O artigo O Povo não aceita anistia disfarçada de Dosimetria, de Chico Vigilante, publicado no Brasil247 neste domingo (14), mostra como a esquerda está completamente a reboque da direita — do imperialismo, para sermos mais exatos.
No primeiro parágrafo o autor diz o seguinte: “neste domingo (14), ao lado de companheiras e companheiros do campo progressista, participei do ato nacional ‘Sem Anistia’ para dizer, em alto e bom som, que a democracia não se negocia”. A frase pode ser bonita, mas não passa de propaganda. O que mais se tem feito no Brasil é negociar. É verdade que não se tem negociado democracia, mas é justamente porque não se pode fazer negócio com algo que não existe no País. Atualmente, vivemos uma verdadeira ditadura judiciária.
Outra coisa que chama a atenção na frase é o termo “campo progressista”, que é uma valise em que cabe muita coisa dentro.
Em seguida, Chico Vigilante diz: “neste ato realizado em frente ao Museu da República em Brasília, denunciei a manobra escancarada do Congresso Nacional, que, com a Lei da Dosimetria, tenta reduzir penas de condenados pelo 8 de janeiro e beneficiar Bolsonaro e seus aliados. O povo brasileiro, que resistiu ao golpe, não vai compactuar com essa anistia disfarçada”. E é preciso esclarecer alguns pontos.
Qualquer pessoa de esquerda deveria desconfiar de que o povo se dispusesse a ir para as ruas para combater alguma coisa com o nome “Lei da Dosimetria”, “Sem anistia”. Nem para o 1º de Maio a esquerda tem conseguido fazer nada. Neste ano, a maioria da esquerda pequeno-burguesa preferiu fazer atos isolados.
Qual seria o fato novo, se a esquerda não tem conseguido mobilizar? De repente, duas manifestações: uma conta a PEC da Bandidagem, e agora contra a Lei da Dosimetria. Dois temas para lá de abstratos.
O fato novo, o ponto em comum entre essas duas manifestações, é que estão sendo chamadas, de fato, pela rede Globo e pela grande imprensa. As duas são ataques diretos ao Congresso e em favor do Supremo Tribunal Federal, que se tornou o novo Poder Moderador.
Chico Vigilante diz que o Congresso fez uma “manobra escancarada”, mas o que se escancarou foi atitude do Supremo, desconsiderando a Constituição, que prevê a separação de Poderes, e avançando sobre o Legislativo.
Pode-se dizer que foi dado um golpe de Estado, pois o Congresso praticamente foi fechado, e isso em favor do STF. Ocorre que esta corte precisa que algo confira a ela o poder para que possa passar por cima dos demais, e isso é obra do grande capital nacional e o imperialismo. Não fosse assim, o Supremo jamais teria condições de fazer o que faz.
Toda irregularidade que os ministros do STF comete é logo respaldada e justificada pela imprensa, tanto de direita quanto de esquerda.
Eleições 2026
No artigo se lê que “o ato contou com a presença do presidente do PT-DF, Guilherme Sigmaringa, da pré-candidata ao Senado Erika Kokay, do pré-candidato ao Governo do DF pelo PT, Leandro Grass, do deputado distrital Fábio Félix, além de outras autoridades e lideranças sindicais”. Nada como a proximidade de uma eleição para vermos políticos nas ruas.
Tem-se a impressão de que a única coisa que importa são as eleições. Chico Vigilante escreve, e aproveita para pedir voto: “é fundamental que a resposta venha das ruas, como ocorreu hoje, mas também das urnas. Reforçamos que a luta passa por isolar a extrema-direita no Parlamento e construir uma maioria que fortaleça a governabilidade do presidente Lula. A mobilização popular é o antídoto contra os que tentam minar nossas instituições”.
Não é a extrema direita que está sendo isolada, mas o Congresso. “Construir uma maioria”, temos que supor que se trata das próximas eleições, pois da última vez o povo foi deixado de fora e a governabilidade foi toda montada sobre acordos com uma “base governista”.
O deputado petista chama o povo para fortalecer as instituições do Estado burguês, que nunca mediu esforços para prejudicar a vida do trabalhador. Que trabalhado vai querer fortalecer o Judiciário? Seria colocar uma corda em volta do próprio pescoço.
No último parágrafo, mais uma vez pedindo votos, o autor diz: “Por isso, sigamos firmes na defesa intransigente da democracia. Manteremos a pressão permanente, unindo ocupação das praças e consciência política no voto. Só assim garantiremos justiça, estabilidade e o pleno respeito à vontade soberana do nosso povo”.
Como se pode defender a democracia e, ao mesmo tempo, apoiar uma ditadura judiciária?
A pressão permanente será um golpe continuado. Quanto à “vontade soberana do nosso povo”, está sendo manipulada pela burguesia.
Dormindo de touca
Essa esquerda não controla nada, não é ela que está colocando as pessoas nas ruas, mas os meios de comunicação fiéis ao imperialismo. O problema está justamente aí. Amanhã, a grande imprensa vai virar uma chave e teremos um novo 2013, com a direita capturando o movimento.
A ABIN já alertou que, em 2026, o Brasil pode sofrer uma revolução colorida. Se isso fosse um jogo de xadrez, poderíamos dizer que, ao contrário da esquerda, a direita está vendo várias jogadas adiante. A burguesia já está prevendo possíveis cenários para as eleições e como tratar deles.
Tudo indica que Lula terá eleições muito duras na próxima presidencial. A esquerda é vista pela maioria da população como mera defensora das instituições, como sócia do sistema.




