No início do mês de março deste ano, a advogada Lenir Correa foi condenada pela Justiça de Rondônia, junto a quatro integrantes da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), por crime de integrar “organização criminosa”. Essa operação nada mais é do que o desdobramento do avanço do judiciário brasileiro contra as organizações populares e os direitos democráticos da população, que se intensificou a partir da Ação Penal 470 comandada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que ficou conhecida como Mensalão.
Em matéria publicada em 7 de março pelo G1, foi revelado que a operação Canaã foi colocada em marcha para defesa dos interesses dos latifundiários que teriam relatado “movimentações estranhas em suas terras e ameaças por parte de grupos armados”. Assim, a Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco) teria começado a realizar supostas análises financeiras e rastreamento de operações financeiras como parte da investigação do caso. A partir disso, a Justiça de Rondônia teria autorizado grampear telefonemas dos supostos suspeitos, entre os quais está a advogada.
Com base nas informações da imprensa, pode-se concluir de antemão que se trata de uma farsa completa, de que esta operação apelidada de “Canaã” se trata da utilização do judiciário contra criminalização dos movimentos de luta pela terra. A tese de “organização criminosa” foi apresentada por Deltan Dallagnol, procurador-chefe da Lava-jato, contra o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT). Nesta mesma operação, o ex-juiz Sérgio Moro, além da utilização da tese de “domínio do fato” apresentada no “Mensalão”, que se trata da supressão de um direito fundamental que é a “presunção de inocência”, inovou e passou a grampear os advogados dos réus.
A advogada Lenir Correa, ativista em Direitos Sociais do Campo e Direito Agrária, atua há décadas na defesa e assessoria de movimentos de luta pela terra no Estado. Para a coordenação da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, a condenação de Lenir como uma “criminalização da advocacia popular que tem atuado em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras rurais que lutam pela terra”. A denúncia da Pastoral da Terra demonstra do que se trata essa operação, a condenação de Correa, assim como das lideranças da LCP (Rubens Pereira Braga, Claudecir Ribeiro Silveira, Wemerson Marcos da Silva e Janaine Menegildo Zanella), são perseguições políticas.
A preparação da ditadura que se avizinha, como parte da falência da democracia burguesa tem sido apoiada pela esquerda. As denúncias das leis da “Ficha Limpa” e de “Organização Criminosa” não foram bem recebidas pela esquerda pequeno-burguesa, posteriormente foram direcionadas contra a maior liderança e organização partidária de toda América Latina. Esses mesmos setores se vislumbraram com o Mensalão, Petrolão e Lava-jato, operações que inicialmente foram dirigidas contra elementos da direita e terminaram contra lideranças de esquerda.