O artigo Fux, a história lhe cobrará o preço do seu egoísmo, de Denise Assis, publicado pelo Brasil247 nesta segunda-feira(15), é um exemplo de como determinados setores de esquerda encamparam a defesa do Supremo Tribunal Federal (STF), uma das instituições mais reacionárias do Estado, peça-chave no golpe de 2016 que destituiu Dilma Rousseff, presidenta eleita democraticamente.
É importante lembrar que o Supremo ganhou amplo destaque e protagonismo na grande imprensa desde o “julgamento” do Mensalão, uma das maiores farsas jurídicas que o Brasil pôde presenciar. Essa corte também foi fundamental para que Luiz Inácio Lula da Silva caísse nas garras de Sergio Moro na Operação Lava Jato, que culminou na prisão do então ex-presidente, ainda que a Constituição garantisse sua liberdade.
Denise Assis inicia seu texto dizendo que “no próximo dia 29, a Corte Suprema do país (STF) verá a posse de mais um presidente: assumirá o cargo o ministro Edson Fachin, tendo como vice o ministro Alexandre de Moraes. Posse para ninguém faltar”. Há dez anos, no dia 13 de julho de 2015, Deltan Dallagnol, chefe da Operação Lava Jato, mandou uma mensagem para seus companheiros no Ministério Público que dizia o seguinte: “Caros, conversei 45 m com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso”.
Por que seria imperdível a posse de um ministro do STF diretamente comprometido com a Lava Jato? Tanto Fachin quanto Moraes votaram contra o habeas corpus de Lula, o que o levou para cadeia durante quase dois anos. Prisão que foi decisiva para a eleição de Jair Bolsonaro, que agora se tornou alvo do mesmo STF.
A jornalista escreve que “os dois [Fachin e Moraes] têm se empenhado em convidar pessoalmente figuras de destaque da República. Já foram ao gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, se preparam para uma visita ao do presidente da Câmara, Hugo Motta, e esperam conseguir fazer o mesmo, ou seja, entregar em mãos o convite da posse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
Da forma como está dito, tem-se a impressão de que as coisas estão indo muito bem entre Lula, STF, e as “figuras de destaque da República”, mas a realidade é outra. O petista está acuado, e será devidamente apunhalado pelas costas (nem seria a primeira vez), pois a condenação de Bolsonaro é apenas um episódio desta nova fase do golpe, que pretende colocar na presidência um ultra neoliberal.
A imprensa de esquerda está completamente iludida, é a maior defensora dos acordos entre a presidência e o Supremo, o que pode ser fatal para uma pretensa reeleição de Lula, cada vez mais acuado.
Denise Assis que escreve que “sai da ribalta o ministro Luís Roberto Barroso, que andou deixando vazar a sua vontade de pendurar a toga”. É muito fora de propósito utilizar-se o termo ribalta, a menos, é claro, que se considere que esses ministros do STF sejam verdadeiros atores. E não é difícil saber quem os dirige.
Barroso esteve assustado, alguns diriam acovardado, teria pensado em se aposentar após as ameaças de sanções do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O ministro, no entanto, teria rebatido os “boatos” alegando: “Não, não vou me aposentar, não. Estou feliz da minha vida”. Ao que Assim comemora: “Parece que sim. Quem o viu à mesa no final do julgamento de Jair Bolsonaro, no nosso 11 de setembro, não tem motivos para duvidar”.
O desafeto
Após seu voto pela absolvição de Jair Bolsonaro, e de demonstrar o quão farsesco foi esse julgamento, Fux se tornou figura indesejável, apesar de o Supremo ser querido na imprensa, da esquerda à direita. Segundo a jornalista, “o clima que havia azedado na véspera, quando o país enfarou de ouvir a voz monocórdia do ministro Luiz Fux, por 13 horas, mastigar palavras que abriam uma avenida de possibilidades para a defesa dos réus”. Uma avenida de possibilidades de defesa deveria ser comemorada, pelo menos para quem defende a democracia e o amplo direito de defesa.
Bailando com as palavras, Denise Assis escreve que o clima “recobrou a leveza com o texto marcante e personalizado da ministra Cármen Lúcia”. Sim, a ministra do STF que votou pela prisão de Lula (contra a Constituição) apesar de ter sido indicada por ele para o Supremo.
Denise Assis tenta pinta um quadro com cores heroicas do julgamento-farsa de Bolsonaro, diz que ali “estava sendo decidido o marco entre o passado e o presente, entre a democracia e o desleixo com os seus princípios”, quais princípios? Os democráticos e constitucionais é que não são.
Quanto ao passado e o presente, nada mudou, o STF continua cumprindo seu papel crucial no golpe que teve seu primeiro desfecho em 2016.
Barroso, nas tintas de Denise Assis, se tornou o cavaleiro que bradou “Dane-se o Mastercard”. Chegando a um momento “tocante”, quando escreve que “tanto Gilmar Mendes quanto Luís Roberto Barroso – se polêmicas já despertaram no passado – acertaram o passo com o presente, inscrevendo-se na importante nesga da história”.
No meio de toda essa “rasgação de seda”, o único que ficou de fora, como Judas na Santa Ceia, foi Luiz Fux. Para ele, segundo a jornalista, “zero solidariedade, zero empatia, zero de indignação. Pois lhe damos zero no comportamento. A história lhe cobrará o preço de tamanho egoísmo”.
Ninguém deveria falar em nome da história, principalmente para defender o STF, cujo passado e presente estão comprometidos com o golpismo.




