Nordeste

Fazendeiros tentam desalojar mais de 200 famílias sem terra no CE

Cerca de 200 jagunços foram mobilizados pelos latifundiários da região para expulsar as 200 famílias camponesas acampadas em terra subtilizada

Mais de 200 famílias acampadas no perímetro irrigado do Tabuleiro de Russas, no município de Limoeiro do Norte (CE), enfrentaram uma tentativa de despejo na manhã de 14 de março. Segundo denúncias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cerca de 200 jagunços armados, contratados por latifundiários da região, chegaram ao local com tratores e máquinas, ameaçando expulsar os ocupantes. A ação, iniciada um dia após as famílias ocuparem a área na madrugada de 13 de março, foi classificada pelo MST como ilegal e violenta, sem respaldo judicial. A presença de policiais militares, incluindo o Comando Tático Rural (COTAR) e o Batalhão de Choque, foi registrada no local durante o episódio, segundo os camponeses, chamados para evitar a ação dos jagunços.

O MST informou que os jagunços foram mobilizados por empresários do agronegócio, que teriam interesse em retomar a área pública, atualmente improdutiva. Em nota, o movimento destacou que a ocupação visa garantir o uso social da terra, conforme previsto na Constituição Federal. “Essa terra pública não está sendo utilizada, e nossa luta é para que ela produza alimentos e esteja nas mãos de quem trabalha”, declarou a coordenação do MST. Vídeos e imagens divulgados nas redes sociais mostraram o clima de tensão, com os acampados temendo pela segurança diante da ameaça iminente.

O superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no Ceará Erivando Santos, esteve presente e relatou a gravidade da situação. “Chegamos e encontramos os proprietários irrigantes prontos para entrar no acampamento e forçar a saída das famílias à força. Era uma ameaça constante”, afirmou. Ele informou que a intervenção das forças de segurança, enviadas pelo governo estadual, evitou um confronto direto entre os grupos. Após o pico de tensão, uma reunião foi realizada com representantes do INCRA, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), do governo estadual, do MST e das entidades dos latifundiários.

O deputado estadual Missias do MST (PT), que também acompanhou os eventos, acusou os irrigantes de espalharem informações falsas, como supostos danos a bombas d’água e canais, para justificar a ação. “Eles estão tentando expulsar os acampados de forma ilegal e violenta, mas não houve depredação alguma”, disse. Ele afirmou que seu mandato está em diálogo com o governo estadual para mediar a situação e proteger as famílias. A ocupação, segundo o MST, integra a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que critica os impactos do agronegócio e defende a reforma agrária.

A reunião resultou em encaminhamentos para resolver o impasse. Uma nova rodada de negociações foi marcada para o dia 20 de março na sede do DNOCS, com participação do INCRA, da Defensoria Pública e do governo estadual. O MST reivindica a destinação de dois mil hectares para assentamentos, proposta que o DNOCS sinalizou estar disposto a discutir. Santos destacou que o INCRA já negocia com o DNOCS a cessão de mil hectares no Chapadão de Russas para o assentamento Zé Maria do Tomé, e a área pleiteada agora pode ser incorporada a esse plano. Após os compromissos firmados, o MST realizou uma assembleia com as famílias, que decidiram desmobilizar o acampamento.

A área ocupada é um dos principais territórios do agronegócio no Ceará, mas permanece subutilizada, segundo os sem-terra. A tentativa de despejo expôs a disputa por terras públicas na região, com os latifundiários recorrendo à violência para manter o controle, enquanto as famílias buscam garantir seu uso produtivo. O INCRA se comprometeu a acompanhar as negociações, que devem definir o destino da área nos próximos dias.

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