O artigo Combater o crime é prioridade da população brasileira, de Alberto Cantalice, publicado no Brasil 247 nesta terça-feira (4), mostra que a extrema direita petista está a cada dia mais à vontade. Já não basta ser sionista, tratar a resistência palestina como terrorista, é preciso também aproveitar o massacre que a polícia de Cláudio Castro promoveu no Rio de Janeiro para fazer demagogia.
Um aviso é preciso ser dado a esses oportunistas de plantão: não adianta se apresentarem para a burguesia como aptos para reprimir, pois a burguesia já tem seus Castros, Tarcísios etc. O que vai acontecer, é que a classe trabalhadora se afastará ainda mais e será atraída pela direita.
Enquanto as famílias brasileiras enfrentam o endividamento crescente, juros a 15%, desemprego ou subempregos, Alberto Cantalice repete o discurso de Cláudio Castro, da Globo, e diz que “combater o crime é prioridade”.
Se Cantalice quisesse mesmo combater o crime, deveria propor a auditoria da dívida pública; deveria exigir a saída de Gabriel Galípolo do Banco Central, pois os banqueiros estão tirando o couro do povo. Esses vampiros arrancam quase R$ 7 bilhões diariamente do governo e não sobra dinheiro para saúde, educação, ou quaisquer obras sociais. Não, em vez disso, Cantalice quer ir atrás do criminoso comum.
É um escárnio se afirmar que “segurança pública exige integração entre União, estados e municípios e políticas duradouras de combate às facções e defesa da vida”. Segurança pública exige o fim das desigualdades sociais, fim da concentração de renda, e esta só aumenta.
O discurso de Cantalice é idêntico ao da direita, como se lê no parágrafo que diz que “o crime, de qualquer natureza, é intolerável. Dito isso, a sensação de insegurança que assola as cidades brasileiras exige articulação entre União, estados e municípios para enfrentar a criminalidade em todas as suas variantes. Desde furtos e roubos de celulares, estupros, pedofilia, feminicídios, crimes cibernéticos, latrocínios e assassinatos, é dever das autoridades constituídas dar respostas urgentes à sociedade”.
Nota-se que Cantalice fala apenas em crimes menores, cotidianos, não coloca o dedo na ferida, no sistema financeiro. Que respostas podem ser dadas? Há duzentos anos se repete a mesma ladainha de segurança pública, os assassinatos de pessoas pela polícia cresce a cada dia, e a violência só tem aumentado. Essa conversa de integração, politicas duradouras, não passa de conversa fiada. Ninguém leva isso a sério.
Chave de cadeia
Cantalice diz que “Na maioria dos estados, tem-se optado pelo fortalecimento do policiamento ostensivo — necessário — em detrimento das investigações”. Ou seja, ele assina embaixo, diz necessário. A política desse sujeito não difere em nada da política de Cláudio Castro, não no essencial. Pode discordar em algum ponto, mas será mera perfumaria.
O articulista também considera que o policiamento ostensivo “acarretou o esvaziamento das polícias civis, resultando em baixíssima elucidação de assassinatos no Brasil”. Em que a elucidação de assassinatos vai resolver essa questão? No máximo aumentará a população carcerária, pois a causa dos crimes continua sem ser tratada.
Demagogia
Alberto Cantalice diz que há um “quadro dantesco da superlotação dos presídios, que mistura criminosos experientes com iniciantes, dando origem às facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro”. A origem de facções criminosas não se dá pela mistura de presos. Aliás, o articulista não toca no fato de que quase metade dos presos no Brasil estão nos presídios sem que tenham sido julgados. Ou seja, o Estado é que está cometendo crimes.
Os presídios no Brasil são verdadeiras máquinas de tortura, contrariam quaisquer preceitos de direitos humanos e, se fosse para se cumprir a Constituição, deveriam ser esvaziados. No Artigo 5º, inciso XLIX, está escrito que “É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.” Ainda no Artigo 5º, III, está disposto que “Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. No artigo 1º, III, vale citar, está escrito que “A República Federativa do Brasil […] tem como fundamento a dignidade da pessoa humana.”.
Se formos falar da LEP (Lei de Execuções Penais), as violações são ainda mais flagrantes. Nem de longe existe assistência ao preso para prevenir crime e orientar retorno à sociedade; assistência material (alimentação, instalações higiênicas, vestuário); alimentação suficiente e água potável; não se respeitam os direitos do preso, como integridade física, saúde, trabalho e educação; ou se observa que cada preso tem direito a cela individual, com área mínima, cama, sanitário e ventilação.
A seu favor, Cantalice diz que “a separação das chefias das facções só teve início nos governos do PT, com a criação dos cinco presídios federais hoje existentes, o que desmente as fake news da extrema-direita sobre uma suposta conivência da esquerda com criminosos”. O que não resolve nada, pois as facções e os crimes estão crescendo.
Aumento da repressão
Como solução da criminalidade, para quem acredita nisso, Cantalice diz que “a participação do governo federal precisa ser ampliada. A Polícia Federal (PF), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Força Nacional devem somar esforços com os estados no combate ao crime. Daí vêm as apreensões de armas, drogas e contrabando que abastecem o crime organizado. A conjunção de esforços, incluindo a Receita Federal, tem provocado golpes”. Também fala sobre combate à lavagem de dinheiro e outras demagogias.
Para Cantalice, “a vida das comunidades brasileiras, sob a presença ostensiva das facções, tem tornado o cotidiano dos moradores um verdadeiro inferno”. Claro, os baixos salários, a falta de transporte público, de escolas, de saúde, tudo isso fica em segundo plano. E também ninguém se incomoda com a polícia subindo o morro e atirando em todo mundo, matando moradores, seja porque alguém correu, seja por “bala perdida”.
Em vez de defender a população massacrada, Cantalice diz que “é intolerável, em qualquer circunstância, que um policial seja recebido a bala no cumprimento de seu dever”. Sim, o que tem sido tolerável é exatamente o contrário. Inúmeras pessoas sendo executadas pela polícia e está tudo certo.
Para piorar, Cantalice cita “o recente projeto sancionado pelo presidente Lula, que aumenta a pena para quem ameaçar, atirar ou agredir um agente do Estado. O Projeto de Lei Anti-Facção prevê o aumento das penas e, ao qualificar o crime de organização criminosa como hediondo, inibe a progressão de regime dos faccionados”.
Os policiais ameaçam, atiram, agridem, executam pessoas, nada disso é considerado crime hediondo, apesar de o Estado ser infinitamente mais poderoso que qualquer marginal.
Extrema direita
No penúltimo parágrafo, Cantalice aperta mais ainda o pé da repressão no pescoço dos trabalhadores, diz defender “a criação do Ministério da Segurança Pública, separado da Justiça. É preciso um organismo que foque exclusivamente na proteção dos cidadãos brasileiros”. Ou seja, uma máquina de guerra turbinada, pois o que tem aí, apesar da brutalidade, não parece suficiente.
Finalmente, o articulista afirma que “não é uma panaceia que resolverá de uma hora para outra a presença e a ramificação das organizações criminosas. Mas é um grande passo nessa direção”. Não vai resolver nunca, o discurso de Cantalice não passa de politicagem eleitoreira.
Trata-se de uma degradação a olhos vistos. A extrema direita está tomando conta do PT, e o trabalhador está se desiludindo com esse partido que tem “trabalhadores” em seu nome. Essa política não defende quem trabalha, defende o Estado burguês, defende os inimigos da classe trabalhadora.
A burguesia, os banqueiros, os verdadeiros criminosos, esses aí estão garantidos. Cantalice que ir atrás de quem está nas favelas. É uma política direitista que visa agradar à burguesia e parcelas assustadas da classe média, que se ilude acreditando que o crime se combate com aumento da repressão.




