Na última terça-feira (11), executivos do Google anunciaram a revogação dos princípios de inteligência artificial da empresa, que proibiam o desenvolvimento de tecnologias para armas e vigilância. Essa decisão, alinhada às práticas repressivas institucionalizadas pelo governo norte-americano, expõe a política de priorização do lucro sobre qualquer preocupação com a confiança e a segurança dos trabalhadores.
A empresa, que antes se orgulhava de seus valores éticos de fachada, agora escancara sua verdadeira face: uma corporação disposta a se beneficiar de contratos militares lucrativos. No entanto, a imprensa burguesa tem dado espaço apenas a temas relacionados ao DEI, limitando-se, na prática, a registrar a interrupção do investimento da empresa em pautas identitárias.
Em 16 de abril de 2024, funcionários do Google protestaram contra o Projeto Nimbus, um contrato de US$1,2 bilhão firmado com o governo e o exército israelense, em parceria com a Amazon. Durante o protesto, trabalhadores ocuparam o escritório do CEO do Google Cloud, Thomas Kurian, em um ato que durou 13 horas. Esse foi apenas um dos muitos esforços dos funcionários para pressionar a empresa a abandonar contratos militares e de vigilância.
No entanto, em vez de atender às suas demandas, os executivos do Google decidiram eliminar os princípios de IA que restringiam o desenvolvimento de tecnologias para fins militares e de vigilância. Fiona Cicconi, vice-presidente sênior de Operações de Pessoal, justificou internamente que a medida visava proteger os contratos governamentais de “riscos”. Considerando que 90% dos gastos governamentais em tecnologia envolvem o Departamento de Defesa dos EUA, fica evidente que o Google está se posicionando para lucrar com a repressão estatal e a guerra contra o povo palestino e árabe ou persa de forma mais ampla.
O Projeto Nimbus é um exemplo claro dessa mudança de direção. Durante os 15 meses em que o exército de ocupação israelense realizou um massacre de maior escala que o normal em Gaza, o Google Cloud e suas tecnologias de IA foram celebrados como ferramentas indispensáveis para a destruição em massa. A empresa, longe de se distanciar dessas práticas, usou o genocídio como uma demonstração de vendas para outros governos e forças militares.
Agora, com a remoção dos princípios de IA, o Google está livre para desenvolver tecnologias personalizadas para militares e agências de vigilância. Isso não apenas coloca os funcionários da empresa em uma posição de cumplicidade direta com crimes de guerra, mas também aumenta o risco de que os dados dos usuários do Google sejam compartilhados com agências governamentais do imperialismo.
Milhões de pessoas em todo o mundo confiam no Google para armazenar seus dados pessoais: fotos de entes queridos, informações de saúde, históricos de pesquisa e muito mais. Ao contrário do que pensam os crentes em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa — que ainda são mais críveis do que a boa intenção do imperialismo —, esses dados são acessíveis para agências federais que detêm poder sobre os contratos do Google. Assim, é inevitável concluir que a privacidade dos usuários é sacrificada em nome do lucro.
Aparentemente, os funcionários do Google não estão dispostos a aceitar essa medida, apesar de sua previsibilidade. Em resposta às demissões em massa de 50 colegas que protestaram contra o Projeto Nimbus, os trabalhadores estão se organizando para resistir à transformação da empresa em um contratante militar. A história mostra que retrocessos como esse são apenas o começo de uma ofensiva da burguesia.
Conforme a iniciativa dos trabalhadores do Google, a única maneira de impedir que os executivos da empresa abandonem completamente qualquer resquício de ética é através da organização coletiva dos trabalhadores, com protestos, greves e ações coordenadas como ferramentas essenciais para pressionar a empresa a romper com contratos como o Projeto Nimbus.