Em maio deste ano, ocorreu o Seminário Antirracismo e Luta de Classes, organizado pelos agrupamentos Resistência, de Valério Arcary, ex-PSTU e grande defensor da aliança com a “burguesia democrática” (também conhecida como imperialismo) contra o “fascismo”, e Insurgência, correntes internas do PSOL, o mais pequeno-burguês dos partidos da esquerda nacional. Não entraremos no mérito da bibliografia e dos convidados, que em nada confirmam a já aguada declaração ideológica presente no sítio do Esquerda Online:
“Tanto na escolha da bibliografia, quanto na de convidados, priorizamos autores e ativistas que debatem a questão racial do ponto de vista marxista, ou que tenham afinidades com o marxismo.”
Muito mais interessante é discutir a peça que, segundo a própria matéria Antirracismo e luta de classe: uma perspectiva marxista, apresenta o conteúdo das teses defendidas. No caso, o texto Raça e classe: a falsa dicotomia e as “assim chamadas pautas identitárias”, de autoria de Gabriel dos Santos Rocha e publicado originalmente no sítio do NEPAFRO, no momento, pelo menos, fora do ar, e republicado há quase cinco anos no sítio Contrapoder.
Primeiramente, a problemática colocada pelo texto é profundamente pequeno-burguesa, totalmente ligada à intelectualidade universitária, onde predominam as “assim chamadas pautas identitárias”. Após citar uma série de intelectuais, muitos dos quais o autor incorretamente qualifica como “marxistas”, dos Santos Rocha diz:
“Se ainda conhecemos poucos marxistas negros no Brasil, tal fato não se dá por uma ausência de negros no campo marxista, mas por um déficit racista do mercado editorial e das universidades brasileiras. Daí a importância de disputarmos estes espaços.”
Para ele, a questão partidária não tem a menor importância. É um problema da universidade e do “mercado editorial”. Pois bem, a Cia das Letras, de Lilian Schwarcz, a sionista “do bem”, publica uma quantidade gigantesca de livros sobre “antirracismo”, e demais pautas identitárias, qual a grande vitória? Este é um dos aspectos muito interessantes de visitar um texto escrito há “tanto tempo”. É possível avaliar à luz da realidade o desenvolvimento concreto da questão.
Outro aspecto também muito interessante é comprovar o caráter persecutório do movimento identitário: se Sílvio Almeida é, no texto de dos Santos Rocha, um grande intelectual, que nos permite apreender o capitalismo em sua totalidade; hoje, o intelectual negro, cancelado sem qualquer chance de se defender, já não suscita mais tanta adoração no meio dos círculos intelectuais identitários. Como diria um provérbio bíblico: “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.
O autor, em seguida, buscar enfiar goela abaixo do leitor a tese de que não se deve questionar como os identitários usam a questões de identidade para diluir e dividir a esquerda:
“A falsa dicotomia entre raça e classe gera debates desgastantes, insolúveis e distópicos. Em outras palavras: mais confunde do que explica a realidade, e impõe-se como um obstáculo nas lutas sociais da classe trabalhadora. Combater todas as formas de opressão que conformam a formação e a dinâmica do capitalismo – dentre as quais as opressões racial e de gênero – é um dever de todos que lutam por uma sociedade igualitária, e pela emancipação humana.
[…]
há aqueles que simplesmente ignoram o racismo e tentam diluir a questão racial em uma ideia abstrata e homogênea de classes. Alguns chegam a acusar os movimentos negros, feministas e LGBT de divisionistas.”
Ora, sem este debate, os funcionários do governo norte-americano no meio da esquerda poderiam defender sem serem questionados assassinos monstruosos como Barack Obama e Kamala Harris. Ao buscar diminuir a necessidade do debate, Santos Rocha, inadvertidamente ou não, faz o jogo da burguesia imperialista. Trata-se de um grande espantalho, hoje, felizmente, desmascarado pelo desenvolvimento concreto da situação política global buscando calar os opositores do movimento identitário.
Neste sentido, só podemos concluir que o Seminário realizado pelo PSOL já foi superado pela própria realidade. A conclusão da matéria publicada no Esquerda Online demonstra este fato de maneira cabal:
“Neste sentido, a luta antirracista converge com a luta pelo fim da escala 6×1, pela taxação de quem ganha mais de R$ 50 mil por mês e pela isenção de impostos para quem ganha até R$ 5 mil. Contudo, mais do que conquistar direitos, lutar contra o racismo é decisivo no processo de emancipação humana.”
De fato, é preciso lutar pela diminuição da jornada de trabalho, mas sem redução salarial e com o fim de semana livre, algo não contemplado pelo movimento privado, vindo direto dos EUA, em defesa da escala flexível 4×3. A questão dos impostos é ainda mais ridícula: quem ganha cinquenta mil reais por mês é menos do que um flagelado morrendo de fome em comparação a quem de fato controla a ditadura capitalista sobre o mundo. A luta da esquerda marxista no domínio dos impostos não é contra um setor endinheirado da pequena burguesia, mas sim pelo fim da taxação sobre os salários e o fim dos impostos sobre o consumo.




