O monopólio golpista da Rede Globo rompeu o contrato com a autora Gloria Perez após ela se recusar a alterar a sinopse de sua próxima novela, Rosa dos Ventos, que seria exibida no horário nobre como substituta do remake de Vale Tudo. A trama, rejeitada pela emissora, trataria de uma mulher vítima de aborto forçado e sua busca por justiça, mas foi censurada pela direção, que considerou o tema inadequado às novas diretrizes da casa. Essa decisão escancara (mais uma vez) o cinismo da Globo, que já admitiu publicamente ter errado ao apoiar a Ditadura Militar, mas mantém intacta sua política de controle e repressão sobre conteúdos que desafiam tabus.
A protagonista da novela, Cibele, seria uma ex-miss que, após cair no esquecimento, passa a trabalhar como vendedora em uma loja de departamentos. Ela se envolve com Murilo, um empresário rico e casado com Mabel, uma política em ascensão. Apaixonada e grávida, Cibele acredita que o filho consolidará a relação, mas é traída. Murilo, temendo um escândalo, a droga e a submete a um aborto forçado. Ao despertar, ela transforma o trauma em revolta e inicia uma jornada por reparação e vingança. A história, segundo a colunista Carla Bittencourt, do Portal Leo Dias, abordaria a violência reprodutiva contra mulheres, especialmente as descartadas socialmente por não serem mais jovens.
Gloria Perez, conhecida por sucessos como O Clone (2001), América (2005), Salve Jorge (2013) e A Força do Querer (2017), já tinha capítulos pré-aprovados quando a Globo vetou a sinopse. “Não questiono a decisão, é normal que uma empresa decida de acordo com sua conveniência. Mas uma vez que o contrato era por obra, considerei que o mais conveniente para mim era não aceitar renovação e fazer a resilição do contrato. Tudo de comum acordo”, declarou a autora em suas redes sociais. Ela acrescentou: “as portas continuam abertas, as minhas e as da Globo também, mas nesse momento prefiro assim, quero viver esse tempo no ‘deixa a vida me levar’”.
A censura da Globo a Rosa dos Ventos não é um caso isolado. Em 2019, a emissora cortou cenas de Justiça (2016) que tratavam de aborto, exibidas apenas no serviço de transmissão audiovisual online. A decisão atual reforça o padrão da empresa de evitar temas que possam gerar controvérsia, mesmo quando abordados com seriedade. Enquanto a Globo se promove como defensora da liberdade de expressão, o veto a Gloria Perez demonstra que sua postura não mudou desde os anos de chumbo: a censura segue sendo a regra, e o discurso de arrependimento, apenas fachada.
