O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta quinta-feira (18) que unidades da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) sairão dos quartéis no sábado (20) para instalar-se em bairros e cidades e treinar voluntários civis no manuseio de armamentos. Em pronunciamento transmitido pela VTV, Maduro afirmou que é a primeira vez que essa estrutura militar se desloca diretamente às comunidades, medida que, segundo o governo, responde à escalada de operações norte-americanas no Caribe desde o início de setembro.
O anúncio vem na esteira de exercícios militares na ilha de La Orchila, a 65 km da costa venezuelana, resposta ao deslocamento de oito navios de guerra e de 10 caças F-35 pelos Estados Unidos para a região. Em três semanas, Washington reconheceu ataques contra três embarcações sob a justificativa de combate ao narcotráfico — ações que, segundo Caracas, deixaram ao menos 14 mortos. Na terça-feira (16), o presidente norte-americano Donald Trump declarou a jornalistas em Washington: “vocês só sabem de duas, mas na realidade foram 3”, sem detalhar local, data ou vítimas da terceira ofensiva. Os dois episódios já admitidos ocorreram em 2 de setembro (11 mortos) e foram anunciados em 15 de setembro (3 mortos), este último apontado pelos EUA como envolvendo barco de origem venezuelana. No fim de agosto, a Casa Branca ofereceu recompensa de US$50 milhões pela captura de Maduro.
Na Análise Política da Semana deste sábado (20), Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO) comentou sobre a decisão do governo Maduro:
“Isso mostra porque nós temos que apoiar a Venezuela. Nessa altura dos acontecimentos, é uma luta revolucionária contra o imperialismo. Não podemos ter dúvida nenhuma disso”, afirmou.
Venezuela leva denúncia ao Conselho de Segurança da ONU
Na sexta-feira (19), a Venezuela solicitou ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que exija o fim imediato das ações militares dos EUA no mar do Caribe. O embaixador Alexander Yánez afirmou que o país é alvo de uma política sistemática de hostilidades, iniciada com medidas coercitivas unilaterais e campanhas de descrédito contra as instituições legítimas venezuelanas, agora acompanhadas do reforço de forças navais, aéreas e terrestres, “incluindo um submarino nuclear”.
O chanceler Yván Gil, por seu canal de Telegram, declarou: “Venezuela, em nome do Presidente Nicolás Maduro, faz um chamado ao Conselho de Segurança da ONU para que se exija o cesse imediato das ações militares de Estados Unidos no mar Caribe”. Segundo ele, “os próprios oficiais dos EUA asseguram que estas ações resultaram em assassinatos extrajudiciais de civis, com a intenção de semear terror em nossos pescadores e em nosso povo”. Gil reiterou que é “fundamental que se respeite a soberania política e territorial da Venezuela e de toda a região caribenha”.
Maioria nos EUA rejeita uma invasão à Venezuela
Apesar do incremento militar, levantamento da YouGov realizado entre 5 e 8 de setembro indica que 62% dos norte-americanos se opõem ao uso de força para uma invasão à Venezuela. Entre democratas, o índice de rejeição chega a 74%; entre independentes, 63%; entre republicanos, 48% se opõem, 31% apoiam e o restante não soube responder. No mesmo período, o Comando Sul informou a realização de simulações de desembarque anfíbio em Porto Rico, enquanto Caracas lançou a manobra “Caribe Soberano 200” no entorno de La Orchila e outras ilhas, qualificada pelo governo como preparação “frente à ameaça militar de Estados Unidos contra a Venezuela, o Caribe e a América Latina”.
Google retira do ar o canal de YouTube de Maduro
Em meio à escalada, a plataforma YouTube, da Google (Alphabet Inc.), retirou do ar nesta sexta-feira o canal oficial de Nicolás Maduro, que tinha mais de 233 mil inscritos. Ao acessar, aparece a mensagem: “esta página não está disponível”. O canal era usado para difundir mensagens institucionais e pronunciamentos de interesse público.
O bloqueio ocorre dias depois de Maduro ter responsabilizado os Estados Unidos, em coletiva com 47 meios internacionais e 170 representações diplomáticas, por violações ao direito internacional com o trânsito de navios em zonas econômicas exclusivas na região — o que o governo venezuelano descreve como parte de uma tentativa de mudança de governo.
EUA reativam estrutura militar em Porto Rico
A antiga base naval de Roosevelt Roads, em Ceiba, Porto Rico, desativada em 2004 após mais de seis décadas de operações, voltou a receber aeronaves militares. Caças F-35 do 225º Esquadrão de Ataque pousaram na pista do aeroporto regional José Aponte de la Torre, que utiliza a infraestrutura do antigo complexo.
Segundo o Departamento de Defesa, as aeronaves estão “prontas para enfrentar os cartéis”. Para o governo venezuelano, a movimentação, somada à presença de uma frota no Caribe e a exercícios anfíbios, confirma a ampliação da postura de pressão de Washington e reforça a necessidade do treinamento armado do povo, anunciado por Maduro para começar no sábado (20).




