Está na moda falar “todes”. Na tentativa de serem mais inclusivas, algumas pessoas primeiramente começaram a escrever “todos e todas”, depois “tod@s”, em seguida “todxs” e agora “todes”. Isso não é algo exclusivo do Brasil, mas parte de um movimento internacional que busca utilizar “pronomes neutros” a fim de ser mais “inclusivo” usando uma linguagem que englobe não só homens e mulheres, mas toda a diversidade de gênero existente na sociedade.
Essa é uma iniciativa ridícula. Mudar a forma como nos referimos a determinado grupo não muda sua situação objetiva. Prova disso é que os EUA foram o primeiro país a instituir essas mudanças linguísticas com relação ao povo negro, fazendo campanha contra palavras como “nigga” ou “nigger” e, fundamentalmente, o povo negro nos EUA continua sendo altamente marginalizado e vivendo em uma situação absolutamente precária.
Para mudar a sua situação social, os grupos marginalizados precisam se organizar. A situação das mulheres não mudou porque alguém começou a falar “todos e todas”, mas sim porque as mulheres se organizaram e impulsionaram suas reivindicações. Na Rússia, por exemplo, havia grandes organizações femininas, as quais fizeram com que as mulheres tivessem seu direito ao divórcio reconhecido no primeiro dia após os bolcheviques terem tomado o poder, ainda em 1917.
Mudar o foco da organização política para perfumarias linguísticas é uma estratégia de despolitização do debate. Isso teve aderência sobretudo entre os universitários que, com medo de bater de frente com o sistema político e perder seus privilégios (tendo de responder a processos judiciais, arriscando perder cargos universitários e se envolver em polêmicas), iludem-se de que estão fazendo uma grande reivindicação política ao falar “todes”.
Precisamos repolitizar o debate e reforçar a importância da organização política. Enquanto o pessoal se mantiver nos seus gabinetes e baseando sua atuação apenas em autores da pequena burguesia, nada mudará. Não podemos viver de ilusões. É preciso ter preocupações práticas, sempre se perguntando: “isso vai dar certo?”. Nesse sentido, já está mais do que provado que falar “todes” não vai mudar nada.




