Brasil

Calar os críticos não salvará o governo

Colunista do 247 não quer que o governo seja criticado, pois isso poderia acabar com a "frente ampla"

No dia 17 de janeiro, foi publicado no portal Brasil 247 uma coluna de autoria de Denise Assis, com o título Não está sendo fácil! Não está sendo fáciuuuu!, na qual a jornalista tenta criticar a carta aberta de Antônio Carlos “Kakay”, que, por sua vez, criticava um suposto isolamento de Lula em relação aos políticos e amigos, o que estaria levando o governo a uma derrota nas eleições de 2026.

O artigo de Denise critica principalmente a crítica. É uma tentativa de impedir o debate sobre os rumos do governo, apostando em uma suposta infalibilidade de Lula.

Assis começa por dizer que Kakay teria agido sem pensar, principalmente por conta do estágio político atual, na qual Lula estaria perdendo apoio popular: “Tivesse ele tomado um uísque ou um banho frio, e a teria (a carta) deletado. Talvez a onda de calor tenha fervido os miolos de Kakay, a ponto de abrir num momento em que pesquisas apontam queda na popularidade do presidente, uma dissidência entre os seus colegas de grupo.”.

A posição de Denise, ao invés de ajudar Lula, o leva para o abismo. Não seria correto, no momento de maior dificuldade do governo, que aqueles que percebem uma política errada e que está condenando Lula ao fracasso avisassem o presidente? Seria melhor que deixassem o governo cair sozinho?

Pode o leitor argumentar, no entanto, que a crítica poderia não ter sido feita abertamente, mas sim a portas fechadas. No entanto, o conteúdo da carta de Kakay, mesmo que possivelmente equivocado, revela que o advogado não consegue contato com o presidente, o que impossibilitaria a crítica. Além disso, a política da esquerda é uma política que precisa ser feita abertamente, para que a população possa participar do debate.

A crença de que a política deve ser feita em pequenas reuniões revela as ilusões da pequena-burguesia que se crê a própria burguesia. Para a burguesia, é normal a política sem contato com o povo, considerado por ela incapaz e perigoso. No entanto, o governo Lula não é um governo da burguesia e precisa do apoio ativo da população para poder agir; caso contrário, o resultado será mesmo o que é posto na carta de Kakay.

Caso não haja críticas abertas ao governo e cada pessoa guarde para si sua opinião, a própria burguesia, que é quem domina a política de bastidores, é quem vai dizer a Lula qual deve ser o rumo de seu governo, e o levará ao desastre.

No entanto, para Assis, talvez o desejo seja mesmo o de que a burguesia controle o governo de Lula, visto o que está escrito na continuação da carta:

Ninguém ignora que Lula pegou o país nos escombros, e totalmente desmoralizado do ponto de vista das relações internacionais. Mal acabou de ser eleito, ainda mesmo antes da posse e o presidente já precisou arrumar as malas e rumar para a COP-27, realizada de 6 a 20 de novembro de 2022, na cidade de Sharm El-Sheikh, no Egito. Oportunidade única para começar a refazer laços e costuras esgarçadas por Bolsonaro e os seus chanceleres amestrados. Além de ser uma etapa crucial nas negociações globais sobre o clima, tema caro ao país que detém nada menos que a Amazônia, com um foco renovado em financiamento climático, perdas e danos e o avanço das metas do Acordo de Paris.

Depois dessa se seguiram muitas outras agendas indispensáveis, como encontros com Joe Biden, na condição de chefe de Estado e outras, que deram visibilidade ao país e ao presidente que chegava num país demolido, a ponto de não ter nos cofres, recursos para quitar a folha de pagamento no primeiro mês.

Ou seja, os aliados de Lula não podem criticar Lula, pois ele estaria fazendo tudo corretamente. O problema é que o que Lula está fazendo, segundo o texto de Denise, é justamente se sentar à mesa com a burguesia, não só a burguesia nacional, mas a burguesia imperialista, para decidir os rumos do governo. A “reconstrução” da imagem do Brasil seriam as reuniões com os genocidas da Faixa de Gaza, os genocidas que empurraram a Ucrânia em uma guerra contra a Rússia, que estão levando o mundo para uma guerra sem precedentes na história e que são inimigos declarados do desenvolvimento do Brasil, impedindo que nós exploremos nossos recursos naturais com base em argumentos como o das “mudanças climáticas”.

A solução de Assis, portanto, é a de deixar tudo como está. Deixar que Lula sofra a pressão da direita, do imperialismo e dos inimigos do povo brasileiro, para ver se com isso é possível conseguir vencer as eleições no ano que vem e, com isso, continuar com a mesma política para ver se a burguesia permite uma vitória nas eleições seguintes e assim sucessivamente.

Denise, mais para a frente, continua: “para agravar ainda mais, São Pedro resolveu brigar com o Rio Grande do Sul, levando praticamente todos os ministros e o presidente para lá, por dias a fio”.

O trecho é um dos mais absurdos dos últimos anos no jornalismo brasileiro. São Pedro foi quem deixou de fazer obras para a contenção do Rio Guaíba? São Pedro foi quem destruiu a estrutura existente do rio? Ou será que a culpa, ao invés de cair no santo, deveria cair na direita que governo por anos o Rio Grande do Sul e deixou que o estado fosse destruído em benefício dos bancos?

Aqui se revela toda a preocupação com a crítica: caso ela seja feita, não é Lula que corre o risco de perder as eleições no próximo ano, já que muitas das críticas nem mesmo precisariam ser feitas, já que o povo não é tão burro quanto a pequena-burguesia pensa e perceberia a política errada do governo mais cedo ou mais tarde, com ou sem críticas de Kakay. O medo é o de que a crítica possa afetar a chamada “frente ampla”, a aliança do governo com a burguesia, aliança que prende o governo a uma política contra os interesses do povo brasileiro.

É necessário, segundo o texto, criticar o maligno Roberto Campos Neto, que já não está no controle do Banco Central, enquanto se louva a política atual, que é a mesma de Campos Neto, pela queda do dólar, como vemos no trecho abaixo:

Enquanto isso, a economia estrangulada pelo “arcabouço fiscal”, obedecia às ordens do czar do Banco Central, Roberto Campos, que impulsionava o dólar para a estratosfera. Ou o dólar não baixou depois da sua saída do cargo?

Seria necessário que Denise explicasse a mágica de Galípolo à frente do BC, já que, sem fazer nada, aparentemente, apenas por manter a política anterior, a de Campos Neto, conseguiu fazer o dólar cair. Talvez a culpa não fosse exatamente de Campos Neto, mas de São Pedro.

É preciso parar com a tentativa de censurar a crítica. Só assim será possível escutar o que pensam todas as classes sociais no Brasil. Às claras, ficará mais fácil identificar qual o caminho correto a se tomar, ainda que isso resulte no fim da culpa dos santos católicos e no fim da frente ampla, o que, francamente, seria também o melhor para o povo brasileiro.

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