João Pimenta

Estudante da USP. Colunista do Diário Causa Operária, membro da Coordenação da AJR e do Comitê Estadual do PCO de São Paulo. Autor do Livro “A era da Censura das Massas”.

Coluna

Fraude eleitoral e a capitulação de Lula diante do imperialismo

Brasil reconheceu fraude eleitoral no Equador após reeleição de Daniel Noboa

A decisão do governo brasileiro de reconhecer o resultado da eleição equatoriana é vergonhosa e, francamente, uma canalhice. Imagino o que os aliados do Brasil nos BRICS estão pensando.

A candidata da esquerda correísta, Luisa Gonzalez, foi derrotada por Daniel Noboa, o candidato pró-imperialista de extrema direita. O que ocorreu na eleição é praticamente, do ponto de vista de análise matemática-eleitoral, impossível.

Noboa e a candidata da esquerda empataram no primeiro turno: Noboa com 44,4% e Gonzalez com 44,0%. O 3º e o 4º colocados são candidaturas “ambientalistas” da USAID, pretensamente esquerdistas.

Mas, calma, a coisa fica mais incrível…

O 3º colocado, Leonidas Iza, pretenso líder dos índios, teve 5,25% dos votos. A 4ª colocada, Andrea Gonzalez, ex-maoísta, teve 2,79% dos votos. Ambos lançaram candidatura com uma aparência esquerdista, os eleitores interpretaram assim, até os analistas disseram isso.

Isso, então, daria vitória fácil para a esquerda no 2º turno. A candidata principal, com 44%, e os outros com 5,25% e 2,79%, totalizariam cerca de 52%. Ainda temos o partido maoísta Unidade Popular com 0,4% e o Partido Socialista com 0,53%. E foi isso que aconteceu na boca de urna. A boca de urna divulgada pelo presidente exilado Rafael Correa mostrava um resultado de 52% contra 48%, a favor da esquerda. Perfeitamente razoável, afinal, o voto de candidatos claramente esquerdistas somados ultrapassa 52%.

O resultado é incompreensível. Noboa venceu por 55,7% contra 44,3%. Nem os votos dos dois partidos menores e mais radicais da esquerda teriam se transferido para Luisa Gonzalez. Ao contrário: maoístas, socialistas, ambientalistas e índios, todos teriam votado na extrema direita.

Os correístas denunciam fraude contábil dos votos, com cédulas e atas sem assinatura, intimidação de eleitores, fechamento seletivo de seções eleitorais e até mesmo panes suspeitas na totalização eletrônica dos votos. Mas a loucura continua:

A ditadura de Noboa decretou estado de emergência dois dias antes da votação, dando plenos poderes para polícia e exército, estabelecendo toque de recolher, suspensão do direito de manifestação e proibindo o eleitor de fotografar e filmar seu voto (Xandão estaria orgulhoso).

Não foi uma eleição, foi um golpe de Estado. A CELAC, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, denunciou a fraude. Venezuela, Honduras e México, até agora, não reconheceram a farsa. Mas Lula reconheceu.

O presidente foi eleito para fazer exatamente o contrário. Nas suas palavras históricas: parar de falar grosso com a Bolívia e fino com os EUA. Os EUA reconheceram a fraude instantaneamente e decidiram que a eleição na Venezuela era uma fraude antes mesmo dela acontecer.

Não sei o que leva Lula a fazer isso. No entanto, é um caminho perigoso que ele está trilhando. O presidente parece estar pensando que o imperialismo irá sustentar o governo. Lembremos o que aconteceu em 2016: a guinada à direita que forçaram Dilma a fazer… Custou seu apoio na militância. Lula reconhece que isso desmoralizou a militância e abriu as portas para o golpe.

Marx foi profético: a história se repete, primeiro como tragédia, a segunda como farsa. Espero que Lula 3 não seja uma farsa comparado com Dilma 2.

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