo Bolsonaro] está, na realidade, usando uma estratégia antiga na América Latina, que foi utilizada na Venezuela por Leopoldo López. Vamos lembrar: quando López entra em disputa contra Chávez na Venezuela, acaba incorrendo em uma série de crimes, facilitando a entrada de contingentes internacionais dentro da Venezuela para ajudar no golpe e promovendo ações terroristas para tentar desestabilizar o governo. Quando foi preso, se colocou como vítima e fez com que a comunidade internacional, já contrária à Venezuela, o reconhecesse como herói nacional.
Bolsonaro está tentando repetir essa fórmula. E isso é muito preocupante, porque ele está tentando transformar o Brasil num campo de guerra.”
Uma vez mais, a esquerda pequeno-burguesa se perde em sua análise política por ignorar o seu aspecto mais importante: a luta entre as classes sociais.
Leopoldo López, ao contrário de Bolsonaro, realmente tentou derrubar o governo chavista. Em 2014, López dirigiu uma campanha chamada “La Salida” (“A saída”), que tinha como objetivo derrubar o presidente Nicolás Maduro. A campanha era não apenas golpista, como fascista, contando com vários episódios de violência física contra os apoiadores do presidente. Ao menos 40 pessoas foram mortas.
Essa, no entanto, não é a única diferença. A investida de López só foi tão forte contra Maduro porque ele contava com o apoio do imperialismo para derrubar o chavismo. É público e notório que a campanha de López era financiado por Organizações Não Governamentais (ONGs) e fundações diretamente ligadas ao Departamento de Estado dos Estados.
Naquele período, a Venezuela de fato viveu uma espécie de guerra civil. De um lado, o chavismo, movimento nacionalista de grande apoio popular. Do outro, a extrema direita, representando os interesses imperialistas no país caribenho.
No Brasil, o cenário é bastante diferente. Não há, em primeiro lugar, uma ofensiva bolsonarista com as características daquela de López. A tal “tentativa de golpe” alardeada pela esquerda pequeno-burguesa foi tão somente uma manifestação desarmada e um conjunto de declarações do ex-presidente da República. Nada comparado ao golpe de Estado que ocorreu no Brasil em 2016. Naquele momento, quem dava declarações era pessoas como o general Eduardo Villas-Bôas, que de fato tinha condições de fazer uso da força. A ameaça de Villas-Bôas ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que este não concedesse habeas corpus a Lula foi um golpe de Estado. A opinião de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas não passa de uma opinião..
O mais importante, no entanto, é que seja quais forem as ambições políticas de Bolsonaro, elas não estão respaldadas pelo imperialismo. Pelo contrário, é o imperialismo que utiliza o STF para tentar forçar Bolsonaro a chegar a um acordo em torno das eleições presidenciais.
Neste sentido, a “guerra” de Bolsonaro, se é de fato que há, é uma guerra contra o STF. Isto é, contra as instituições golpistas, que representam os interesses do imperialismo. Não é uma guerra contra o povo brasileiro, por mais negativo que seja o papel que Bolsonaro cumpra na política nacional.
A verdadeira guerra contra o povo brasileiro está sendo preparada por aqueles que dizem combater Bolsonaro: pela rede Globo, pelo STF, pela Polícia Federal. São os representantes do imperialismo e de sua política genocida.




