No artigo Trump, tire as mãos do Brasil! Sem anistia a golpistas capachos do imperialismo: Bolsonaro na prisão!, publicado pelo PSTU no sítio da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), os morenistas entram de cabeça na campanha da esquerda pequeno-burguesa em torno de uma suposta defesa da soberania brasileira. Para isso, usam o caso da ameaça de Trump de sancionar a economia brasileira em retaliação às perseguições políticas sofridas pela extrema direita no País. Diz o artigo:
“A imposição de tarifas contra países semicoloniais, como o Brasil, é, por si só, um ataque à soberania. Já justificar a sanção à defesa de Bolsonaro é uma escalada sem precedentes em seu mandato contra a autodeterminação do Brasil. Ou seja, Trump ataca o Brasil a pedido de Bolsonaro! Vergonha total! Trump quer escolher quem o povo brasileiro elege ou deixa de eleger.”
Em primeiro lugar, falar em “escalada sem precedentes” do mandato de Trump “contra a autodeterminação do Brasil” é uma picaretagem. Os antecessores democratas do atual presidente organizaram nada menos do que dois golpes de Estado contra o País, a operação Lava Jato que destruiu a débil tentativa de o Brasil se reindustrializar a partir dos chamados “campeões nacionais”, e o que reforça o caráter grotesco da colocação: o PSTU apoiou o imperialismo.
Quando o governo de Barack Obama (que tinha o ainda são Joe Biden como vice) começou a por em marcha uma agitação golpista no País, a posição do PSTU foi o famigerado “fora todos”, a defesa abstrata de que todos os membros do governo caíssem, o que era uma política idiota desde o início. Finalmente, era um governo da esquerda em primeiro lugar e os setores mais desenvolvidos da burguesia nacional que estavam na mira. Tão logo os interesses do imperialismo foram atingidos e o golpista Michel Temer (MDB) fora empossado, o “fora todos” foi esquecido com o mesmo desinteresse com que foi criado.
A queda de Rousseff e a posterior proscrição de Lula das eleições presidenciais de 2018 foram dois momentos nos quais a participação dos EUA foi decisiva. Além do imperialismo, outro elemento comum a ambos foi o apoio do PSTU. Se o golpe de 2016 foi apoiado pelo partido morenista sob a formulação canalha do “fora todos”, em 2018 o partido optou por lançar a candidatura Vera Lúcia com a defesa do “voto pela rebelião”, como defendeu à época.
Uma das consequências da política golpista iniciada por Michel Temer foi a ascensão do então carrasco do PSDB à frente da Secretaria de Justiça de São Paulo, Alexandre de Moraes (PSDB). Saído da posição de carrasco para o Ministério da Justiça de Temer, posteriormente, Moraes foi levado ao Supremo Tribunal Federal pelo mesmo regime, para garantir a força do imperialismo na corte. E quem o PSTU resolve defender?
“Tenta passar por cima da Justiça brasileira (grifo nosso), e garantir a impunidade ao golpista que sempre o tratou com uma fidelidade canina, além de proteger as big techs norte-americanas para que continuem espalhando fake news e desinformação a favor da extrema direita.”
Ora, imagine a audácia de Trump de “tentar passar por cima da Justiça”, que grande crime! Realmente, coloca em perspectiva todos os atentados cometidos pelos antecessores do republicano. Pior ainda, concretamente, não se trata de “passar por cima” de qualquer um, mas de sua magnanimidade real, a mente mais brilhante do STF, o mesmo Alexandre de Moraes posto à frente da instância máxima do judiciário para anteder os trabalhadores? Claro que não, para atender o imperialismo.
É puro cinismo o que move o PSTU a entrar de cabeça na “defesa da soberania”, quando o partido ficou contra a soberania nacional em momentos muito mais decisivos para a luta política do País contra o imperialismo. Esse cinismo ganha momentos de realismo mágico, como no trecho que se segue:
“E isso justamente porque, nos últimos anos, o Brasil vem retrocedendo em seu papel na divisão internacional do trabalho. Especializa-se cada vez mais na exportação de produtos primários, na proporção que depende da importação de produtos industriais, com maior valor agregado e tecnologia.”
Tudo muito bem dito, mas quando imperialismo criou a Lava Jato para, entre outras coisas, destruir a retomada da indústria brasileira e fazer o País retroceder “em seu papel na divisão internacional do trabalho”, como o PSTU verdadeiramente se posicionou? Acaso, foi pensando na preservação da Petrobrás, da luta do Brasil contra o imperialismo que o PSTU entrou de cabeça na campanha imperialista pela derrubada da presidenta Dilma? O artigo continua:
“Esse escândalo revela ainda como a extrema direita brasileira é capacha e servil ao imperialismo, e como seu discurso pretensamente patriótico é hipócrita. Defendem uma ingerência direta contra o país para garantir seus interesses e a impunidade de golpistas.”
Claro que a direita é capacha do imperialismo, mas e a esquerda, que supostamente, tem a luta de classes como princípio norteador? Como justifica o PSTU, um partido que se proclama seguidor do programa da Quarta Internacional, adotar a política do imperialismo quando as questões essenciais surgem?
Trata-se de um questionamento importante, pois a defesa que o governo faz não é da soberania brasileira, mas da política imperialista empreendida por Alexandre de Moraes, de perseguição aos obstáculos encontrados pelo imperialismo no País. Fosse a soberania nacional um tema caro ao governo petista, as denúncias demonstrando que a Polícia Federal está sob comando do norte-americano FBI e do serviço secreto sionista Mossad teriam causado alguma repercussão, no sentido de pelo menos, acabar com as perseguições políticas escancaradas da entidade contra opositores do sionismo.
Brasileiros presos por ordem do sionismo como Lucas Passos Lima e tantos outros deveriam ser postos em liberdade, no mínimo. O fato de Lima ainda estar preso e isso não escandalizar ninguém no governo ou nos novos defensores da soberania nacional não faz mais do que entregar o teatro de mal gosto que é essa porcaria. Não é, finalmente, uma defesa da soberania, mas um endosso do verdadeiro imperialismo, que luta contra a desagregação causada por Trump na principal nação imperialista do mundo.
“É preciso rechaçar o ataque de Trump e o servilismo da extrema direita! Trump, tire as mãos do Brasil! Lula, basta de conciliação: sem anistia a golpistas! Prisão a Bolsonaro e a todos os golpistas!”
Trata-se de uma ótima orientação, mas que precisa acima de tudo ser praticada. E vale também para a esquerda filo-imperialista, que não quer o povo brasileiro mobilizado pela Petrobrás, por salários, empregos e nada de realmente sério.




