Estados Unidos

Fantasias sobre a política de Trump e a reação popular

Colunista do 247 acredita que o fim da política identitária levará a um maior enfrentamento contra Trump, além de desconsiderar o que foi feito pelos democratas

No dia 24 de janeiro, o colunista Bepe Damasco, editor do Blog do Bepe e colunista do portal Brasil 247, publicou uma coluna neste último sob o título Muita lenha ainda para queimar: Trump pode muito, mas não pode tudo, na qual busca fazer uma análise dos primeiros atos de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e apontar o que podemos esperar de seu governo.

Sua análise, no entanto, acaba por ser muito perdida. Nos primeiros parágrafos, por exemplo, podemos ver a tentativa de apontar Trump como o grande problema a ser enfrentado por toda a humanidade:

“Longe de querer subestimar a ameaça para a humanidade que representa a ascensão de Trump à presidência da nação mais poderosa do planeta, penso ser importante levantar algumas questões políticas, comerciais, ambientais e civilizatórias que podem atrapalhar seus planos de transformar os Estados Unidos no terror absoluto de todos os povos.

De cara, Trump disse a que veio em termos de seu compromisso de degradar a esfera pública, escalando para seu primeiro escalão uma espécie de seleção do que há de pior nos EUA. Os mais obscurantistas entre os obscurantistas. os mais reacionários entre os reacionários e os mais negacionistas entre os negacionistas estarão na linha de frente do governo.

Os decretos assinados pelo fascista-mor ainda no dia da posse revelam a nítida intenção de sinalizar que suas promessas de campanha serão levadas a sério.”

Trump, para Bepe, é “a ameaça para a humanidade”, o “fascista-mor”, com “planos de transformar os Estados Unidos no terror absoluto de todos os povos”, enquanto os membros de seu governo são “uma espécie de seleção do que há de pior nos EUA. Os mais obscurantistas entre os obscurantistas, os mais reacionários entre os reacionários e os mais negacionistas entre os negacionistas”.

Os epítetos levantados por Bepe para criticar Trump poderiam ser verdadeiros, caso não tivessem deixado o governo dos Estados Unidos os responsáveis pelo genocídio mais grotesco de toda a história da humanidade, o genocídio israelense em Gaza. Por mais bem intencionadas que possam ser as críticas, quando colocadas no nível em que estão na análise sem levar em consideração o que fez o governo anterior, o que parece é uma tentativa exagerada de se colocar jargões e máximas que não condizem com a realidade.

Por exemplo, como pode ser que Trump tente transformar os EUA em “um terror absoluto para todos os povos” se isso já ocorre na prática? Ou não? Ou os EUA não foram responsáveis pelos genocídios no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, na Palestina, pelas inúmeras invasões na América Latina, pelo bloqueio econômico de mais de seis décadas em Cuba, o bombardeio da Iugoslávia e, mais recentemente, o genocídio no Donbass, a guerra da Ucrânia, a invasão do Líbano por “Israel”, os bombardeios contra o Iêmen desde 2011, a destruição da Líbia e da Síria e o já citado genocídio na Palestina? Para não falar nos golpes de Estado em todo o mundo, incluindo o Brasil em 2016, quando Obama governava e Biden era o vice.

Exagera-se nos termos relacionados ao trumpismo na tentativa de se esconder os crimes norte-americanos do passado, ou Bepe não sabia de nenhum desses crimes?

A resposta vem um pouco abaixo:

“Há crianças gays, lésbicas e transgêneros em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas que temem por suas vidas (…) Peço que tenha misericórdia senhor presidente daqueles filhos que em nossas comunidades temem que seus pais sejam levados embora.

Feito cara a cara com Trump, esse apelo de Mariann Edgard Budde, bispa de Washington, é só uma pequena amostra da resistência que certamente brotará na sociedade americana. Primeiro de forma isolada e pontual. Depois não se sabe.”

Ou seja, o problema gerado por Trump não se trata de uma maior opressão contra a população mundial a partir de agora, mas sim, sua política contra parte do aparato de censura e de controle sobre a população norte-americana e que, por extensão, oprime todo o mundo. O problema de Trump é sua oposição ao que os norte-americanos chamam de “woke” e que no Brasil convencionou-se chamar de “identitarismo”.

A própria Mariann Edgard Budde, bispa citada por Bepe, ganhou muita notoriedade na imprensa imperialista e seus aliados pelas críticas contrárias às ideologias de Trump em relação ao identitarismo. No entanto, a bispa, tão preocupada com as crianças gays, lésbicas e trans, não se importou ao menos uma vez com as milhares de crianças assassinadas na Palestina pelo governo anterior de seu país.

Trump, no dia 22 deste mês, ordenou o fim das chamadas políticas de diversidade, ao ordenar que as agências governamentais que tratavam do assunto fechassem as portas. Apesar da demagogia trumpista, a medida vai, na prática, diminuir o financiamento a ONGs imperialistas pelo mundo, já que essas ONGs vinham recebendo fundos dos EUA para levar adiante a política identitária, que, ao contrário do que pregam os identitários, nada têm a ver com a defesa das minorias, mas sim, serve de censura e controle do mundo inteiro. A preocupação real dos identitários, portanto, é o fim do financiamento do imperialismo a sua política.

O texto de Bepe indica que virá uma forte resistência dentro dos EUA contra Trump por sua política contra o identitarismo, como vemos no segundo parágrafo que trata da bispa Mariann Edgard Budde. Nada poderia ser mais falso. O que se tem é justamente o contrário, Trump se elegeu, dentre outras coisas, com base em um repúdio generalizado da população ao identitarismo.

Mas Bepe continua, citando a saída de Trump dos acordos contra a emissão de CO2, ao retirar os EUA da OMS e ao declarar que somente existem dois gêneros:

“Com as emissões desenfreadas de CO2, o aquecimento global chega a níveis alarmantes, o que provoca o crescimento da consciência ambiental entre as pessoas. Mas Trump retira os EUA do Acordo de Paris.”; “Os EUA foram o país que mais perdeu vidas humanas para pandemia do Covid-19, muito em razão do negacionismo de Trump em seu primeiro mandato. Mas ele abandona a Organização Mundial da Saúde.”; “Todos os 8 bilhões de habitantes do mundo têm parentes, amigos, colegas de trabalho ou vizinhos que não são heterossexuais. Mas Trump põe fim às políticas de diversidade e decreta que a sociedade norte-americana só reconhece os gêneros homem e mulher.”

Já falamos sobre a política identitária em relação aos “gêneros” e aos LGBT, que simplesmente pregavam a cadeia como solução para quem não pensasse de acordo com a ideologia woke, completamente repudiada pela população mundial. No entanto, a política woke em relação ao clima também é amplamente repudiada. Isso porque, assim como em relação ao gênero, houve perseguição política aos que colocassem em dúvida qualquer mínimo detalhe acerca da chamada mudança climática.

O imperialismo se utiliza dessa política, só para citar um exemplo, para impedir qualquer tentativa de progresso do Brasil. Isso fica evidente ao se analisar a impossibilidade de se explorar o petróleo brasileiro na Margem Equatorial, enquanto empresas norte-americanas ficam com todo o dinheiro gerado pela exploração do pré-sal. Ou seja, não podemos explorar nosso petróleo, mas os EUA podem.

Ao se retirar do acordo de Paris, Trump acaba com a farsa de que o imperialismo esteve preocupado com o clima mundial algum dia. Seria o momento propício para que ninguém mais levasse esses acordos em conta.

Essa política climática, no entanto, não ataca somente os países atrasados, mas sim, os próprios trabalhadores dos EUA, que vivem uma vida de miséria, enquanto bilhões são gastos para impedir o avanço industrial de todo o planeta.

O mesmo vale para a saída da OMS. Enquanto os EUA gastam bilhões junto à Organização Mundial da Saúde, o povo norte-americano não pode ter um atendimento básico em seu país por não poder pagar. Aqueles que pagam um seguro-saúde, por sua vez, não conseguem atendimento quando mais precisam. Tudo isso para sustentar uma organização que, quando foi necessária, durante a pandemia de COVID-19, nada fez a não ser pedir que as pessoas usassem máscaras e ficassem em casa.

Fora isso, a própria OMS serve em grande medida como um impedimento para o desenvolvimento de sistemas de saúde em todo o mundo. São mais uma organização de controle da população mundial do que uma organização que investe na saúde do povo.

É preciso que a esquerda brasileira esteja atenta ao que acontece nos Estados Unidos. A política de Trump terá um impacto muito grande em todo o mundo, incluindo o Brasil. Caso a esquerda continue a apostar suas fichas na censura, no identitarismo e nos organismos internacionais controlados pelo imperialismo, quem capturará a insatisfação popular será a extrema direita, como ocorreu nos EUA e como acontece no Brasil.

A população não lutará a favor do identitarismo, da OMS e das agências de combate às mudanças climáticas, pelo contrário, se unirá ao primeiro que prometer colocar tudo isso abaixo.

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