Uma investigação conduzida pelo sítio norte-americano MintPress News revelou que o Google, por meio de sua plataforma YouTube, veiculou uma campanha massiva de propaganda sionista dirigida a milhões de europeus. O conteúdo foi produzido e financiado diretamente pela Agência de Publicidade do Governo de “Israel” e atingiu, só no último mês, pelo menos 45 milhões de pessoas em países como Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Grécia.
As peças publicitárias glorificam a recente ofensiva militar de “Israel” contra o Irã e tentam justificar o massacre sistemático da população palestina na Faixa de Gaza. Em franco desrespeito às políticas declaradas da plataforma — que supostamente proíbem conteúdos que promovam ódio, violência ou discriminação —, os vídeos descrevem o ataque ao Irã como um “dever moral” dos países imperialistas e apresentam “Israel” como a responsável por “uma das maiores missões humanitárias do mundo”.
A propaganda sionista mistura imagens de alta produção com trilha sonora épica e gráficos alarmistas. Um dos vídeos exibe um mapa da Europa coberto de vermelho, alegando que os mísseis iranianos podem transformar cidades europeias em “escombros nucleares”. A peça afirma: “O programa de mísseis balísticos do Irã não é apenas uma ameaça a ‘Israel’, é uma ameaça à Europa e ao mundo ocidental (grifo nosso)”.
Outro anúncio, exibido para centenas de milhares de internautas europeus, começa com a frase: “um regime fanático disparando mísseis contra civis, enquanto corre para obter armas nucleares”. O narrador acrescenta: “’Israel’ faz o que precisa ser feito. Pelo seu povo. Pela humanidade”. A campanha adota duas estratégias principais: amedrontar o público europeu com a suposta ameaça iraniana e, ao mesmo tempo, pintar “Israel” como vítima virtuosa e guerreira da civilização.
Em um dos comerciais, o governo sionista descreve uma cena em que um recém-nascido estaria no colo da mãe em um hospital no momento em que os mísseis iranianos atingiriam o local — um recurso emocional grosseiro, especialmente quando se sabe que o próprio Exército de “Israel” já bombardeou, desde outubro de 2023, quase todos os hospitais da Faixa de Gaza. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 94% das unidades médicas da região foram destruídas ou danificadas, e mais de 1.400 trabalhadores da saúde foram assassinados. Entre as vítimas está o Dr. Adnan al-Bursh, chefe da ortopedia do hospital Al-Shifa, que foi preso e, segundo denúncias, torturado e morto em um centro de detenção israelense.
Apesar disso, os anúncios sionistas — traduzidos para o francês, alemão, italiano, grego e inglês — exibem cenas de crianças sorrindo, caminhões de ajuda humanitária e frases como: “é assim que a ajuda real se parece. Sorrisos não mentem. O Hamas sim”. Em outra peça, afirma-se que “’Israel’ não quer guerra”, mas que seria obrigada a agir contra “arquitetos do terror” que estariam “por trás do plano de eliminação de ‘Israel’”.
A tentativa de maquiar o genocídio, porém, não enganou especialistas e organismos internacionais. Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, declarou que o vídeo é “escandaloso” e questionou publicamente a plataforma: “como isso pode ser permitido?”. O vídeo em questão foi assistido por quase 7 milhões de pessoas no YouTube.
Além das mentiras propagadas, os dados da campanha revelam um esforço artificial e pago para forçar o alcance. Embora os vídeos tenham recebido dezenas de milhões de visualizações, registram apenas alguns milhares de curtidas — um número incompatível com o alcance alegado — e quase nenhum comentário, o que indica a baixa recepção espontânea do público. Um vídeo com mais de um milhão de visualizações na Grécia, por exemplo, tinha menos de 3 mil curtidas e nenhum comentário até a publicação da reportagem.
A Agência de Publicidade do Governo de “Israel” é o único anunciante citado formalmente no Centro de Transparência de Anúncios do Google como responsável por esses conteúdos. Os dados analisados indicam que quase 100% da audiência dos vídeos se deve a impulsionamento pago. Vídeos similares publicados de maneira orgânica no canal do Ministério das Relações Exteriores sionista raramente ultrapassam algumas dezenas de visualizações.
O orçamento para a ofensiva publicitária disparou. O governo Netaniahu aumentou em mais de 2.000% os recursos para “diplomacia pública”, canalizando ao menos US$150 milhões para propaganda no exterior. A prioridade tem sido reforçar a imagem da entidade sionista nos países aliados, evitando campanhas em nações que criticaram o massacre em Gaza, como Irlanda ou Espanha.
A Grécia tornou-se um dos alvos prioritários: apenas nos últimos 12 meses, 65 campanhas diferentes foram dirigidas exclusivamente ao país. Um dos vídeos, intitulado “Um sistema eficiente está em operação, entregando ajuda onde é necessário”, apresenta “Israel” como um benfeitor em Gaza — ignorando que a população local está sob bloqueio, bombardeio e fome promovidos justamente pela ocupação israelense.
A operação de propaganda, contudo, não se limita ao YouTube. Segundo o MintPress, o governo de “Israel” espalha seus conteúdos em múltiplas redes, como Facebook, Instagram, TikTok e X (antigo Twitter). Além disso, mobiliza influenciadores e jornalistas simpáticos à causa sionista para difundir a propaganda por meios “orgânicos”.
A cumplicidade entre as big techs e o aparato de propaganda sionista é antiga. O Google mantém escritórios em Telavive desde 2006. Em 2012, o então CEO Eric Schmidt se reuniu pessoalmente com Netaniahu e afirmou que investir em “Israel” foi “uma das melhores decisões” da empresa. Este ano, a gigante tecnológica comprou a startup de cibersegurança israelense Wiz por US$32 bilhões — um valor completamente desproporcional à receita da empresa, o que levantou suspeitas de que a transação tenha servido como ajuda direta à economia sionista em colapso.
A Wiz foi fundada por ex-agentes da Unidade 8200, uma divisão de inteligência militar responsável por espionagem eletrônica, vigilância e repressão a movimentos palestinos. Ao menos 99 ex-membros da Unidade 8200 trabalham atualmente no Google, inclusive em cargos estratégicos, como Gavriel Goidel, chefe de operações da Google Research, responsável por analisar dados de “ativistas hostis”.
Esse vínculo entre big techs e espionagem sionista não é exclusivo do Google. A investigação do MintPress identificou centenas de ex-agentes da Unidade 8200 nas equipes do Facebook (Meta), Microsoft e Amazon. Além disso, ex-espiões atuam em redações de grandes veículos da imprensa norte-americana, influenciando diretamente o conteúdo consumido por milhões de leitores.
A operação abrange também o controle de informações em plataformas colaborativas como a Wikipédia. Sob supervisão de Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro de “Israel”, foi criada uma rede de milhares de jovens israelenses encarregados de editar artigos e remover “informações problemáticas”. Os mais ativos recebiam prêmios como passeios de balão de ar quente.
O Ministério das Relações Exteriores de “Israel” ainda organiza perseguições contra estudantes nos Estados Unidos. Uma “força-tarefa” coordenada pelo chanceler Eli Cohen tem como missão executar operações psicológicas para impor “consequências econômicas e profissionais” a manifestantes pró-Palestina, operando sob a diretriz de não deixar “assinatura do Estado de ‘Israel’”.
Diante do crescente repúdio à sua política genocida, a entidade sionista tem recorrido a influenciadores da extrema-direita norte-americana. Em abril, Netaniahu reuniu-se com figuras como Tim Pool, Dave Rubin, Sean Spicer e outros propagandistas, para discutir estratégias de comunicação com o objetivo de “vender a guerra com o Irã” ao público dos países imperialistas.
Os resultados dessas ações, no entanto, estão longe de corresponder às expectativas. Uma pesquisa da YouGov mostra que 48% dos britânicos concordam com a afirmação de que “’Israel’ trata os palestinos como os nazistas trataram os judeus”. Na Itália, 43% dizem ter uma visão “muito desfavorável” de “Israel”, contra apenas 2% com opinião “muito favorável”. Na Alemanha, o país mais simpático ao regime sionista, apenas 4% têm visão altamente favorável, enquanto 65% expressam oposição, sendo 32% com sentimento fortemente negativo.
A máquina publicitária de Netaniahu, mesmo contando com o apoio da Google e bilhões em recursos públicos, tem enfrentado resistência popular. A tentativa de mascarar crimes de guerra com vídeos publicitários só comprova a falência moral do regime sionista e de seus aliados no Vale do Silício. Diante de imagens de hospitais bombardeados, crianças mutiladas e populações inteiras famintas, nenhuma encenação é capaz de ocultar o caráter genocida da ofensiva contra a Palestina e seus aliados.





