Alguns setores da esquerda transformaram seus sítios em verdadeiras páginas policiais. Um exemplo disso é o artigo PL: uma semana sob cerco, publicado no Revista Movimento nesta sexta-feira (19). O texto não passa de propaganda da Polícia Federal e do STF, que momentaneamente tem concentrado suas ações contra partidos e elementos da extrema direita. Desta vez, Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy.
O artigo principia dizendo que “a semana foi particularmente dura para o Partido Liberal (PL) no Congresso Nacional. Em poucos dias, a legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro viu seus principais quadros se tornarem alvo de operações da Polícia Federal, apreensão de dinheiro em espécie, cassações de mandato e decisões judiciais que aprofundam o cerco institucional ao bolsonarismo e às práticas antidemocráticas que marcaram os últimos anos”.
Como este Diário escreveu recentemente, Sóstenes Cavalcante classificou a investigação como perseguição política e afirmou que a ação faz parte de uma ofensiva mais ampla contra a direita. Em entrevista, declarou que o inquérito “não tem nexo nenhum” e sugeriu motivação política no fato de a operação ocorrer poucos dias após o senador Flávio Bolsonaro lançar-se pré-candidato à Presidência da República. “Eles querem extirpar a força que a direita e os conservadores têm”, afirmou.
Qualquer partido de esquerda que se preze deveria saber que não existe isso de combate ao crime, ou à corrupção; são sempre interesses. Quando alguém é acusado, sempre há uma motivação política.
“Noticiando”
O texto vai narrando os fatos, como em qualquer jornal da grande imprensa. Avisa que “na manhã desta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Galho Fraco, que teve como alvos os deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, e Carlos Jordy (PL-RJ). A ação investiga um esquema de desvio de recursos públicos da cota parlamentar, com apuração de crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo a PF, ‘agentes políticos, servidores comissionados e particulares teriam atuado de forma coordenada para o desvio e posterior ocultação de verba pública’”.
No artigo segue a seguinte descrição dos investigados: “Sóstenes e Jordy são figuras centrais da ala mais radical do PL. Ambos atuaram ativamente contra o Supremo Tribunal Federal, defenderam pautas golpistas após o resultado das eleições de 2022, atacaram o sistema eleitoral e se alinharam à tentativa de deslegitimação da democracia brasileira. Jordy, em especial, ficou conhecido por discursos agressivos contra ministros do STF e pela defesa de medidas autoritárias sob o pretexto de ‘liberdade de expressão’”.
Nada do que está escrito aí corresponde a algum tipo de crime. Curiosamente, são elementos da direita que estão defendendo, ainda que demagogicamente, a liberdade de expressão, uma bandeira história da esquerda que foi abandonada pelos setores pequeno-burgueses, que vivem a reboque do imperialismo e, consequentemente, do STF, que vem tolhendo esse direito garantido na Constituição.
A Revista Movimento deveria pelo menos explicar no que consiste a “democracia brasileira”, dado que o Supremo está usurpando as atribuições do Congresso e até mesmo do Executivo. Que democracia é essa em que não se pode questionar o sistema eleitoral, e não se pode fazer “discursos agressivos”?
Enquanto defende o Supremo e Polícia, o artigo diz que “Carlos Jordy reagiu com a retórica já conhecida da extrema direita, acusando o Judiciário de perseguição”. Por acaso a Revista Movimento não acredita em perseguição judicial?
Cassações
O texto diz que “o desgaste do PL, no entanto, não se restringiu à operação policial. A semana também foi marcada pelo avanço das cassações de parlamentares ligados à trama golpista. Os ex-deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Carla Zambelli (PL-SP) tiveram seus mandatos encerrados e estão inelegíveis, em razão de condenações criminais definitivas decididas pelo Supremo Tribunal Federal”. Bela democracia, em que o Judiciário cassa mandatos de parlamentares.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também perdeu seu mandato. “Para a deputada estadual Luciana Genro (PSOL-RS), o momento representa um marco na responsabilização institucional do golpismo”.
Assim como descreveu Sóstenes e Jordy, o artigo deveria ter apresentado Luciana Genro como a deputada que golpista que defendeu a criminosa operação Lava Jato.
Segundo a deputada, “Hoje a Câmara reconhece que quem atenta contra a democracia não pode seguir representando o povo brasileiro. A cassação de mandatos de parlamentares ligados ao golpismo é um passo necessário para romper com a normalização do autoritarismo na política institucional”. E acrescenta “Seguimos em luta até que todos os golpistas respondam pelos seus crimes, sem anistia ou redução de pena!”.
Todos os golpistas? Isso inclui quem apoiou as “investigações” de Sérgio Moro, também aqueles que votaram pela prisão de Lula. Mas, claro, a nobre deputada não está falando do golpe de 2016, melhor varrer para debaixo do tapete.
Farsa
Esse artigo da Revista Movimento é uma farsa, pois tenta enganar o leitor de que existe combate à corrupção, o mesmo que sustentaram na Lava Jato. Mas isso simplesmente não existe.
Conforme pontuou Rui Costa Pimenta, dirigente nacional do PCO, em sua tradicional Análise Política da Semana no último sábado (20), não existe nenhum combate ao fascismo, pois é “absolutamente evidente” a existência de um acordo entre o STF, o governo Lula e o governo norte-americano de Donald Trump. O que está em jogo? Evitar sanções da Lei Magnitsky contra os ministros em troca da redução da pena de Bolsonaro.
Na semana passada, Renan Calheiros disse que havia um acordo. O senador Alessandro Vieira afirmou que Alexandre de Moraes orientou ele mesmo a redação do texto da “dosimetria”. Se houvesse uma luta verdadeira, como Pimenta explicou, o tal acordo seria impossível. No entanto, a coisa vai acabando em “pizza”.





