Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

GPT5: está acabando o gás?

OpenAI anuncia novo modelo com melhorias incrementais, mas quando vai recuperar os investimentos?

Desde o seu lançamento, o ChatGPT praticamente transformou-se em sinônimo de inteligência artificial. Se o salto de qualidade do modelo GPT3, primeiro oferecido pelo aplicativo, para sua versão 3.5 foi expressivo, a versão 4 já não encantou tanto, efeito que se repete agora mais agravado. As melhorias sutis e incrementais aparecem nos gráficos que demonstram o desempenho dos modelos em conjuntos padronizados de tarefas. Apesar disso, para a maioria dos casos de uso, senão o 3.5, o GPT4 era mais do que suficiente.

O GPT5 promete uma redução drástica no número de “alucinações”, nome publicitário dado ao comportamento errático desses modelos de linguagem, intrínseco a sua natureza estocástica. Determinar essa redução, por outro lado, é tão difícil quanto determinar se o modelo alucina ou não. Se fosse possível detectar uma alucinação, seria possível evitá-la; já que não é, como determinar se houve ou não uma redução no volume de alucinações? Na melhor das hipóteses, dá para dizer que, para determinados casos conhecidos, o novo modelo não alucina mais. Ainda assim, por mais que cometa menos erros, o GPT5 ainda alucina e, portanto, não pode ser utilizado em tarefas que exijam precisão, em que erros incorram um grande prejuízo que supera o ganho de produtividade supostamente oferecido. Para casos de uso crítico, não pode ser empregado como um agente autônomo, como tanto anunciam os publicitários da OpenAI (mas não somente dela, do Google e das demais). Em suma, o modelo precisa ser vigiado por um ser humano.

Os publicitários do Vale do Silício, que agem como se uma inteligência artificial de aplicação geral já fosse realidade, enfrentam cada vez mais dificuldade para compatibilizar seus resultados com a realidade. É como Elon Musk, que provavelmente há mais de uma década promete um veículo que se dirija automaticamente, mas só conseguiu entregar para os consumidores da Tesla um smartphone sobre rodas, um automóvel que vigia seu usuário e está permanentemente conectado à internet. As demonstrações do carro que se dirige são interessantes, mas não são comuns como anunciava o bilionário anos atrás. À frente de seu tempo ou charlatão?

Como quem acompanha esta coluna já deve saber, não queremos dizer que esses modelos (ou carros que se dirijam num contexto limitado) não sejam úteis. São, e muito. O tempo de pesquisa necessário para se encontrar algo na internet com buscadores tradicionais é cada vez maior, e ferramentas como o ChatGPT nos colocaram de volta na era em que ferramentas como Google, Yahoo (e Cadê) revolucionaram como a informação era encontrada na internet. Nunca foi tão conveniente e simples encontrar uma informação, ao pequeno custo de se ter que verificá-la ocasionalmente. Além disso, a interface por texto (ou voz) é uma grande conquista em termos de acessibilidade. Muitas pessoas pouco familiarizadas com tecnologia agora conseguem fazer bom uso dos recursos que temos a disposição interagindo com os sistemas computacionais na forma mais intuitiva para um ser humano: em sua linguagem natural. Há também os usos distópicos para o ChatGPT, como psicoterapia, mas se alguém se sente amparado pelo robô, quem somos nós para dizer que isso não é positivo?

O ponto fundamental que queremos destacar é que, após alguns anos de intensa competição entre alguns monopólios (e alguns azarões chineses), grandes modelos de linguagem estão mostrando seus limites. Não somos só nós que dizemos isso, mas especialistas na área como Yann LeCun, que hoje trabalha na Meta (e um dos responsáveis por popularizar o uso de redes neurais em aprendizagem de máquina). Para ele, o modo de funcionamento desses modelos já está exaurido e a busca por uma inteligência de fato, que consiga entender e interpretar o mundo como um ser humano, vai por outro caminho. Mantemos um ceticismo sobre se é possível criar uma inteligência artificial sem saber em profundidade como funciona sua versão natural. Talvez possamos criar algo que pareça inteligente, como o GPT, que funcione para uma maioria dos casos, mas que fracasse totalmente em casos aparentemente simples. Mas enfim, por mais impressionante que seja um computador comunicando-se por texto conosco, já passou tempo o suficiente para todos percebermos que não se trata de uma inteligência.

Agora, será que os investidores já perceberam a ilusão com os lucros futuros exorbitantes de empresas como a OpenAI? Para os grandes modelos de linguagem restam somente otimizações, barateamento dos custos de treinamento e inferência, e todos convergem para um resultado relativamente parecido. No “pior” dos casos, a solução ficará tão ótima que poderemos executá-la em sua melhor forma em nossos computadores pessoais (um pesadelo para empresas que investiram trilhões na expectativa de aprisionar usuários em suas plataformas). Para todas as empresas envolvidas nesse mercado, com exceção da NVidia, que projeta os chips que executam a computação em larga escala que sustenta esses modelos, a forma como recuperarão o dinheiro não é clara. Talvez como a Tesla? Numa eterna promessa de se consolidar como um grande monopólio… até aparecer uma BYD.

Há ainda outro empecilho: a tal da regulação das inteligências artificiais. Para serem efetivamente úteis, os modelos precisam de acesso a todo tipo de dado disponível, inclusive aquele protegido por leis de propriedade intelectual, o que para nós é mais um grande benefício dessa nova tecnologia. Ainda assim, grandes capitalistas não estão muito confortáveis com esse progresso. Soma-se a isso o amplo acesso à informação que, apesar das “alucinações”, é um grande progresso e dificulta significativamente o controle da população pelas classes dominantes. Nos dizem que o grande perigo são justamente as alucinações, mas os bons entendedores sabem que o perigo é que esses modelos entreguem a verdade à população de conjunto. Impor esse tipo de limitação, além de trabalhoso, atua contra o desenvolvimento da tecnologia.

Nesse cenário, qual será a grande novidade do GPT6? Será que o gás acabou? 

PS: o GPT5-pro, melhor versão do modelo da OpenAI, sequer teve desempenho melhor que o Grok4 no teste de referência ARC-AGI…

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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