Fundado, enquanto partido político, no ano de 1965, o Fatá, entidade que dirige a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), está completando 60 anos em 2025. Outrora fonte de inspiração para militantes de todo o mundo, quando, sob a liderança de Iasser Arafat, travou uma dura luta armada contra o Estado nazista de “Israel”, o Fatá hoje se encontra em uma crise muito profunda, acelerada após a gloriosa Operação Dilúvio de Al-Aqsa, liderada pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).
A crise do Fatá foi assunto de uma entrevista do analista político palestino Marwan Al-Aqra ao jornal palestino Quds Press. Segundo explicou Al-Aqra, o Fatá passou por diversas fases desde sua fundação, começando pela adoção da luta armada como único caminho para a libertação da Palestina, até a assinatura do acordo de normalização com a ocupação sionista em 1993 (Acordos de Oslo) e o retorno de suas lideranças à Cisjordânia e a Gaza.
Ele acrescentou que “o que marcou o Fatá antes de Oslo foi sua adoção da luta armada e seus confrontos com outros grupos palestinos, além da sua incapacidade de conter esses grupos, que competiam com o Fatá pela representação dos palestinos dentro e fora da Palestina”. O analista continuou dizendo que “outro ponto foi seu relacionamento conflituoso com os países árabes, especialmente aqueles onde estavam presentes as suas forças, como o caso da Jordânia, onde a relação deteriorou-se e houve um confronto sangrento que resultou em milhares de vítimas, levando ao fechamento da frente jordaniana, que representava uma grande ameaça ao ocupante”.
A crise na Jordânia mencionada pelo analista ficou conhecida como o Setembro Negro, quando o exército da Jordânia entrou em um confronto violentíssimo contra os guerrilheiros da OLP, visando a sua expulsão do território.
Segundo Al-Aqra, depois da transferência para o Líbano (após a saída da Jordânia em 1970), o Fatá não aprendeu com seus erros, e se envolveu nos assuntos internos do Líbano, sendo parte dos conflitos internos libaneses, e também perdeu o terreno libanês, que era o palco das operações do Fatá e das outras forças palestinas.
O analista considera que, durante os 28 anos de história do Fatá antes do Acordo de Oslo, os erros do partido de Arafat o levaram a arrastar os palestinos para batalhas laterais com outros grupos e com países e partidos árabes, “privando a resistência palestina de importantes campos de batalha em sua luta contra a ocupação”. Al-Aqra, então, afirmou que, “após o Acordo de Oslo em 1993 e o retorno da liderança do movimento à Cisjordânia e à Faixa de Gaza, o movimento abandonou a luta armada e tentou impor sua política às outras organizações palestinas, o que o colocou novamente em conflito com essas facções, sem aprender com as experiências anteriores”.
Al-Aqra enfatizou que “Oslo foi um ponto de inflexão na história do Fatá, após abandonar a luta armada e vincular seu destino e o do povo palestino às negociações, que não avançaram… Isso fez com que o partido vivesse em um impasse, existindo em uma zona cinza entre a resistência e a normalização”.
Além do abandono da luta armada, a criação da Autoridade Palestina levou o Fatá à burocratização, uma vez que foi criado um aparato pretensamente estatal. A relação do Fatá com a Autoridade Palestina se tornou um grande problema para o movimento, que assumiu a maioria dos cargos políticos, militares e civis. “O Fatá se tornou uma ferramenta nas mãos da Autoridade Palestina”, declarou Al-Aqra.
O aniversário de 60 anos da fundação do Fatá ocorre após 15 meses de luta do Hamas e de milhares de combatentes palestinos – luta da qual, segundo o analista, o Fatá esteve completamente ausente, exceto por alguns grupos rebeldes contra sua liderança. “A Autoridade Palestina usou o movimento Fatá para combater o movimento popular que apoiava Gaza”, declarou Al-Aqra.
O analista também destacou que outro fator que colocou o movimento em uma grande crise foi seu apoio à Autoridade Palestina na atual operação no campo de refugiados de Jenin, tentando recrutar seus membros para uma guerra feroz contra a resistência, o que fez com que perdesse muito de sua popularidade e fez com que a maioria de seus membros se afastassem do movimento.
Al-Aqra conclui a entrevista clamando para que o Fatá realize o seu oitavo congresso “o mais rápido possível, para elaborar uma estratégia de ação revolucionária que se ajuste à natureza dos desafios e mudanças da próxima fase, tanto a nível regional quanto internacional, dentro e fora dos territórios ocupados, e que trabalhe em todas as frentes”.