A revista britânica Financial Times publicou nesta terça-feira (1º) uma matéria intitulada The Risky trial of Jair Bolsonaro (O julgamento arriscado de Jair Bolsonaro), abordando o processo em andamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de torna-lo réu por uma suposta tentativa de golpe de Estado.
No entanto, mesmo sendo publicada em um órgão de imprensa ligado diretamente ao imperialismo, a matéria chama a atenção por trazer uma versão mais equilibrada sobre o caso, ao contrário da imprensa burguesa brasileira que adotou posição unânime a favor da condenação do ex-presidente. Apesar de apontar com detalhes a acusação que é feita por Paulo Gonet, Procurador Geral da República.
A cautela é apresentada através da comparação da atual situação do Bolsonaro com a do presidente Lula, que, em 2018 era quem estava sendo julgado e preso ilegalmente pela mesma Suprema Corte, fato que o impediu de concorrer às eleições daquele ano, o que foi determinante para a vitória da extrema-direita. Além da semelhança jurídica, a revista também apontou que, na época, o julgamento de Lula polarizou a divisão entre a esquerda e a direita e que a mesma polarização ganha força de novo, agora com os papéis invertidos.
“O processo criminal, que provavelmente começará ainda este mês, dividiu a maior nação da América Latina, ecoando eventos de oito anos atrás, quando o rival ferrenho de Bolsonaro, o atual presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, foi julgado por acusações de corrupção e preso. Suas condenações foram posteriormente anuladas devido a falhas processuais.”
“Então, como agora, os oponentes exigem que a justiça seja feita, enquanto os apoiadores denunciam o que consideram perseguição política por juízes tendenciosos. Cinquenta e um por cento dos brasileiros acreditam que Bolsonaro planejou um golpe e 48 por cento acreditam que ele é inocente, de acordo com uma pesquisa da AtlasIntel na semana passada.”
O artigo também compara a situação de Bolsonaro com a do presidente norte-americano Donald Trump, que também enfrentou diversos processos, o que aumentou a sua popularidade, fortalecendo a sua volta a Casa Branca nas eleições de 2024. A revista afirma que as autoridades brasileiras podem transformar Bolsonaro em um mártir.
“As autoridades brasileiras estão determinadas a que haja um julgamento sobre o suposto golpe bem antes do início da campanha para a próxima eleição presidencial, para que não haja nenhuma ambiguidade legal que cercou a campanha de reeleição de Donald Trump em 2024. Mas ao colocar Bolsonaro em julgamento, elas correm o risco de aumentar seu perfil político — e até mesmo transformá-lo em um mártir.”
Além da opinião da própria revista, Christopher da Cunha Bueno Garman, diretor administrativo para as Américas da consultoria de risco político Eurasia Group, vai no mesmo sentido e aponta que a popularidade do Bolsonaro não será afetada, a exemplo de Trump e especificamente da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
“É semelhante ao que aconteceu com Trump e o 6 de janeiro”, diz ele, referindo-se à insurreição de 2021 em Washington. “Isso não impediu Trump de vencer uma segunda vez.”
A Financial Times também discute a impopularidade do Supremo Tribuna Federal (STF), citando uma pesquisa realizada pela PoderData, divulgada em dezembro, em que 43% dos entrevistados descreveram o desempenho do tribunal como ruim ou péssimo e apenas 12% como ótimo e bom. Para a revista, a alta impopularidade do STF é resultado de sua interferência na política e também as decisões arbitrárias, principalmente a do ministro Alexandre de Moraes, principalmente por ele estar no papel de vítima e juiz ao mesmo tempo.
“Moraes foi uma das supostas vítimas do complô, e ainda assim iniciou a investigação sobre o suposto golpe, fez parte da comissão que concordou em ouvir o caso e agora ajudará a julgar Bolsonaro.”