Estudantes do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas realizaram um protesto nessa segunda-feira (14) denunciando perseguições políticas e o rompimento do convênio entre a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e o programa, o que ameaça diretamente a permanência de alunos e professores vinculados à universidade.
O programa é realizado em consórcio entre a PUC-SP, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo Isabela Reis, estudante da PUC-SP, a decisão de encerrar o convênio partiu da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da universidade.
“A nossa reivindicação é para a retomada deste convênio, por ter uma importância acadêmica”, afirmou.
O fim do acordo coloca em risco vagas e bolsas de estudantes.
Contudo, os estudantes denunciam que a decisão vai além de uma questão administrativa. “A gente vê essa perseguição política desde o ano passado”, declarou Isabela, referindo-se a uma série de episódios que, segundo ela, indicam hostilidade institucional. Um dos casos citados foi a acusação de “antissemitismo” contra o Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI). “Os professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman foram chamados para depor pela Fundação [São Paulo]”, relatou.
A estudante ainda destacou que os ataques se intensificaram nos últimos meses, mencionando pichações encontradas nos banheiros da universidade com mensagens como “as palestinas morrem”. Para ela, esses atos estão diretamente relacionados ao posicionamento crítico do programa San Tiago Dantas em relação ao genocídio no Oriente Médio. “É um pouco um ataque ao Dantas, ao posicionamento do Dantas pela Palestina, de denunciar o que está acontecendo ali naquela região.”
Isabela também criticou o que considera uma aproximação da universidade com grupos sionistas.
“Há um tempo tem se alinhado com o sionismo, tem tido esse posicionamento. A gente vê atualmente uma perseguição internacional […] os estudantes estão sofrendo perseguição por se posicionarem, e aqui a gente não vê uma realidade muito diferente.”
Apesar dos argumentos financeiros apresentados pela Fundasp, os estudantes apontam que o custo do convênio é baixo e que o curso de relações internacionais é um dos mais lucrativos da PUC-SP. Segundo a reportagem da Sputnik Brasil, a universidade adotou recentemente uma nova definição de “antissemitismo”, promovida por entidades estrangeiras, que amplia as possibilidades de punição a críticas ao “Estado de Israel” — o que, segundo os estudantes, tem servido como instrumento de repressão política.
PUC-SP intensifica perseguições políticas sob pretexto de combater “antissemitismo”
Nos últimos meses, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) tornou-se palco de denúncias e sindicâncias contra alunos e professores, sob acusações de “antissemitismo”. Tais acusações, no entanto, têm sido denunciadas por estudantes e docentes como instrumentos para silenciar críticas legítimas ao sionismo e às ações do Estado de “Israel”.
Casos semelhantes já haviam ocorrido anteriormente, como quando militantes do Partido da Causa Operária (PCO) foram alvo de denúncias por distribuir panfletos em frente à universidade denunciando o genocídio contra o povo palestino. Agora, a situação se intensificou com a abertura de processos contra professores como Reginaldo Nasser e Bruno Huberman — este último, inclusive, judeu — sob alegações de “discurso de ódio”, em razão de publicações do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais (GECI), que abordavam criticamente o papel de Israel na guerra em Gaza.
Nasser classificou as acusações como resultado de pressões internacionais articuladas por entidades ligadas ao Estado de “Israel”, que visam impedir o debate sobre o genocídio em curso. Huberman, por sua vez, defendeu que criticar o sionismo não pode ser confundido com “antissemitismo”. “Estamos sendo censurados”, afirmou.
O ambiente na universidade tornou-se ainda mais tenso após o início da Operação Dilúvio de Al-Aqsa, em outubro de 2023. Denúncias promovidas por estudantes pró-“Israel” motivaram investigações rápidas por parte da Fundação São Paulo (Fundasp). Em contrapartida, estudantes palestinos relataram terem sido vítimas de intimidação e ameaças.
As sindicâncias na PUC-SP provocaram reações até mesmo no plano internacional. Paulo Sérgio Pinheiro, ex-relator da ONU para os Direitos Humanos, enviou carta à Fundasp criticando o uso do “antissemitismo” para punir análises acadêmicas, classificando as acusações como “demagógicas”.
Perseguição nas universidades: estudantes da USP foram processados por manifestação em apoio à Palestina
O episódio se insere em um cenário mais amplo de repressão à defesa da Palestina nas universidades brasileiras. Na Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, quatro estudantes são investigados em processo sigiloso por suposto “antissemitismo”. Em resposta, 235 professores assinaram carta denunciando a tentativa de calar críticas ao sionismo.
Em 2023, cinco estudantes da Universidade de São Paulo (USP) foram alvo de um Processo Administrativo-Disciplinar (PAD) após a divulgação de um informe sobre a situação humanitária na Faixa de Gaza, apresentado durante a greve estudantil daquele ano. A declaração ocorreu durante uma assembleia do Curso de Ciências Moleculares (CCM), que havia recebido representantes do movimento Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP) para uma fala-denúncia sobre a ocupação israelense na região.
A moção, apresentada em novembro de 2023, descrevia o Estado de “Israel” como praticante de “uma política de genocídio fascista, colonialista e racista” contra os palestinos e classificava os eventos do 7 de outubro como “uma ofensiva histórica contra o colonialismo israelense”. Três dos cinco estudantes processados eram vinculados ao CCM.
O PAD foi instaurado pela Pró-Reitoria de Graduação da USP sem a abertura de sindicância prévia. Conforme relatado pelos estudantes e seus representantes, os documentos da acusação foram encaminhados diretamente à Procuradoria Geral da universidade, o que acelerou a abertura do processo. O procedimento disciplinar correu sob sigilo e baseou-se em artigos do regimento disciplinar da USP elaborados durante a Ditadura Militar, alguns dos quais já haviam sido considerados inconstitucionais pela própria PG-USP.
Entre as infrações imputadas aos estudantes estavam acusações genéricas, como “praticar ato atentatório à moral ou aos bons costumes” e “promover manifestação ou propaganda de caráter político-partidário”.
Perseguição política vai além das universidades e atinge o PCO por sua defesa da causa palestina
A onda de perseguições políticas contra a defesa da Palestina não se limita ao ambiente universitário. O Partido da Causa Operária (PCO), organização política legalmente constituída no Brasil, também tem sido alvo de processos, censura e bloqueios em plataformas digitais. O motivo alegado é o suposto apoio a “grupos extremistas”, uma justificativa vaga que, na prática, penaliza a solidariedade com a resistência palestina.