Pobre, Galípolo. Todos pensam que está no céu, que ele, tão jovem, “na flor da idade”, chegou ao auge da carreira, à gloriosa presidência do Banco Central do Brasil, o órgão responsável diretamente pela política monetária do País. Mas isso não é verdade. Ele, na verdade, está no inferno. Assumiu o “pior emprego do mundo”. Seu destino parece estar escrito já: não agradará nem a gregos, nem a troianos, nem à esquerda, nem à direita, nem aos trabalhadores, nem ao “mercado”.
Eis o teor da última coluna escrita pelo direitista Alex Solnik, colunista do sítio Brasil 247. Publicada neste sábado (4), ela se intitula Galípolo pegou o pior emprego do mundo.
Solnik conclui o texto com um singelo e sincero “boa sorte” ao recém-empossado presidente do BC.
Solnik deixa transparecer uma certa simpatia por Galípolo, uma certa expectativa positiva com relação a ele. Sua visão é a de que o substituto de Campos Netto terá uma difícil missão pela frente, mas, finalmente, executará o trabalho e fará o que tem que ser feito.
O mais interessante do artigo de opinião do colunista é aquilo que está ausente. Solnik não advoga declarada, aberta e claramente que Galípolo deve reverter a política capitaneada por Campos Netto, de aumento constante dos juros, para atender aos interesses dos especuladores e vampiros financeiros. Nada disso. Sugere simplesmente que “se os juros baixarem, será detonado pela direita como ‘capacho do Lula’; se não baixarem, será detonado pela esquerda como ‘capacho do mercado’.” E ponto. É como se dissesse: “coitado do Galípolo”.
Para quem se propõe a defender os interesses dos trabalhadores, dos setores oprimidos e miseráveis do povo, tal postura é absurda. A atuação pregressa do novo presidente do BC não permite nenhuma outra conclusão que não a de que, sob sua gestão, pouca coisa ou nada mudará na política monetária levada adiante pelo COPOM (Comitê de Política Monetária). Galípolo sempre esteve ao lado de Campos Netto em todas decisões sobre a taxa básica de juros. É, tal qual o seu antecessor, um homem ligado ao dito “mercado financeiro”.
A indicação de Galípolo expressa, antes de qualquer coisa, a pressão que a burguesia ligada ao capital financeiro faz contra o governo Lula. O controle do imperialismo sobre o Banco Central, com sua criminosa “independência”, é uma das principais ferramentas dos poderosos para manter o País inteiro refém de seus próprios interesses.
A história demonstra que ceder ao mercado é um erro que custará caro. Não importa o quanto o governo tente agradar, o capital financeiro nunca estará satisfeito. Cada concessão apenas fortalece aqueles que trabalham contra os interesses nacionais e do povo trabalhador.
O verdadeiro caminho para o governo Lula é romper com essa política de conciliação e adotar medidas que enfrentem diretamente o poder dos grandes bancos e do imperialismo. Suspender o pagamento da dívida pública, reduzir os juros, reverter os cortes de investimentos e priorizar as demandas populares é o único meio de garantir a estabilidade necessária para o País.
Ceder às exigências do mercado não trará paz ao governo. Pelo contrário, cada passo dado nessa direção apenas aumenta a fome de quem quer explorar o Brasil até o último centavo.
As considerações de Solnik passam longe disso tudo. À semelhança de um beato, ele torce e reza. E espera que o pobre Galípolo passe incólume pelas turbulências que possivelmente virão, incluindo as pressões para não matar o povo brasileiro de fome.